Kady Baldé nasceu numa pequena vila designada K-3, na região de Farim, uma zona um pouco a Norte da Guiné-Bissau, em 5 de Maio de 1986. Ali nasceu e viveu até aos seus 12 anos, um período de que guarda memórias pouco boas. Desde a partida do pai, Mussa Baldé, que emigrou para Portugal em busca de melhores condições de vida, e de seguida a mãe, Cristina João Abílio, que teve de seguir com a irmã, Cumba Baldé, para o mesmo fim, deixando Kady, com apenas 2 anos, ao cuidado dos tios.
“Não fui maltratada, porque era uma sobrinha, era uma pessoa da família, mas sentia-me como uma menina de criação, pois estava com pessoas que não tinham obrigação alguma para comigo. A minha vida era trabalhar, a minha companhia era o milho e os meus amigos imaginários.”
Kady guarda na memória que no meio dos seus muitos afazeres, como limpar a casa, ir buscar lenha, espantar os macacos para não comerem a lavoura, também colhia milho. Fazia do milho a sua boneca de brincar, usava as espigas para trançar e com o milho tagarelava.
Em 1999, volvidos 12 anos, Mussa Baldé volta a Farim e resolve levar a sua filha para Portugal, e assim inicia uma nova página na vida de Kady. Com a ajuda da família, formou-se em Artes e Design em Portugal, em 2004, mas enveredou para o caminho dos seus sonhos, como cabeleireira. O sonho de Kady, como a própria diz: “Serei a melhor de Portugal, mas no cabelo, e quero trabalhar com cabelo ocidental.”
Fez um curso que teve a duração de 3 anos e seguiu rumo às oportunidades de emprego. Iniciou um estágio em 2007 no reconhecido Sanjam, onde Kady se sentia quase invisível. Começou por varrer o chão, lavar cabeças, cortar o cabelo às crianças e finalmente fazer o colorismo supervisionado. A profissional acredita que foi sempre muito boa e dedicada no que fazia, no entanto tinha de provar 10 vezes mais do que um caucasiano que era boa no que fazia. Sempre foi um desafio, e no processo foi cultivando a sua carteira de clientes. E foi do cuidado com os clientes que surgiu a primeira oportunidade em participar no concurso nacional Trend Vision, da Wella.
Angel Diez, a quem Kady trata por seu anjo, era o profissional que de 3 em 3 meses visitava o salão para dar formação, e formulou o convite para participar no concurso de cabeleireiros, cujo vencedor iria representar Portugal no estrangeiro. Kady participou duas vezes com modelos caucasianas, mas foi pela terceira e última vez, com uma modelo africana, que conquistou o 1.º lugar.
“O portefólio dos nomes sonantes da indústria da moda tornou-se imenso para a menina da Tabanka K-3″
Em 2014 foi para Espanha representar Portugal e, num universo de 88 países, Kady conquistou o 3.º lugar. Em 2015, no evento, conheceu pessoas do mundo da cosmética, fez contactos e recebeu o convite de Jean Fernand Alvarez para trabalhar com ele em Paris. O grande profissional reconheceu o talento e quis tê-la por perto. Sem pensar muito, Kady aceitou o desafio e voou rumo a Paris. Já que o sentimento em Portugal não era o mais adocicado frente a tantos desafios inglórios. Neste processo de vida, toda a sua família já se havia mudado para França, e Kady tinha ficado em Portugal, sozinha e determinada no seu sonho e potencial.
E foi com esta primeira viagem a Paris que as portas se abriram e o talento de Kady foi conhecido e reconhecido pelos grandes profissionais da indústria de cabelos e das grandes griffes de moda.
Enquanto trabalhava, profissionalizou-se também no corte de homem especializado, e em simultâneo aprendeu francês. Paris foi só o início de uma jornada. Depois de uma relação profissional com Jean Fernand Alvarez que durou 5 anos, Kady recebeu um convite para um cabeleiro em Miami, nos EUA. Deixa o conforto parisiense dos croissants matinais e as deslocações em bicicleta, e vai para a zona tropical e turística americana. No entanto, a covid-19 interrompeu esta experiência, fazendo parar o mundo e obrigando o regresso de Kady a Paris.
Outros mundos
Naomi Campbell, a supermodelo e actriz britânica, foi o primeiro dos grandes nomes a ser penteado por Kady, numa campanha de MacQueen em 2023. No entanto, Kady já participava nos shows de Valentino durante as Fashion Weeks de Milão, Paris e Nova Iorque e muitos outros desfiles fora de época que iam tendo lugar em vários cantos do mundo.
Adut Akech, a modelo sudanesa e cara de Valentino, é outra das clientes exclusivas de Kady, assim como Yseult Onguenet, cantora, compositora e modelo francesa.
O portefólio dos nomes sonantes da indústria da moda, do desporto, cinema e televisão tornou-se imenso para a menina da Tabanka K-3, do Sul da Guiné.
Em 2021, Kady voltou às suas origens, por necessidade profissional. Viu-se obrigada a aperfeiçoar a técnica de trançar e fazer penteados africanos, por lá esteve até concluir o seu propósito, e foi assim que conheceu também a capital do seu país, Bissau. Regressando a Paris, o ritmo de trabalho só acelerou, uma vez que as solicitações já existiam.
Kady participou na icónica revista Vogue fotografada por Steve Meisel, que juntou numa só capa 40 das caras femininas mais proeminentes dos EUA, entre elas a tenista Serena Willians. Nesse mesmo espaço, o dia foi marcado pelo vídeo que Oprah Winfrey gravou com Kady com uma dedicatória para a sua mãe.
Apesar de o seu profissionalismo estar provado e reconhecido no seu meio, o seu sonho foi para além do desejado, ultrapassou a fronteira de Portugal, e hoje é uma cidadã do mundo.
Integra a equipa principal do britânico Guido Palau, um dos nomes mais sonantes da indústria de cabeleireiros, trabalhando com marcas como Prada, Balenciaga, Marc Jacobs , Ralph Lauren , Saint Laurent, Versace e, mais recentemente, é o nome por trás da primeira linha capilar da Zara.
Em 2018, Kady criou a sua marca de cabelos, a Hairdyja, focada em produzir perucas personalizadas, sob encomenda, de todas as formas e feitios, para todo o tipo de pessoas. No entanto, o seu público-alvo tem sido, na sua maioria, dentro da indústria da moda. A empreendedora tenciona agregar produtos diversos de cabelo à sua marca, mas ainda estão numa fase de teste e escolha do melhor, para melhor servir.





