Exposição promove memória dos moçambicanos na antiga RDA

A exposição “Veja a Minha História – Copyright by Madgermanes”, patente no Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA), em Maputo, propõe uma reflexão profunda sobre a preservação da memória colectiva e o reconhecimento das narrativas esquecidas. A mostra revisita o percurso dos trabalhadores moçambicanos que, entre 1979 e 1990, viveram e trabalharam na antiga República Democrática Alemã…
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Cerca de 20 mil jovens moçambicanos viveram e trabalharam na então República Democrática Alemã, entre 1979 e 1990, ao abrigo de acordos bilaterais com Moçambique. A nova exposição recupera esse capítulo pouco explorado da história comum entre os dois países, dando voz aos chamados "madgermanes".
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A exposição “Veja a Minha História – Copyright by Madgermanes”, patente no Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA), em Maputo, propõe uma reflexão profunda sobre a preservação da memória colectiva e o reconhecimento das narrativas esquecidas.

A mostra revisita o percurso dos trabalhadores moçambicanos que, entre 1979 e 1990, viveram e trabalharam na antiga República Democrática Alemã (RDA) ao abrigo de acordos bilaterais firmados com Moçambique.

Com curadoria da alemã Sabine Felber, o projecto cruza arte, história e tecnologia, utilizando narrativas digitais e autorretratos colaborativos para recuperar fragmentos de uma memória partilhada, mas muitas vezes silenciada.

“A exposição constrói pontes entre países e continentes, bem como entre pessoas de diferentes gerações. E lembra-nos de honrar a história reprimida antes que ela seja esquecida”, afirmou Felber, na inauguração, sublinhando o carácter biográfico, educativo e de aprendizagem da iniciativa.

Estima-se que cerca de 20 mil jovens moçambicanos tenham integrado o programa de trabalhadores contratados na RDA, um dos mais significativos movimentos laborais do período socialista no eixo Sul–Leste europeu. Para muitos deles, a experiência marcou o início de um percurso de ambivalência entre o sonho de progresso e a frustração do esquecimento, após o regresso a Moçambique.

A exposição recupera parte dessas vivências através de seis narrativas digitais e 12 autorretratos colaborativos, produzidos em oficinas realizadas em Setembro, que reuniram antigos trabalhadores e jovens artistas moçambicanos. A proposta, segundo Felber, é devolver a autoria das histórias aos seus protagonistas.

“A ideia é que os participantes sejam donos da sua própria história – que criem o que realmente desejam contar”, explicou a curadora, citada pela agência Lusa.

Desenvolvido com o apoio da Afrika Medienzentrum e.V., de Berlim, e em parceria com o CCMA, o projecto assume-se como um exercício de reconstrução da memória histórica e intercultural, num momento em que as relações entre África e Europa procuram novos caminhos de diálogo baseados na equidade, na escuta e na reparação simbólica.

Mais do que um registo documental, “Veja a Minha História” é uma ponte entre gerações e geografias, que transforma a memória individual em património colectivo – e reafirma o poder da arte como veículo de identidade, reconciliação e futuro.

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