Durante um encontro com enfermeiros em Maputo, o ministro da Saúde de Moçambique, Ussene Isse, foi directo: “Rouba-se muito medicamento nos hospitais do país, tudo desaparece em menos de 15 dias após a distribuição dos fármacos nas unidades.” A declaração expõe uma das fragilidades estruturais do sector, onde a corrupção e o desvio de recursos colocam em causa o acesso da população a tratamentos básicos.
Isse destacou que o Estado moçambicano garante a compra de medicamentos em quantidades suficientes – “até sobram”, frisou –, mas que o desaparecimento em tempo recorde demonstra a escala do problema. O governante pediu o apoio dos técnicos de saúde para reforçar os mecanismos de controlo e travar as redes de desvio instaladas dentro do próprio sistema hospitalar.
Segundo dados oficiais, citados pela Lusa, pelo menos 15 funcionários públicos foram expulsos do aparelho do Estado desde Janeiro, por envolvimento directo em furtos de medicamentos em diferentes unidades de saúde.
A situação não é apenas administrativa ou legal. Tem impacto directo no bem-estar da população. O desaparecimento de medicamentos essenciais agrava a vulnerabilidade de milhões de moçambicanos que dependem do sistema público de saúde, sobretudo em áreas rurais, onde as opções alternativas são escassas ou inexistentes.
O apelo do ministro surge num contexto de crescente pressão sobre o sector da saúde, que enfrenta desafios de gestão, carência de infra-estruturas e necessidade urgente de reforçar a confiança dos cidadãos.
Combater os furtos de medicamentos tornou-se, assim, não apenas uma questão de eficiência do Estado, mas também de justiça social e de garantia do direito fundamental à saúde.