O Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, apelou Segunda-feira, 16, em Luanda os países produtores de petróleo em África a se manterem unidos e capazes de defender os interesses do continente, sob pena de mais de 125 biliões de barris de crude e mais de 500 triliões de pés cúbicos de gás de reservas comprovadas ficarem para sempre inexplorados.
O estadista que falava por ocasião da abertura da 8ª edição do Congresso e Exposição Africano de Petróleo e Gás (CAPE VIII), lembrou que, durante várias décadas, os projectos da indústria petrolífera africana nas suas três fases de desenvolvimento eram financiados com recurso exclusivo ao capital estrangeiro, situação que, antevê, se pode alterar como resultado da mudança do paradigma global dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.
“Se as instituições nas quais confiamos fortemente durante vários anos decidirem acabar com o investimento na principal fonte de receita dos nossos países, temos que encontrar em conjunto uma solução interna que nos permite aproveitar os nossos recursos energéticos, como a reforma e reestruturação do Fundo APPA para Cooperação Internacional e o trabalho que vem sendo realizado com o Afreximbank para a criação de um Banco Africano de Energia”, indicou o líder angolano.
João Lourenço elucidou que, historicamente, o petróleo e o gás africanos foram explorados e produzidos principalmente para atender à procura externa dos países industrializados da Europa, América e Ásia, alertando para o “sério risco” que se corre hoje de se ficar sem mercado num futuro próximo.
A realidade africana, reforçou o chefe de um dos Estado que mais produz “ouro negro” em África, demonstra que uma parte significativa de pessoas no continente não tem acesso à electricidade nem a nenhuma outra forma de energia moderna para uso doméstico. Isto, sugeriu, implica a necessidade da criação de um mercado africano capaz de absorver uma fatia maior do petróleo e gás que o continente produz.
“A médio/longo prazo, os combustíveis fósseis estão condenados a ser banidos definitivamente como uma das medidas para a proteção do Ambiente e, consequentemente, do nosso planeta”, alertou.
Entretanto, João Lourenço reconheceu que “todos nós estamos obrigados a aderir à necessidade da transição energética para salvarmos o planeta Terra, nossa casa comum”. Contudo, defendeu a necessidade dessa transição ser um processo gradual e responsável, que defenda o planeta sem que traga mais fome e a miséria aos povos daqueles países que têm na exploração do petróleo e gás a sua principal fonte de divisas.
Enquanto acontece o processo de transição energética, o Presidente de Angola aconselhou os países africanos a acelerar a diversificação de suas economias e aproveitar ao máximo as receitas do petróleo para a industrialização do continente.
“Sabemos que não é fácil porque temos pouco tempo, mas não temos outra escolha se não nos mentalizarmos que, por ser necessário, tem de ser possível!”, concluiu.
Sob o lema “Transição Energética, Desafios e Oportunidades na Indústria Africana de Petróleo e Gás”, o CAPE VIII decorre até à próxima Quinta-feira, 19, com a participação de 15 países-membros da Organização Africana dos Produtores de Petróleo (OAPP), executivos de várias operadoras da indústria, além de cinco países observadores.
O evento é organizado pela OAPP, pelo Governo da República de Angola (que se estreia) e pela AME Trade Lda., com o Apoio do Ministro angolano dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, bem como da sua Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG).