Opinião

Angola 50 Anos: da libertação à transformação

Francisco de Andrade

No dia 11 de Novembro de 1975, Angola proclamou a sua independência e deu início a uma nova era. Sob a liderança de António Agostinho Neto, o primeiro Presidente da República, o país rompeu com mais de quatro séculos de dominação colonial portuguesa, declarando solenemente ao mundo: “Em nome do povo angolano, proclamo solenemente perante a África e o Mundo a Independência de Angola.”

A conquista da soberania foi o culminar de uma longa trajectória de resistência e sacrifício. Desde as primeiras revoltas anticoloniais até ao desencadear da luta armada em 1961, Angola viveu intensos episódios de coragem colectiva. O processo de descolonização, acelerado pelo 25 de Abril de 1974 em Portugal, abriu caminho à autodeterminação, ainda que num cenário de complexas disputas internas.

A Batalha de Quifangondo, travada em 10 de Novembro de 1975, foi o ponto decisivo. As forças do MPLA asseguraram o controlo de Luanda, permitindo que, no dia seguinte, fosse proclamada a independência. Contudo, o novo Estado emergia num contexto turbulento, mergulhado na guerra civil entre os dois movimentos de libertação – MPLA e UNITA – que perduraria por quase três décadas.

Cinquenta anos depois, Angola exibe conquistas notáveis. A taxa de alfabetização, que era de cerca de 5% em 1975, ultrapassa hoje 75%, e a população cresceu de 6,5 milhões para cerca de 35 milhões de habitantes. O país tem investido em educação, saúde e infra-estruturas, simbolizando uma nação em reconstrução.

Todavia, persistem desigualdades regionais, pobreza estrutural e urbanização desordenada, desafios que continuam a limitar o alcance do desenvolvimento humano. A diversificação económica, a melhoria da governação e o fortalecimento institucional permanecem como prioridades estratégicas.

Da dependência ao desafio da diversificação

A economia angolana conheceu fases de expansão impulsionadas pela riqueza petrolífera, mas também períodos de contração marcados pela volatilidade dos preços do crude. O país beneficiou de grandes investimentos em infra-estruturas e de parcerias externas, mas o modelo económico centrado nas matérias-primas revelou-se vulnerável.

Hoje, Angola procura redefinir o seu paradigma de crescimento, apostando em sectores como a agricultura, energia, finanças, tecnologia e turismo. O desafio é claro: transformar o capital natural em capital produtivo e humano, reduzindo dependências e ampliando oportunidades.

Politicamente, Angola percorreu um caminho de transição profunda. De um regime de partido único, o país evoluiu para uma democracia multipartidária após os Acordos de Bicesse (1991) e as primeiras eleições de 1992. A consolidação institucional, a participação cívica e o fortalecimento das liberdades políticas constituem marcos de progresso, embora persistam fragilidades associadas à transparência, responsabilização pública e cultura democrática.

Ao longo destas cinco décadas, Angola tem demonstrado resiliência e capacidade de reinvenção. Reconstruiu-se após uma guerra devastadora, estabilizou politicamente e iniciou reformas para modernizar a economia. No entanto, o país ainda enfrenta o desafio de converter os recursos naturais em prosperidade partilhada, num contexto global em rápida transformação.

Contudo, o balanço é misto. Muitas conquistas sociais e políticas foram alcançadas, mas os desafios de diversificação económica, coesão social, governança institucional e transparência permanecem. O momento que se assinala hoje exige um olhar estratégico, não apenas para o que foi conseguido, mas para aquilo que ainda está por fazer.

É, portanto, imperativo que Angola reforce a sua aposta na inclusão, na inovação, no investimento em capital humano, e na cultura de governação responsável. A narrativa de 50 anos não deve ser mero festejo, mas um catalisador para a fase seguinte da história nacional. Aquela em que o valor preservado se transforme em valor multiplicado. O momento de transformar a herança da soberania em prosperidade inclusiva e duradoura.

As comemorações dos 50 anos da Independência Nacional decorrem sob o lema: “Angola 50 Anos: Preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor.” O acto central, na Praça da República, em Luanda, contou com a presença de 45 delegações estrangeiras, chefes de Estado e cerca de 10 mil convidados nacionais, incluindo desfiles cívicos e militares e a homenagem ao Presidente Agostinho Neto, o fundador da nação.

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