A comunidade bancaria angolana deve organizar-se para transformar o Open Banking – conjunto de regras e tecnologia que permite compartilhar dados e serviços de clientes entre as instituições financeiras, por meio da integração dos respectivos sistemas – uma realidade em Angola, defendeu em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, Pedro Cancela de Abreu, director executivo da Empresa Interbancária de Serviços – EMIS.
Pedro Cancela de Abreu revelou a EMIS está a preparar para este ano o lançamento no país do primeiro sistema de pagamentos que vai juntar o sistema bancário e o não bancário, para viabilizar transferências instantâneas entre as instituições financeiras dos dois segmentos [bancário e não bancário], nomeadamente os prestadores de serviço de pagamento.
“O Open Banking esta previsto na lei. Por este motivo, tem tudo para se meter em prática e o papel da EMIS será muito importante, nomeadamente para implementar uma infra-estrutura centralizada, aberta a todos os participantes nestes serviços e a todos os players do mercado, começando pelos bancos que têm que abrir os seus sistemas, abrir o acesso à informação das contas, como também os outros prestadores de serviços que gerem contas”, disse o gestor, depois de ter feito uma apresentação sobre o tema, num evento organizado pela consultora KPMG, denominado “Open Banking & Open Finance e as suas vantagens para o ecossistema empresarial angolano”.
O evento reuniu, em Luanda, mais de 40 participantes, entre eles gestores bancários, especialistas financeiros, empresários e líderes de bancos a operarem em Angola.
Para Vitor Ribeirinho, CEO da KPMG, apesar de todo um sistema bancário na África lusófona estar muito atrás das realidades avançadas, Angola ainda apresenta um mercado “com muito boa sofisticação”. Segundo disse, uma implementação séria do Open Banking demonstraria maturidade do sector bancário.
“Os bancos já perceberam que a única forma de evoluir e ganhar dinheiro com o Open Banking é o próprio banco ser uma oferta alternactiva para o seu cliente”, afirmou Vitor Ribeirinho. Por outro lado, o consultor garante que a segurança estará sempre acautelada, sendo que cada entidade bancária detentora de informações deve partilha-la tal como determinado por lei, para que se protejam os dados dos clientes contra violações.
“Cada um de nós tem a opção de aceder ao Open Banking e têm a obrigação de o fazer porque os dados são dos clientes e têm o direito de os disponibilizar. Atenção que a disponibilização dos dados não é aberta a qualquer pessoa, só se o próprio cliente aceitar e der autorização é que esses dados são partilhados por terceiros”, alerta o CEO da KPMG.
Vitor Ribeirinho denuncia que os bancos criaram dificuldades para evitar a partilha de informação: “os bancos, não podendo contrariar a lei, criaram algumas dificuldades operacionais que impediam plataformas como esta que estamos a falar, o Open Banking, buscar essas informações, acabando por criar dificuldades, quer para os clientes como para muitas outras organizações financeiras não bancárias”, afirma.