Banco de Moçambique reforça liquidez externa e promete maior fluidez no acesso a divisas

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) de Moçambique voltaram a atingir máximos históricos, superando em Agosto os 4.035 milhões de dólares, o valor mais elevado em mais de quatro anos, segundo dados do Banco de Moçambique. O indicador traduz uma inversão positiva na trajectória das reservas externas do país, que vinham recuperando gradualmente desde Fevereiro, quando…
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Moçambique volta a "respirar" confiança externa, com as reservas internacionais a ultrapassarem os 4 mil milhões de dólares – o valor mais alto desde 2020 – num sinal de recuperação cambial e disciplina monetária.
Economia

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) de Moçambique voltaram a atingir máximos históricos, superando em Agosto os 4.035 milhões de dólares, o valor mais elevado em mais de quatro anos, segundo dados do Banco de Moçambique.

O indicador traduz uma inversão positiva na trajectória das reservas externas do país, que vinham recuperando gradualmente desde Fevereiro, quando haviam recuado para 3.593 milhões de dólares.

Entre Fevereiro e Agosto, registaram-se seis subidas mensais consecutivas, evidenciando o impacto das medidas adoptadas pelo banco central para estabilizar o mercado cambial e reforçar a capacidade de cobertura das importações de bens e serviços, actualmente acima dos três meses considerados prudenciais.

Em declarações prestadas no final da reunião do Comité de Política Monetária, o governador Rogério Zandamela destacou que as recentes medidas visam “aumentar a fluidez no mercado cambial” e garantir que as divisas disponíveis cheguem de forma mais equilibrada aos sectores produtivos. “Essas medidas consistem em ajustar recursos e redistribuí-los, acompanhando de perto a sua utilização”, explicou o responsável.

Entre as decisões de destaque, o Banco de Moçambique reduziu os limites de retenção diária de divisas pelos bancos comerciais e elevou de 30% para 50% a taxa mínima de conversão das receitas de exportação, medida que tem vindo a melhorar a disponibilidade de moeda estrangeira no sistema financeiro.

A pressão sobre o acesso às divisas, contudo, tem sido um tema recorrente na economia moçambicana. O Presidente da República, Daniel Chapo, acusou recentemente a banca comercial de “criar artificialmente” a escassez de moeda estrangeira, transformando-a em “oportunidade de negócio”, e sublinhou que “nunca faltou moeda para distribuição de dividendos”.

A Confederação das Associações Económicas (CTA) já havia alertado, em Fevereiro, que a falta de liquidez em divisas estava a afectar as operações de empresas nos sectores da saúde, combustíveis, aviação e alimentação.

Apesar das críticas, o reforço das reservas internacionais, aliado às medidas de regulação cambial, sinaliza uma tendência de estabilização macroeconómica que poderá, a médio prazo, aliviar as restrições de acesso a divisas e fortalecer a confiança dos investidores no mercado moçambicano.

Do ponto de vista estratégico, o desempenho das reservas revela não apenas maior disciplina monetária, mas também uma tentativa de reposicionar Moçambique como um destino credível para o investimento estrangeiro, num contexto regional em que o controlo cambial e a solidez das reservas se tornaram factores determinantes de confiança.

Com a retoma gradual dos projectos de gás natural liquefeito e a previsão de maior entrada de receitas de exportação, o país pode estar a iniciar um novo ciclo de estabilidade financeira, essencial para sustentar o crescimento económico e atrair capitais para sectores produtivos.

 

*Com Lusa

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