Assinala-se hoje o Dia de África. A data é comemorada todos os anos em alusão à fundação da então Organização da Unidade Africana (OUA), hoje conhecida como União Africana (UA), a 25 de Maio de 1963, na Etiópia, com o objectivo de defender e emancipar o continente.
O 25 de Maio foi estabelecido como o Dia de África ou da libertação de África pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972. Embora a OUA tenha sido substituída pela UA, em 2002, a celebração da data manteve-se.
A data, que recorda a luta pela independência do continente africano contra a colonização europeia e contra o regime do Apartheid, assim como simboliza o desejo de um continente mais unido, organizado, desenvolvido e livre, é celebrada em vários países do continente e pelos africanos espalhados um pouco por todo mundo. Em países como o Gana, o Mali, a Namíbia, a Zâmbia e o Zimbabwe, o dia de África é feriado nacional.
Passados 58 anos, os objectivos que nortearam a constituição da actual UA continuam a ser uma miragem. São vários os desafios que o considerado continente berço da Humanidade ainda tem pela frente, muitos ligados a questões básicas de sectores como os da educação, saúde e a saneamento básico.
A luta contra a Covid-19 domina actualmente a agenda de todos os Estados africanos, à semelhança dos demais do mundo, mas existem outros desafios sobejamente conhecidos e que parecem não ter fim, segundo consideram os opinion makers ouvidos pela FORBES.
A erradicação de várias doenças endémicas, a exclusão social, a oferta de um ensino de qualidade, a luta contra a corrupção, a pobreza estrema, os modelos económicos copiados da Europa, o acesso a água potável e energia eléctrica, a estabilidade política e militar de alguns países e o aproveitamento dos cérebros africanos são alguns dos desafios que, na visão dos interlocutores, África ainda tem por enfrentar.
“Todos estes problemas estão identificados pelos líderes africanos, mas, infelizmente os mesmos [líderes] são aconselhados pelas potencias internacionais que aplicam vários modelos económicos traduzidos em realidades que não se enquadram com a do nosso continente e de seus povos”, refere Elizeu Vunge. Por esta razão, sustenta o docente universitário, não se consegue avançar e os povos são impedidos de viver os benefícios que África oferece.
Elizeu Vunge defende ainda que o desafio de acabar com os conflitos em alguns países do continente deve constituir prioridade na agenda de cada um dos governos e dos líderes vizinhos destes, pois os grupos rebeldes, com as guerras que promovem, vão alimentando os interesses das potencias mundiais, atrasando o desenvolvimento do continente.
Para o politólogo Olívio Kilumbo, é o momento de África ter a autonomia e a capacidade de resolver os seus problemas de forma independente. “Não se percebe essa falta de interesse dos líderes africanos em apostarem no desenvolvimento do continente. África precisa de ter autonomia, e só terá autonomia quando tiver os seus próprios centros de pesquisa e estudo direccionados para diversos sectores para dar resposta aos desafios”, diz.
Olívio mostra-se preocupado com a falta de capacidade interna que o continente apresenta para puder ultrapassar os graves problemas de saúde que afectam muitos países africanos, como é o caso das doenças tropicais negligenciadas.
“O que África está a passar, por exemplo, para conseguir as vacinas da Covid-19 é lamentável”, afirma o especialista, apontando, no entanto, que, entre os países africanos, existem aqueles que podem servir de exemplos para o caminho do sucesso em diversas frentes rumo ao desenvolvimento.
“África do Sul, Marrocos, Egipto e agora o Ruanda, que começa a entrar na linha da quarta revolução tecnológica, podem ser aproveitados para partilha de políticas que internamente funcionaram e têm funcionado em cada um deles”, enumera.
Elites e o desenvolvimento de África
A luta pelo desenvolvimento do continente e um maior aproveitamento das suas riquezas é também para os analistas uma grande preocupação que muito tem travado o progresso. Quase que na sua maioria, as individualidades ouvidas pela FORBES elegem as elites como um grande problema para África.
“Criaram-se elites endinheiradas e protegidas pelos políticos que ganham fortunas com o insucesso do continente e com as parcerias que têm com os países poderosos”, enfatiza Olívio Kilumbo.
Por esse facto, o politólogo sugere que a alternância do poder político em África é uma das soluções para que muitos países do continente estejam libertos das amarras daqueles que tudo fazem para se perpetuar no poder. “A cimeira de Paris sobre o financiamento das economias africanas vem mostrar o nível de dependência que África tem com os países europeus. Não se percebe como é que um continente com recursos minerais e energéticos, com um enorme potencial que alimenta o mundo, tem que reunir a convites de países da Europa e os mesmos definirem o futuro de África, quer nos aspectos económicos, quer nos sociais”, lamenta.
Recorde-se que na recém-realizada cimeira de Paris estiveram presentes 30 chefes de Estado africanos e europeus, que se colocaram na linha da frente para resolver a crise da dívida que tem dificultado o crescimento das economias.
Os interlocutores são unânimes em afirmar que para se fortalecer a democracia em África e abrir caminho para o desenvolvimento e crescimento deve-se também trabalhar na consolidação da democracia e da boa governação, instalar uma cultura política de alternância do poder, através da realização de eleições regulares, livres, justas e transparentes, conduzidas por órgãos eleitorais nacionais competentes, independentes e imparciais, promover os valores universais e os princípios de democracia, bem como a boa governação.