Os sonhos do jovem ‘caça-talentos’

Aos 14 anos de idade, Carlos Godinho fundou a Associação para a Promoção, Desenvolvimento, Prosperidade e Tecnologia (PDPT), que nasceu de sua inspiração e experiência real, tendo sido lançada no dia 9 de Junho de 2021. O estudante do 12. ° ano de Ciências e Tecnologias, no Colégio São Francisco de Assis, em Luanda, percebeu…
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Carlos Godinho é um angolano visionário de 18 anos de idade focado no futuro do talento académico no país, para gerar um movimento que privilegia a formação, a inovação e as sinergias entre as diferentes forças vivas. Para promover a oportunidade académica, fundou a PDPTA.
Líderes

Aos 14 anos de idade, Carlos Godinho fundou a Associação para a Promoção, Desenvolvimento, Prosperidade e Tecnologia (PDPT), que nasceu de sua inspiração e experiência real, tendo sido lançada no dia 9 de Junho de 2021.

O estudante do 12. ° ano de Ciências e Tecnologias, no Colégio São Francisco de Assis, em Luanda, percebeu que à sua volta se estavam a desperdiçar aptidões e a se travar os sonhos de muitos jovens.

“Há muitos anos que tenho transportado um sentimento de tristeza por ver crianças e jovens, sobretudo os talentosos, sem acesso a um bom ensino, e muitos estão fora do sistema de educação. Só esse facto não permite que esses jovens tirem o melhor proveito das suas aptidões, ou o melhor dos seus talentos”, afirmou em conversa com a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA.

Por essa razão, em 2014, abordou o seu pai, Pedro Godinho, fundador e presidente do grupo Veleiro e presidente da Câmara de Comércio Americana em Angola (AmCham-Angola), para saber como o grupo de empresas que esse lidera poderia contribuir para a melhoria desta situação.

A sua ideia germinou, e a PDPT tornou-se realidade. Com a sua inspiração e o apoio de inúmeros profissionais e especialistas, o jovem sonhador acredita que é altura de dar oportunidade a outros jovens. “Se pudermos alterar positivamente a vida de alguém, poder-se-á desencadear um efeito bola de neve, isto é, os jovens que no presente sejam ajudados, no futuro, serão indivíduos com uma visão diferente perante o mundo que os rodeia, podendo, por sua vez, intervir e ajudar os outros”, perspectiva Carlos Godinho.

Ao descobrir e incentivar a vontade de ir mais longe, a PDPT prepara as novas gerações para os desafios da economia global e estimula o intercâmbio entre empresas e instituições públicas e privadas. “Acreditamos nas capacidades das nossas crianças e jovens e queremos que desenvolvam em pleno o seu potencial para contribuírem positivamente para as suas comunidades, para Angola e para o mundo. A criatividade, as aptidões e a vontade de ser e fazer mais podem e devem ser estimuladas, e consideramos ser nosso dever construir um futuro mais próspero para as novas gerações”, refere Carlos.

A associação estimula assim crianças e jovens empreendedores a fazerem parte, desde cedo, do tecido empresarial, técnico, científico, intelectual, cultural e artístico de Angola, promovendo o conhecimento e a formação. Esses objectivos são concretizados através de programas de identificação e apoio a talentos, como o Programa de Identificação e Desenvolvimento de Talento (PIDT), que incluem intercâmbio de experiências, bolsas de estudo e estágios nacionais e internacionais.

Angola Talents identifica jovens líderes

No ano de 2022, foram criadas as bases para o lançamento do projecto Angola Talents. Trata-se de um programa que quer identificar e apoiar jovens angolanos dinâmicos, comprometidos, proactivos, resilientes e com características de liderança, de forma a criar uma elite de profissionais nacionais.

“O projecto foi lançado em Abril de 2023 e recebeu cerca de 250 candidaturas. A avaliação destas identificou 50 jovens com alto potencial de desenvolvimento. A estes jovens foram ministradas 600 horas de formação na área digital, financeira, comunicação, língua inglesa e competências comportamentais”, explica o fundador da Associação PDPT.

Entretanto, dos 50 jovens que iniciaram a formação, foram validados 41 e atribuídos apoios financeiros e bolsas de estudo em escolas e universidades em Angola e fora do país. O programa, dirigido a crianças e jovens dos 8 aos 25 anos de idade, ambiciona descobrir projectos ligados a música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, fotografia, cinema, multimédia, entre outros.

Além do Programa de Identificação e Desenvolvimento de Talento, a Associação PDPT tem ainda o Talent Search Empreendedores-Empresas, que consiste na procura de talentos para assegurar o desenvolvimento contínuo de competências empreendedoras para o mercado de trabalho e educação financeira.

Numa primeira fase, pretende chegar a todos os níveis de ensino, assegurando uma educação empreendedora desde o 1.º ciclo ao ensino superior, incidindo nestes pilares: empreendedorismo, competência, empregabilidade e educação financeira. O programa é adoptado a cada ciclo de ensino, indo desde as noções de poupança, no ensino básico, até à gestão de orçamento ou angariação de capitais e criação de um modelo de negócio para alunos do ensino superior. Para tal, a língua inglesa será transversal a todos os níveis, preparando os jovens para um mercado global, bem como o incentivo do espírito de iniciativa, capacidade de organização e gestão, competências de liderança e de tomada de decisões.

“Procuramos incentivar a criatividade inata em cada criança ou jovem, valorizar e apoiar as suas iniciativas, através da prática, do desenvolvimento e do aprofundamento do seu talento.”

Os melhores alunos do programa terão acesso a uma bolsa de estudo para aprender ou aperfeiçoar a língua inglesa e, de acordo com o seu grau de ensino, para fazerem estágio numa empresa angolana ou internacional. Será dada particular atenção aos projectos de iniciativa de raparigas ou que sejam destinados a promover a igualdade de oportunidades.

“Procuramos incentivar a criatividade inata em cada criança ou jovem, valorizar e apoiar as suas iniciativas, através da prática, do desenvolvimento e do aprofundamento do seu talento. Queremos dar a estes jovens oportunidades de revelar o seu potencial e dar vida aos seus sonhos, e assim garantir o desenvolvimento de futuros líderes capazes, comprometidos com a comunidade e o crescimento do país”, nota.

Ao abordar os passos concretos que já foram dados, Carlos Godinho avança que foram enviados três estudantes ao exterior do país, concretamente a Portugal e aos Estados Unidos da América, onde estão a fazer a formação superior na Universidade de Coimbra e na Mission University, respectivamente.

“Estamos na perspectiva de mandar mais. O nosso objectivo era mandar boa parte deles para os EUA, só que encontrámos o desafio da língua inglesa. Daí termos optado por dar mais bolsas internas do que aquilo que gostaríamos. Neste momento, temos seis estudantes em stand-by a serem preparados para irem à América. Assim que concluirmos, faremos um outro programa de angariação de talentos”, informa.

A Associação PDPT, explica Godinho, organizou recentemente duas visitas de universidades americanas a Angola, nomeadamente a Carnegie Mellon University (CMU) e a  Duquesne University, para fazer um estudo do mercado. Neste momento, precisa, o processo está mais adiantado com a Carnegie Mellon University. “Eles vão fazer uma parceria com uma universidade angolana, onde haverá transferência de conhecimentos e serão financiados programas nas áreas voltadas para as ciências matemáticas, engenharias e tecnologias. E, portanto, será feita uma parceria com uma instituição de ensino angolana, que pode ser a Universidade Agostinho Neto, a Universidade Óscar Ribas ou com a Universidade Católica de Angola”, adianta.

Ao descrever as valências da juventude, o ainda adolescente salienta que Angola tem todo o tipo de talento, mas que, infelizmente, nunca tiveram oportunidade de ter uma boa educação. “Esses jovens, por diversas razões, não tiveram oportunidade de capitalizar o seu talento. Angola está cheia de talentos. Estamos cheios de jovens brilhantes que não conseguem, por conta das imposições da vida, atingir todo o seu máximo potencial”, enfatiza. Daí, justifica, a ideia é poder pegar em alguns desses talentos e transformá-los na melhor versão de si mesmos.

Apostar na inovação

Carlos Godinho defende que para garantir o futuro como nação, Angola não pode continuar a ser um país extractivista. “A nossa fonte de riqueza não pode só vir da extracção de recursos, mas tem de vir também da inovação, do avanço tecnológico e do aprimoramento desses recursos. Nós extraímos o petróleo, diamantes, a madeira e o ouro, mas depois exportamos o produto em bruto, porque não temos capacidade local de refiná-lo e vendê-lo a um preço maior”, lamenta. Na sua perspectiva, Angola, se quer se tornar competitiva nos próximos anos, precisa de quadros que possam industrializar

o país, tendo, no entanto, reconhecido que há um esforço muito positivo nesse sentido, sendo que “a economia angolana está mais diversa e já não está tão dependente do petróleo”.

A sustentar, Godinho diz que hoje já é possível ir-se ao supermercado e encontrar vários produtos manufacturados localmente. “Portanto, temos feito progressos, mas acho que não podemos parar por aqui. Nós temos de começar um dia a sonhar com indústrias mais robustas. Temos de sonhar também com Angola como um hub de inovação e com um potencial de chegar ao G30”, augura.

Na visão de Carlos Godinho, tudo depende de Angola, já que existem nações que não têm metade dos recursos que o país possui e estão bastante desenvolvidas, indicando como exemplos o Japão e a Coreia do Sul, entre outros.

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