2021 foi um ano de homenagem à ícone da música cabo-verdiana, Cesária Évora. Se estivesse viva, a “Diva dos Pés Descalços”, como se tornou conhecida, completaria 80 anos de idade e dez desde o seu falecimento em 2011. Para assinalar a data, a editora Rosa de Porcelana decidiu homenagear Cesária Évora com a apresentação da versão em português da sua biografia e vários concertos.
O livro escrito originariamente em polaco, por Elzbieta Sieradzinska, amiga de longa data de Cesária Évora, possui 439 páginas. A obra não descreve propriamente uma história cronológica, ou seja, desde o nascimento até a morte da cantora, mas vai além do palco e permite descobrir um pouco mais da intimidade e personalidade da malograda.
“Esta não é uma história linear do nascimento até a morte da artista, embora, obviamente, eu tenha mantido a cronologia da carreira musical da ‘Diva dos Pés Descalços’. Mas, se o leitor quiser segui-la até seus lugares favoritos em Paris, procurar com ela uma roupa nova para um show ou jantar tarde, após uma entrevista na TV, então pode consultar capítulos separados”, explica Elzbieta Sieradzinska, autora da biografia.
Na verdade, Sieradzinska conta à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA que escreveu o livro depois de ter sido consultada pelo editor-chefe da editora polaca “Marginesy”, que manifestou o interesse em publicar uma biografia sobre Cesária Évora, dada a paixão dos polacos pela diva cabo-verdiana.
A romancista Elzbieta Sieradzinska foi escolhida pela editora polaca, pelo facto de ser uma grande amiga de Cesária Évora e porque reúne dezenas de artigos sobre a cantora, desde livros, entrevistas, souvenirs (recordações) e 94 GB de materiais sobre a falecida, além de ter acompanhado mais de cem shows ao vivo.
“Assisti mais de cem shows ao vivo, eu tenho um verdadeiro arquivo em casa. Além disso, dezenas de horas passadas juntas, no camarim, nos bastidores, durante as entrevistas, em casa, na rua, durante as refeições, entre outros locais”, explica.
A também tradutora e bibliotecária, ressalta que escrever uma biografia sobre Cesária Évora reveste-se de grande importância, principalmente pelo facto de ser um livro que ficará registado para sempre e que servirá também de consulta para as próximas gerações. “Os valores artísticos e culturais da produção de Cesária Évora, de sua contribuição para a história da música, mas também para a história de Cabo Verde e da África lusófona são inegáveis, pelo que, é óbvio que devem ser cultivados e promovidos”, refere.
Para a escritora, um livro tem tanto valor quanto uma música, filme, fotografia ou até mesmo pintura. “Cesária uma vez disse-me que a vida dela não é importante, só a sua música, as suas canções. O livro sobre ela, enfim, não necessariamente”, lembra e defende, “se queremos que Cesária viva, através da nossa memória, vamos ouvi-la, vê-la e ler sobre ela”. Ou talvez, algum dia, alguém faça também um filme de ficção?
Enquanto amiga, Elzbieta Sieradzinska tem dificuldade em caracterizar Césaria Évora, mas descreve a artista como uma pessoa totalmente sincera [“oh, às vezes doía!”], autêntica e natural, justa, com um grande coração. Mas também teimosa, em alguns aspectos, inflexível e muito forte.
“Cesária era extremamente modesta, cuidava de todos ao seu redor. Uma verdadeira mamãe. Aberta, compreensiva, inteligente. Em conversas confidenciais, ela era capaz de entender o problema com precisão e da mesma maneira propor uma solução. Alegre e também aberta à piada”, disse.
A primeira tradução em língua portuguesa foi escrita pelo professor Wlodzimierz Szymaniak, através de uma bolsa de tradução atribuída à Rosa de Porcelana Editora pela direcção do Livro na Polónia. “Qualquer editora, seja de que porte for, mormente Rosa de Porcelana Editora, estaria interessada numa biografia da Cesária Évora, diva maior da música cabo-verdiana e um dos expoentes culturais da África”, diz Filinto Elísio, director da editora Rosa de Porcelana.
Neste momento, a versão em português está a ser apresentada em vários países como uma homenagem a Césaria Évora, tendo sido já feita [a apresentação] em países como Cabo Verde, Portugal (Lisboa) e na cidade de Paris, em França.
(Artigo completo na edição impressa, Outubro-Novembro de 2021, da Forbes África Lusófona)