Angola precisa de serviços bancários mais especializados para ampliar a inclusão financeira, considera Asseco-PST

Na sua mais recente edição, o Forbes África Lusófona Annual Summit 2025 dedicou uma sessão à especialização dos serviços bancários, aos mecanismos de financiamento e às estratégias necessárias para acelerar a inclusão financeira em Angola, que teve como orador o board member da Asseco-PST, Pedro Miguel Lopes. Na sua intervenção, o especialista apresentou um retrato…
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Pedro Lopes, board member da Asseco-PST defende que o futuro do sector bancário angolano passa por produtos segmentados, tecnologia estratégica e canais digitais capazes de chegar onde as agências não chegam.
Economia

Na sua mais recente edição, o Forbes África Lusófona Annual Summit 2025 dedicou uma sessão à especialização dos serviços bancários, aos mecanismos de financiamento e às estratégias necessárias para acelerar a inclusão financeira em Angola, que teve como orador o board member da Asseco-PST, Pedro Miguel Lopes.

Na sua intervenção, o especialista apresentou um retrato amplo do sistema financeiro angolano e sublinhou a relação directa entre especialização, tecnologia e expansão do acesso aos serviços financeiros. “A especialização dos serviços bancários e a inclusão financeira no espaço angolano são um grande desafio para a área tecnológica, a sua escala e a sua competitividade”, afirmou.

Segundo o responsável, Angola continua excessivamente dependente das grandes empresas, públicas e privadas, o que deixa de fora segmentos fundamentais para o dinamismo económico, como microempresas, pequenos negócios e cidadãos de baixo rendimento. “A segmentação é ainda muito limitada e, na esmagadora maioria dos casos, não abrange as microempresas nem os clientes de baixo rendimento”, reforçou.

Os produtos bancários foram descritos como pouco ajustados ao quotidiano do cidadão comum, com estruturas de custos elevadas, requisitos rígidos e reduzida flexibilidade. Pedro Miguel Lopes chamou igualmente a atenção para a forte concentração geográfica dos serviços financeiros nas zonas urbanas. “Há uma grande ausência nas zonas rurais, e isso tem impacto directo na forma como as pessoas se relacionam com o sistema financeiro”, afirmou.

Um dos pontos centrais da apresentação foi a baixa taxa de inclusão financeira no país. “Mais de 50% da população continua fora do sistema financeiro formal”, sublinhou, apontando que a baixa literacia financeira, a desconfiança nos bancos e o peso da economia informal continuam a limitar o uso de contas, meios de pagamento e produtos de poupança. “Os rendimentos irregulares dificultam a poupança e o acesso ao crédito, e, ao mesmo tempo, tornam mais difícil a concessão por parte das instituições financeiras”, observou.

A insuficiência da infra-estrutura bancária fora dos grandes centros — incluindo agências, caixas automáticas e pontos de venda — permanece um obstáculo estrutural. E, apesar da massificação do telemóvel, a adopção de serviços digitais mantém-se aquém do seu potencial.

Asseco-PST defende que o futuro do sector bancário angolano passa por produtos segmentados.

Especialização como motor da inclusão

Face a este cenário, Pedro defendeu a especialização como vector essencial para acelerar a inclusão financeira. “Os produtos genéricos não atendem às necessidades de segmentos como a população rural, as mulheres empreendedoras, os jovens trabalhadores informais ou as microempresas”, afirmou.

Entre as soluções apontadas estão contas simplificadas, com requisitos reduzidos, microcrédito e micropoupança direccionados para valores mais baixos, serviços concebidos numa lógica mobile-first e a expansão de redes de agentes bancários e canais digitais capazes de alcançar zonas suburbanas e rurais. “Sem especialização, a inclusão financeira avançará de forma mais lenta e limitada”, alertou.

Outro eixo central da intervenção foi o papel da tecnologia na evolução do sector. “A tecnologia deixou de ser um suporte operacional e passou a ser um núcleo estratégico”, afirmou. O orador destacou o potencial da automação e da inteligência artificial para reduzir custos, acelerar processos e melhorar a experiência do cliente. Já o Open Banking e o uso de APIs foram apresentados como instrumentos decisivos para a integração entre bancos, fintechs e outros actores tecnológicos. “Os canais digitais já não são apenas um complemento — em muitos segmentos, substituem o relacionamento presencial”, sublinhou.

Ferramentas de data analytics permitem maior personalização de serviços e uma gestão de risco mais rigorosa, mas esta transformação exige investimento tecnológico contínuo. Para isso, as instituições precisam de escala para diluir custos e assegurar competitividade.

Na parte final da apresentação, Pedro Miguel Lopes destacou algumas tendências que deverão ganhar força no mercado angolano: o Mobile Banking como principal canal de relação com o cliente, os pagamentos instantâneos e o uso de QR Code (com soluções já em implementação no país), a expansão das redes de agentes bancários para zonas menos servidas e o avanço do microcrédito digital, desenhado para realidades de rendimento irregular. “Angola tem uma população jovem, um forte uso do telemóvel, uma baixa taxa de bancarização e necessidades de produtos simples, mas acessíveis”, resumiu.

Para encerrar, o board member da Asseco-PST sublinhou a crescente convergência entre diferentes actores do ecossistema financeiro. “Temos desafios fantásticos pela frente”, afirmou, destacando “um alinhamento entre o que é a consultoria, o que são os bancos e o que é a apresentação de uma tecnológica como a Asseco-PST”.

A mensagem final reforçou que especialização, tecnologia e inclusão financeira não só estão interligadas, como deverão continuar no centro da agenda estratégica do sector bancário angolano.

 

Por: Rossana Dias

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