Durante o Forbes Annual Summit Angola 2024, Inês Filipe, Presidente do Conselho de Administração da KPMG Angola, apresentou os resultados do estudo Global CEO Outlook 2024. Este relatório, que celebra a sua 10ª edição, pela primeira vez incluiu um foco em África, incorporando as visões de 1.325 CEO globais, dos quais cerca de 140 líderes de empresas africanas.
De acordo com o estudo, 53% dos CEO africanos acreditam que a economia global continuará a crescer, enquanto 61% esperam um crescimento económico nos países onde operam. Apesar de desafios como a inflação e tensões geopolíticas, os líderes veem em África um continente repleto de oportunidades, impulsionado pela transição energética global, pela riqueza de recursos naturais e pelo potencial de uma força de trabalho jovem e numerosa.
Principais riscos e prioridades
Neste estudo, os riscos mais apontados pelos CEO africanos incluem: riscos operacionais (17%); cibersegurança (14%); e inflação (13%). A inflação, em particular, preocupa os investidores externos, que demonstram hesitação em relação aos mercados africanos, alertou Inês Filipe.
Para mitigar esses riscos, os CEO destacam a otimização de processos (19%) para enfrentar a inflação e os custos elevados; o crescimento orgânico (16%) das organizações; e a implementação de IA generativa (16%) para racionalizar processos e aprimorar competências da força de trabalho.
Investimentos tecnológicos e o papel da IA generativa
A inteligência artificial (IA) emerge como uma prioridade estratégica, com 54% dos CEO africanos a planear investir em IA generativa, independentemente das condições macroeconómicas. Essa tecnologia é vista como essencial para melhorar competências, racionalizar processos e enfrentar o aumento dos custos de produção.
Contudo, a adoção da IA traz preocupações: 51% dos CEO destacam a necessidade de tratar primeiro o risco da cibersegurança, reconhecendo que ataques cibernéticos podem comprometer o avanço tecnológico. Além disso, 77% dos líderes consideram que a implementação da IA deve ser gerida com cuidado, devido aos desafios éticos associados.

Outro ponto relevante é a lacuna de conhecimentos técnicos, com 60% dos CEO a afirmar que a falta de competências entre os colaboradores é uma barreira à implementação da IA. Apesar disso, a maioria acredita que a IA não causará grandes disrupções no número de empregados: 81% preveem que, nos próximos três anos, o foco estará na troca de colaboradores sem as competências necessárias por aqueles que as possuem, em vez de reduções líquidas na força de trabalho.
Capacitação e retenção de talento
O talento foi o segundo tema mais citado pelos CEO africanos. Na análise da KPMG, 63% dos líderes concordam que o investimento na capacitação de colaboradores deve ser uma prioridade de longo prazo. Essa estratégia torna-se ainda mais relevante num continente onde se estima que, até 2050, 800 milhões de jovens entrem no mercado de trabalho.
Entretanto, 64% dos CEO manifestam preocupação com a migração de trabalhadores qualificados para mercados mais atrativos, especialmente devido a condições de trabalho e remuneração. Este cenário exige que as empresas africanas desenvolvam estratégias robustas para atrair e reter talentos, enquanto promovem um ambiente de trabalho que equilibre flexibilidade e colaboração presencial, indica Inês Filipe.
ESG: a sustentabilidade como vantagem competitiva
Questões ambientais, sociais e de governança (ESG) também figuram entre as prioridades dos CEO africanos: 42% consideram que as suas organizações têm as competências necessárias para cumprir os requisitos ESG, enquanto 37% afirmam que estas práticas foram adotadas devido à pressão dos acionistas.

Para muitos, o alinhamento com estratégias ESG não é apenas uma resposta a exigências externas, mas também uma oportunidade: 31% dos líderes acreditam que práticas ESG aumentam a capacidade de atrair talentos, especialmente entre os jovens que valorizam o compromisso das empresas com a sustentabilidade.
Quanto ao retorno sobre investimentos em ESG, a maioria dos CEO estima que ele ocorrerá entre três e cinco anos. Ainda assim, mais de 30% dos líderes afirmam que os seus acionistas estão a avançar mais rapidamente do que as próprias organizações na implementação destas estratégias.