“A geração ZAP: onde a televisão se cruza com o talento e a mudança”

Como definiria o papel da ZAP na consolidação do mercado audiovisual angolano nos últimos 15 anos? A ZAP veio inovar. Ser uma empresa angolana num mercado competitivo de telecomunicações e vincar, oferecendo os melhores serviços e fazendo uma oferta de conteúdos localizados, com gente jovem, saída das universidades e trazendo para o mercado sangue novo,…
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Com aposta no talento jovem, na inovação tecnológica e na valorização da cultura nacional, a ZAP consolidou-se como um dos pilares do mercado audiovisual em Angola, diz o director da Zap Estúdio, Jorge Antunes. Quinze anos depois, a empresa afirma-se como líder de entretenimento.
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Como definiria o papel da ZAP na consolidação do mercado audiovisual angolano nos últimos 15 anos?

A ZAP veio inovar. Ser uma empresa angolana num mercado competitivo de telecomunicações e vincar, oferecendo os melhores serviços e fazendo uma oferta de conteúdos localizados, com gente jovem, saída das universidades e trazendo para o mercado sangue novo, foi a fórmula para alcançar o sucesso. No caso específico do canal ZAP Viva, é o trazer as populações ao ecrã e levar os talentos nacionais às mais diversas geografias.

Quais foram as principais decisões estratégicas que permitiram à ZAP manter-se líder num contexto de rápida digitalização e de crescente concorrência internacional?

A aposta na formação, nos jovens e na capacidade criativa nacional, penso que é, no fundo, o segredo deste sucesso. A ZAP é angolana. Uma marca dinâmica e feliz. Culturalmente nossa, sem descurar a qualidade de serviços e produtos oferecidos que, com a proximidade ao cliente, cada vez mais marca a diferença.

Que visão de longo prazo orienta actualmente a empresa – é mais tecnológica, cultural ou económica?

Eu penso que o capital humano é a essência da Cultura ZAP. É uma visão que esteve sempre no ADN da empresa. Quando entrei há cerca de 11 anos foi isso que encontrei e pelo qual me apaixonei. E é essa Cultura que a empresa levanta até hoje como bandeira! É um todo, dentro de um contexto, especial que é Angola. É o legado dos seus fundadores e que todos carregamos com orgulho. Claro que os meios tecnológicos, desenvolvimento digital, e questões económicas também influenciam nas tácticas, mas a estratégia é o desenvolvimento de pessoas. Só assim se alcança a maturidade empresarial.

Desde o início da sua operação, a ZAP construiu um universo visual e narrativo próprio, com apresentadores, formatos e estilos reconhecíveis. Que critérios editoriais e estéticos orientaram essa construção de uma “cultura televisiva ZAP”?

O Canal ZAP Viva é um canal de entretenimento puro! Jovem, dinâmico e angolano. Damos o que o público gosta de ver, mas fazemos o que o país necessita. É uma TV Escola. Temos a missão de descobrir, formar e desenvolver talentos. Temos orgulho em saber que grande parte do mercado gosta de ver o que produzimos e gosta de ver quem nós transformamos. Potenciamos talentos. Trazemos o que está guardado e oferecemos ao telespectador. Sempre com a valorização do capital humano.

Que transformações concretas a ZAP observa na forma como os angolanos consomem, interpretam e produzem cultura popular desde a sua entrada no mercado?

Não nos podemos esquecer que viemos de situações muito difíceis, tivemos um êxodo rural, e por mais que os anos passem ainda temos muitas feridas que custam a sarar. Já evoluímos bastante ao ponto de conseguirmos consumir em termos de conteúdos o que é nosso. Feito por e para angolanos. Mas ainda falta um grande caminho. E a semente está a ser regada. O Mercado audiovisual ainda tem que amadurecer. Haver mais investimento e estímulos.

Como a ZAP tem integrado a diversidade étnica, linguística e regional de Angola nas suas produções, especialmente num país com 21 províncias, sotaques e sensibilidades culturais distintas?

Todos os nossos conteúdos são virados para o nosso público. Os nossos concursos de talentos, sejam musicais, de dança ou te apresentadores e repórteres, têm a adesão nacional. Valorizamos a arte seja de que região for e o que é nacional. Promovemos a unidade nacional. Estamos abertos a todos os estilos e a todas as tendências. E orgulhamo-nos disso. Angola é una e indivisível e é essa diversidade na união que nos fortalece.

Existe uma política interna que orienta o uso de expressões locais, línguas nacionais ou elementos do património cultural (como música, vestuário, culinária ou crenças populares) na programação?

Não temos qualquer tipo de orientação. Há sim orientação para se falar bem a nossa língua veicular, usar termos próprios e evitar constrangimentos políticos e religiosos. Não devemos confundir preferências pessoais com o que é o bem comum.

De que forma a empresa lida com o equilíbrio entre ser globalmente relevante sem perder a alma angolana?

Nós somos angolanos na essência e cultura. Tentamos ser globais, no caso da produção de conteúdos ao mostrar padrões de qualidade altos e de exigência internacional. Como qualquer trabalhador de televisão também tenho um sonho. Ganhar um dia um prémio internacional de televisão e fazer uma Novela.

Há estudos de recepção ou relatórios internos que avaliem o impacto da representação identitária nas audiências (por exemplo, identificação com personagens, sotaques ou histórias locais)? Dados concretos.

Os estudos de audiência que recebemos são os que estão no mercado e feito pelas empresas qualificadas. Normalmente são feitos com base em grandes pesquisas que fazem depois a diferenciação por sectores e nunca entraram por esses factores. Os que nos tem interessado até ao momento são de audiência, notoriedade dos nossos conteúdos e apresentadores.

Muitos dizem que a ZAP ajudou a criar novas formas de falar, vestir e pensar em Angola — especialmente entre os jovens urbanos. Como é que a empresa percebe esse fenómeno de influência social e simbólica?

Sei que vêm o ZAP viva como um canal mais leve e jovial, dinâmico, colorido. Acho que isso tornou o conteúdo televisivo angolano mais solto, no sentido de ter poucos formalismos. Mas não creio que tenhamos criado alguma tendência. Ainda temos um mercado audiovisual bastante conservador.

Que exemplo concreto poderia dar de programas ou personagens que se tornaram referências culturais, moldando expressões ou comportamentos quotidianos?

General Foge a Tempo e Tia Bolinha, numa parceria que fizemos com o grupo “Os Tuneza”, algumas citações e expressões de programas juvenis como o na Placa, enfim… Mas não creio que tenham moldado comportamentos quotidianos.

Como se gere o impacto simbólico e discursivo de figuras mediáticas (apresentadores, actores, humoristas) que se tornam “vozes da geração ZAP”?

O Canal ZAP Viva ainda é muito jovem para se ter a noção de como é que essa nova geração de apresentadores e repórteres poderá ter se tornado na voz da geração. Temos casos concretos de grandes nomes do nosso audiovisual que saíram da “nossa escola”, mas não chegaria a considera-los como tal. Acho que apenas daqui a uma geração podemos ter essa noção.

“Como qualquer trabalhador de televisão também tenho um sonho. Ganhar um dia um prémio internacional de televisão e fazer uma Novela.”

A ZAP trabalha com linguistas, antropólogos ou especialistas em comunicação para compreender a dimensão cultural e comportamental dessa influência?

Temos um professor de português, temos psicólogos, temos especialistas que são constantemente convidados para vir falar de temas e esclarecer situações quando necessárias. Temos o orgulho de já ter ganho um prémio nacional de cultura e artes, com a Companhia de Dança da ZAP, que fez um excelente trabalho e era liderada pela coreografa Monica Ana Paz.

Em termos de soft power, a ZAP considera-se hoje um instrumento de diplomacia cultural angolana?

Não. Somos um espelho do que de bom se faz e se pode fazer em Angola e com os angolanos. Isso sim. Somos um espelho do que os jovens são capazes de fazer. Se eu disser que no ZAP Estúdios só trabalham quatro pessoas com mais de 50 anos alguém acredita?

A ZAP acompanha ou mede, por meio de estudos de opinião ou dados de redes sociais, a forma como o público absorve e reproduz esses conteúdos no seu dia-a-dia?

Sim, todos os dias temos equipas internas e pessoas contratadas externamente que fazem esse monitoramento. Dão-nos alguns dados importantes, mas não trabalhamos em função disso. Fazemos o nosso caminho a olhar para a frente e em resposta aos anseios do nosso cliente final. Aquele que todos os meses carrega e subscreve os canais para estar a ver os seus apresentadores e conteúdos favoritos.

Até que ponto o entretenimento televisivo pode ser considerado um instrumento de transformação social, e como a ZAP concilia isso com a responsabilidade editorial?

Acho que mais que falar é fazer pelo exemplo. Com os nossos programas de Talentos a juventude já acredita que a meritocracia é o caminho melhor para atingir o sucesso, por exemplo.

Há projectos em curso que visam transformar o conteúdo da ZAP num repositório de memória cultural — por exemplo, digitalização de programas emblemáticos, criação de documentários históricos ou parcerias com instituições culturais?

Já adquirimos um arquivo digital muito bom, mas para uso interno e facilitação do trabalho. Quem sabe um dia faremos uma biblioteca digital e um deposito legal de parte da história da televisão.

Como a ZAP escolhe os temas e figuras públicas a destacar nas suas produções — há uma curadoria consciente do que representa a “angolanidade contemporânea”?

Não pensamos ainda até aí. Olhamos mais para o que se passa à nossa volta e tentamos explicar de forma divertida quais os melhores caminhos a seguir. Somos um canal de entretenimento e queremos que as pessoas cheguem a casa e se divirtam a ver-nos. A nossa angolanidade está no sangue!

A música tem sido um elemento central da cultura televisiva angolana. Que marcos destaca no trabalho da ZAP no consolidar a indústria musical nacional, seja pela divulgação de artistas ou pela produção de programas de talento?

Temos três programas musicais e os restantes que não o são têm componentes musicais grandes. Dividimos por áreas e estilos, kuduro, música ao vivo, semba e quizomba, rap e R&B. Sempre que há música popular disponível também divulgamos seja fisicamente ou através de videoclips. Também temos desde 2018 o programa Unitel Estrelas ao Palco que lança novos valores da música ao mercado. Nos últimos dois anos tivemos no total 50 mil inscritos.

Existem dados ou estudos internos que demonstrem o aumento da visibilidade e monetização de artistas locais graças à exposição televisiva por parte da ZAP?

Tudo o que recebemos são de estudos de empresas que fazem esse tipo de trabalho e têm divulgado. Internamente não fazemos esses serviços. Mas é engraçado que temos apresentadores que alcançam cerca de 8 milhões de pessoas mensalmente.

Como a ZAP tem fomentado a representação das mulheres na televisão, dando-lhes voz, poder e um lugar social destacado (mudando mentalidades)?

Temos sete programas no ar, sejam de grelha ou grandes formatos, com sete apresentadoras e cinco apresentadores. As quotas em termos de repórteres também é praticamente a mesma. Acho que não há muita discussão. As mulheres dominam os nossos ecrãs (Risos).

Há uma linha editorial ou política corporativa que incentive a igualdade de género e a diversidade de perspectivas nas narrativas audiovisuais?

Não existe nenhuma. Pautamo-nos pelo cumprimento dos direitos fundamentais do homem e da nossa constituição.

Que papel a ZAP pode desempenhar na desconstrução de estereótipos sociais (juventude, masculinidade, poder e sucesso) através da ficção e do entretenimento?

Acho que já há situações em que desconstruímos alguns preconceitos, como ter apresentadores com tatuagens e piercings, tranças masculinas, jovens desportistas, e tantas outras situações. Já tivemos também uma repórter com albinismo, e também uma com deficiência, fruto de um acidente de viação. Não que os tenhamos escolhido por essas razões, mas achamos que o mérito suplantava qualquer outro tipo de condição que à partida pudesse aparecer como algo em desfavor.

O que distingue a televisão feita em Angola pela ZAP da que é feita em outros países africanos lusófonos — em termos de narrativa, humor, identidade ou ritmo visual?

Conheço alguma coisa do que se faz nos restantes países. Mas acho que o canal ZAP Viva investe mais nos cenários, figurino, qualidade técnica e a tentativa de se equiparar em termos de conteúdos ao que se faz internacionalmente.

O conteúdo da ZAP já começa a influenciar audiências fora de Angola, em países africanos e na diáspora. Que estratégias estão em curso para internacionalizar as produções angolanas e exportar uma estética cultural própria?

Acho que o factor língua será sempre um factor de barreira para “exportar” conteúdos. Talvez possamos começar a pensar em formatos.

Como a empresa mede o impacto simbólico da “marca ZAP” enquanto embaixadora cultural de Angola no mundo lusófono e africano?

Não tenho noção clara de como somos vistos e se somos vistos como uma marca angolana, visto que o canal só chega oficialmente a três países. Mas acredito que, principalmente para os angolanos, é importante para matar saudades do que se passa no país em termos de entretenimento.

O que representa, para si, o legado cultural da ZAP na formação de uma identidade audiovisual africana contemporânea?

Penso que Angola é um país diferente, não só pela sua história como pelo seu presente. O Canal transmite isso. Talvez um dia olhem para o canal ZAP Viva como um modelo a seguir, e claro ficaria muito feliz com esse facto. Mas neste momento focamo-nos no nosso mercado e pensamos em nós. Ainda temos muito que evoluir.

“A aposta na formação, nos jovens e na capacidade criativa nacional, penso que é, no fundo, o segredo deste sucesso. A ZAP é angolana. Uma marca dinâmica e feliz.”

Quantos conteúdos originais foram produzidos pela ZAP nos últimos cinco anos e que percentagem representa face ao total da grelha?

Nós temos 50% da nossa grelha diária com estreias e as suas repetições, diárias e semanalmente. Cerca de 5% apenas é de adquiridos.

Quais são os principais desafios para financiar, distribuir e exportar produções angolanas?

A lei do mecenato, a lei da publicidade, o desenvolvimento da economia de mercado (a diversificação da economia) e o desenvolvimento da Investigação Universitária e Científica.

Que tipo de parcerias (públicas, privadas ou internacionais) a ZAP tem desenvolvido para fortalecer a indústria audiovisual nacional?

O canal ZAP Viva está aberto a transmitir produções nacionais desde que tenham os níveis de qualidade exigidos pelo canal. Temos também uma dotação orçamental para pequenas produções, ajudando no fomento de produção. Os conteúdos devem passar por um processo de selecção e verificação de qualidade, pois é um canal de entretenimento e visto internacionalmente.

Pode partilhar exemplos concretos de produções que geraram impacto económico — em termos de emprego, fornecedores locais ou exportação de formatos?

Unitel Estrelas ao Palco, BAI dança com Ritmo, Idas às restantes províncias para Especiais e coberturas de eventos, todos os programas de grelha.

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