Actor moçambicano revela desigualdade racial em Portugal

O actor moçambicano Marco Mendonça, vencedor da 6.ª edição do Prémio Revelação do Teatro Nacional D. Maria II, anunciado recentemente, em Lisboa, considera que “é muito difícil ser actor negro” em Portugal. "Basta olharmos para os elencos das coisas que são feitas, para os protagonistas das séries e dos filmes feitos em Portugal, para percebermos…
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Marco Mendonça, vencedor da 6.ª edição do Prémio Revelação do Teatro Nacional D. Maria II, diz que “é muito difícil ser actor negro em Portugal”.
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O actor moçambicano Marco Mendonça, vencedor da 6.ª edição do Prémio Revelação do Teatro Nacional D. Maria II, anunciado recentemente, em Lisboa, considera que “é muito difícil ser actor negro” em Portugal.

“Basta olharmos para os elencos das coisas que são feitas, para os protagonistas das séries e dos filmes feitos em Portugal, para percebermos que não só não é fácil como vai continuar a não ser fácil, ao que tudo indica, durante vários anos ainda”, disse o ator e dramaturgo, à margem de uma reação ao facto de ter vencido a edição deste ano do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II.

“Parece que a sociedade portuguesa, na sua pluralidade e na sua complexidade de culturas e de origens, ainda é muito difícil de retratar de forma realista, digamos assim, e insiste-se muito numa narrativa muito eurocêntrica, muito branca, e de olhos muito fechados ainda para aquilo que é a beleza da sociedade portuguesa, que é ter pessoas de tantas cores e de tantos sítios”, argumentou.

Para Marco Mendonça, parece “que há uma recusa cada vez maior para esses outros tipos de pertença ao país que é Portugal e à sociedade portuguesa em geral”. “Portanto, sim, é muito difícil ser-se actor negro em Portugal”, frisou.

A nível do tecido cultural português, Marco Mendonça “quer acreditar”, ou pelo menos “vai sentindo, assim em instâncias muito particulares, um certo avanço no pensamento”.

Um avanço que abrange também a procura “por um sentido de diversidade e de inclusão e de respeito pelas pluralidades que Portugal detém, seja a nível de identidade de género, seja a nível étnico ou racial”, ressalvou.

“A vários níveis vou sentindo esse avanço, não só no teatro como também nas artes plásticas, mas não necessariamente no audiovisual”, indicou, acrescentando que existem campos artísticos em Portugal “onde isso ainda não está a ser falado e profundamente abordado nas reuniões e nas tomadas de decisão de quem tem esse poder”.

“Mas sinto, sim, que o progresso está em andamento; sinto que há qualquer coisa a mudar, sim, para um ambiente mais positivo”, reiterou, ressalvando, todavia, que não é “ainda suficiente”. “Ainda estamos muito longe de encontrar aqui um campo mais igualitário”, notou.

Por oposição ao que se passa a nível artístico, o ator e dramaturgo citou o “caminho inverso” que sente a fazer-se “na política e na sociedade portuguesa”. “Um caminho para uma maior opressão e para discursos de ódio que proliferam cada vez mais”, sublinhou, acrescentando não serem “coisas que se ouvem apenas num jantar de família ou num contexto privado”.

“Já são coisas que se dizem em público, a discriminação já não surte com vergonha e isso é muito grave, e eu sinto que é, sem dúvida, um grande retrocesso para a sociedade portuguesa”, afirmou o actor, citado pela Lusa.

Um retrocesso que, para Marco Mendonça, “tem de ser combatido”. E uma das formas de combate passa “pela arte, seja no teatro ou nas artes performativas em geral”, frisou. “Ou seja, é preciso provocar para se calhar, acordar algumas mentes assim mais adormecidas”.

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