O Presidente da República, João Lourenço, anunciou esta Quarta-feira, 15, que os líderes históricos Jonas Savimbi, Agostinho Neto e Holden Roberto serão condecorados, num gesto que simboliza o espírito de perdão, paz e reconciliação nacional.
O reconhecimento estende-se aos signatários dos Acordos de Alvor, firmados em 1975, que selaram o fim da luta de libertação e definiram o caminho para a independência de Angola.
Quase meio século depois, o gesto assume contornos de maturidade política e histórica, ao aproximar figuras que, apesar de protagonizarem diferentes trajectórias ideológicas e militares, partilham a condição de pais fundadores da Nação angolana.
“Esta é uma boa forma de contribuir para o fortalecimento da Nação e de inspirar a nossa caminhada colectiva”, afirmou João Lourenço na sua mensagem sobre o estado da Nação, destacando a importância de reconciliar o passado para consolidar o futuro.
O Chefe de Estado sublinhou ainda que esta decisão complementa o esforço contínuo de dignificação das vítimas dos conflitos políticos e de reparação moral das famílias, reconhecendo que a construção da paz não se faz apenas por meio de estabilidade institucional, mas também pela reconciliação simbólica e afectiva entre os protagonistas da história recente.
“Para nós, 50 não é apenas um número: é sinónimo de reconhecimento da nossa história de lutas, de eternização do nosso passado glorioso; é sinónimo de paz, de perdão e de vontade de nos reerguermos juntos para concretizarmos os nossos sonhos”, acrescentou João Lourenço, numa referência aos 50 anos de independência que o país se prepara para celebrar a 11 de Novembro próximo.
O Presidente encerrou o seu discurso sublinhando que Angola é uma Nação “que aprende com os seus erros, supera os seus desafios e celebra as suas conquistas”, reforçando que a unidade e o perdão devem ser vistos como valores estruturantes da identidade nacional.
Reviver a história
A condecoração dos três líderes históricos — Agostinho Neto, primeiro Presidente da República e símbolo da luta pela libertação; Jonas Savimbi, fundador da UNITA e principal opositor durante a guerra civil; e Holden Roberto, líder da FNLA e pioneiro da resistência anticolonial — representa uma viragem simbólica na narrativa política de Angola.
Desde o fim do conflito armado em 2002, o país tem procurado reconstruir o seu tecido social e político através de iniciativas de reconciliação, reabilitação de vítimas e ex-combatentes, e reconhecimento histórico. O gesto agora anunciado inscreve-se nesse movimento mais amplo de revisão e integração da memória colectiva, procurando transformar antigos antagonismos em elementos de coesão nacional.
Ao promover esta homenagem, João Lourenço reforça uma visão de Estado centrada na pacificação da história e na valorização do legado plural da independência, num momento em que Angola procura redefinir a sua identidade política e económica no pós-guerra e no pós-petróleo.
Mais do que um acto protocolar, a decisão projecta uma mensagem de maturidade política e de renovação moral do Estado, em linha com a necessidade de unir gerações e narrativas para sustentar o próximo ciclo de desenvolvimento nacional.