As reservas obrigatórias dos bancos comerciais moçambicanos voltaram a cair em Junho, fixando-se em 212.798 milhões de meticais (2,85 mil milhões de euros), segundo dados oficiais do Banco de Moçambique.
A descida representa uma redução acumulada de 27% em 2025, aliviando gradualmente uma das medidas mais restritivas de política monetária implementadas nos últimos anos.
Em Dezembro de 2024, as reservas obrigatórias tinham atingido o recorde de 291.457 milhões de meticais (3,9 mil milhões de euros), resultado de sucessivos aumentos impostos pelo banco central moçambicano para conter a liquidez e travar pressões inflacionistas. A escalada começou em 2023, quando os coeficientes de reservas, inicialmente em 10,5% (moeda nacional) e 11% (moeda estrangeira), foram elevados até 39% e 39,5%, respetivamente.
Essa política, embora eficaz no controlo da inflação, provocou um encarecimento do crédito e uma compressão da capacidade de financiamento da economia real, com impacto direto sobre empresas e famílias.
A actual trajetória de flexibilização, com quedas sucessivas em Abril, Maio e Junho, é interpretada por analistas como uma tentativa de equilibrar o sistema financeiro, devolvendo liquidez aos bancos comerciais num momento em que a economia moçambicana procura acelerar investimentos e dinamizar o sector privado.
No entanto, o desafio cambial permanece. A escassez de divisas no mercado interno tem sido apontada por empresários como um entrave à importação de bens essenciais e à estabilidade do metical. Nesse contexto, a redução dos coeficientes em moeda estrangeira é vista como um passo necessário para aliviar a pressão sobre a disponibilidade de dólares no sistema.
A descida de 27% nas reservas obrigatórias desde o início do ano sugere uma inflexão na política monetária, após dois anos de forte endurecimento. Resta saber até que ponto o Banco de Moçambique conseguirá calibrar a medida sem comprometer o controlo da inflação, num país ainda exposto a choques externos e vulnerável às flutuações cambiais.
*Com Lusa