Professor na Nova SBE
Artigo incluído na edição de Junho 2018
O estudo dos comportamentos desviantes, ou comportamentos voluntários que violam normas organizacionais importantes e que, como tal, ameaçam o bem-estar da organização, tem acompanhado a tendência crescente de preocupação com o ‘lado negro’ da gestão.
Sabemos que comportamentos como fazer pausas excessivas, desperdiçar recursos, espalhar boatos ou culpar frequentemente os colegas têm efeitos negativos no desempenho das empresas, acarretando custos financeiros significativos. Mas, se já sabíamos que estes comportamentos têm custos para as organizações, faltava ainda explorar as potenciais consequências individuais para quem os coloca em prática.
De facto, estas atitudes também têm impacto na auto-imagem e reputação de moralidade dos próprios perpetradores, o que pode ser extremamente stressante. Mesmo quando são exibidos como forma de retaliação (por exemplo, àquela promoção que acabou por não chegar) e como tal parecendo ‘justificados’, estes comportamentos levantam questões importantes acerca de nós próprios. E essas questões reflectem-se em maior stress, visto que todos temos a necessidade de manter uma auto-imagem positiva – imagem essa que não é consistente com os comportamentos acima mencionados.
Foi precisamente isto que a equipa liderada por Zhenyu Yuan da Universidade de Iowa/Academia Chinesa de Ciências e publicado este ano no “Journal of Applied Psychology” procurou estudar. A equipa de Yuan acompanhou trabalhadores ao longo de duas semanas pedindo-lhes para avaliar os seus comportamentos desviantes ao longo de cada dia e vendo os seus efeitos na ruminação e insónia (medidos no dia seguinte de manhã). Controlando os níveis de exigência do trabalho, bem como o número de horas de trabalho em cada dia, os autores verificaram que, quanto mais um trabalhador exibia comportamentos desviantes num determinado dia, maior a ruminação sobre os problemas desse dia e, consequentemente, maior a dificuldade em dormir. Curiosamente, este padrão de resultados foi semelhante para participantes chineses e americanos.
A ideia de que exibir comportamentos desviantes pode ter consequências negativas para o próprio, precisamente porque cria défices morais (eu perdi a razão ao comportar-me desta forma), é interessante. Por um lado, mostra que estes comportamentos são alvo não apenas de sanções sociais, mas também de sanções internas que os tornam particularmente stressantes. Isto é importante pois sinaliza que os próprios perpetradores se sentem desconfortáveis com a sua escolha de acção, ou seja, que não é apenas um comportamento de quem ‘se está nas tintas’.
Um gestor poderia, à primeira vista, responder a este resultado com um meio-sorriso representativo de heurísticas na linha do ‘cá se fazem, cá se pagam’, mas, na realidade, a insónia apenas agrava o caso para a organização. Se quer reduzir o impacto de ter alguém que exibe comportamentos desviantes e que ainda por cima tem dificuldade em fazer o seu trabalho devido a um acumular de insónias, a única forma de o conseguir fazer eficazmente é compreender as razões subjacentes ao comportamento desviante e agir directamente sobre elas. Caso contrário, serão os próprios gestores a perder o sono.