O Banco de Cabo Verde (BCV) anunciou, Sexta-feira, 6, a revisão em baixa e uma moderação do crescimento económico para 2022 no intervalo de 3,5% a 4,5%, justificada com o conflito na Ucrânia e a tensão geopolítica, quando em Outubro do ano passado tinha prognosticado uma ascensão entre 4,7 e 5,6%.
Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, o governador do BCV, Óscar Santos, explicou que, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia as perspetivas económicas para este ano estão “fortemente influenciadas” pelos elevados níveis de incerteza e o aumento dos riscos e tensões geopolíticas e financeiras.
“As projecções, face às divulgadas em Outubro, refletem uma revisão em baixa do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto], como consequência da perda do poder de compra induzida pela subida da inflação e da revisão, em baixa, do crescimento das economias dos principais parceiros económicos do país”, sustentou, citado pela Lusa.
Antes do conflito da Ucrânia, Óscar Santos notou que a economia cabo-verdiana “seguia no caminho certo da recuperação”, com o PIB a crescer 7% em 2021, depois da recessão histórica de 14,8% em 2020, devido à pandemia da Covid-19.
Com o cenário actual, o BCV prevê ainda uma taxa média de inflação de 7,3% em 2022 – em finais de 2021 foi de 1,9% –, refletindo os elevados preços de matérias-primas energéticas e não energéticas e a sua transmissão aos preços internos.
“O conflito, apesar de regional, teve consequências globais, alimentando, por exemplo, o aumento da inflação jamais visto nas últimas duas décadas”, reforçou.
Óscar Santos referiu que os primeiros sinais da inflação surgiram com a reabertura gradual das economias, num contexto de aumento da procura que não foi acompanhada pelo aumento da oferta, provocando roturas nas cadeias de abastecimento globais.
O responsável máximo do regulador do sistema financeiro em Cabo Verde considerou que a inflação poderá ter atingido o seu “pico”, esperando que comece a descer a qualquer momento, a não ser que a guerra na Ucrânia se prolongue por muito mais tempo.
Para os próximos seis meses, o BCV avançou que a política monetária deverá continuar “marcadamente acomodatícia”, considerando que as actuais pressões inflacionistas resultam, em grande medida, de choques na oferta internacional e não propriamente do aumento exacerbado da procura interna.
Por isso, entendeu que uma eventual intervenção poderá não surtir o efeito desejado, mas considerou que os estímulos monetários são ainda fundamentais para promover a concessão de crédito à economia. Na conferência de imprensa, Óscar Santos avançou também que o stock de reservas internacionais líquidas do país continuará a garantir pelo menos cinco meses de importações de bens e serviços projetados para 2022.
Lusa