O grupo Carrinho acaba de apresentar um Estudo para o Desenvolvimento de Fileiras Produtivas Essenciais, contendo a sua visão estratégica de médio prazo que prevê implementar até 2030, em busca da auto-suficiência do abastecimento da capacidade industrial para os produtos da cesta básica, uma empreitada que deverá custar entre 8,2 mil milhões a 8,5 mil milhões de dólares.
Denominado “Carrinho 2030 Insights”, o estudo que a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA teve acesso na íntegra, apresenta o Modelo Económico da Carrinho (MEC), que visa a transformação de uma empresa de catering, distribuição e importação, em agro-industrial. A visão global do grupo centra-se em três vectores-chave, nomeadamente a auto-suficiência, industrialização e exportação.
Alicerçado por explorações agrícolas familiares e empresariais, o grupo, através da visão “Carrinho Targets 2030”, tem como objectivo atingir os 2 milhões de produtores no seu programa de fomento, 2 milhões de hectares feitos por produtores familiares e 200 mil hectares em fazenda de larga escala, por forma a cumprir com a s suas ambições industriais e comerciais.
Os produtos principais em que se pretende apostar são o arroz, o trigo, o milho, o feijão, a soja, o algodão e a palma, que a administração da empresa diz entender que Angola tem potencial e que pode ser auto-suficiente na sua produção. A “visão 2030” projecta para o grupo uma capacidade industrial anual de 8 530 000 toneladas (Ton.), em que para o milho serão 2 400 000 Ton./ano, soja (1 200 000), trigo (1 680 000), arroz (1 260 000), palma (1 000 000), açúcar (900 000), feijão (70 000) e algodão 20 000 tonelada por ano.
Com o fomento ao nível da produção das fileiras seleccionadas, o grupo Carrinho pretende influenciar a oferta para garantir auto-suficiência do abastecimento da sua própria capacidade industrial e, como consequência, impactar directa e indiretamente as condições dos produtores e famílias ao abrigo do programa de fomento.
“A Carrinho nos últimos 30 anos tomou a decisão de reinvestir integralmente os lucros na sua visão e nos projectos visando a transformação da empresa de catering trading e distribuição, em uma empresa industrial, com o foco no estabelecimento de uma infra-estrutura verticalmente integrada do sector alimentar”, referiu Samuel Candundo, CFO do grupo, no acto de apresentação do estudo, que teve lugar em Benguela.
A empresa familiar angolana, procura assim desenvolver uma estrutura verticalmente integrada no sector alimentar, “contribuindo activamente” para a auto-suficiência alimentar e nutricional de Angola. “Aliada a essa visão, o grupo tem a missão de fomentar a produção nacional, através de produtos alimentares de elevada qualidade, de forma mais eficiente possível, e sempre com um elevado sentido de responsabilidade social”, lê-se no documento.

De acordo com Nelson Carrinho, CEO do grupo, o arranque das actividades da Carrinho Agri marca o início do ciclo da originação das matérias-primas localmente, no quadro da estratégia de integração invertida. A Carrinho Agri foi concebida com o objectivo de autonomizar a linha de abastecimento da sua frente industrial alimentar, por meio de um programa de fomento à agricultura familiar que envolve milhares de famílias angolanas. “Se por um lado foi um marco histórico alcançado, por outro, impôs o desafio de pensarmos como chegar à auto-suficiência na originação de sete fileiras de produtos agrícolas matérias-primas do complexo industrial e três proteínas”, considera.
Foi então daí, explica, que surgiu a ideia de desenvolverem um estudo “que pudesse ajudar a entender o dimensionamento do mercado das commodities a fomentar, a quantificar o volume de investimento necessário para prover os agricultores individuais, o investimento necessário em fundo circulante para a aquisição de insumos e ferramentas e utensílios agrícolas, bem como o investimento em infra-estruturas logísticas para apoiar o fomento da agricultura familiar”, um desafio proposto à Deloitte, que desenvolveu o referido estudo, com o CEIC – Centro de Estudos e Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola (UCAN) a monitorar os impactos da implementação do projecto nas vidas dos produtores em particular, nas economias locais e nacional, dado que a originação vai ser a base do fomento da agricultura familiar.
“Nós temos uma paixão profunda por Angola, nós acreditamos que Angola tem potencial para se tornar no maior player do agro-negócio a nível do nosso continente. A Carrinho quer fazer parte deste potencial e quer de alguma maneira contribuir positivamente para esta auto-suficiência. É nesta base que nós estruturamos o nosso documento que é a nossa visão 20-30”, afirmou o CEO do grupo.
Por forma a materializar as ambições de obtenção da soberania alimentar até ao final da presente década, torna-se imperativo um compromisso de captação financeira que permita edificar os alicerces do sector agro-pecuário.
O Estudo para o Desenvolvimento de Fileiras Produtivas Essenciais calcula que venham a ser necessários entre 8,2 mil milhões a 8,5 mil milhões de dólares, como já referido, para a rúbricas factores de produção – mecanização e insumos (6,7 mil milhões de dólares), transporte – frota de veículos (1,1 mil milhões de dólares), armazenamento e secagem – com capacidade necessária de 3 milhões de toneladas (480 milhões de dólares).
Impacto do Carrinho 2030 Insights
Espera-se que a assistência técnica do grupo Carrinho, no âmbito da sua estratégia 2020-2030, venha a permitir um incremento na produtividade das explorações agrícolas apoiadas, e consequentemente no volume de produção. Num cenário de apoio a 100% dos agricultores a produção nas seis províncias – Benguela, Huambo, Cuanza Sul, Bié, Malanje e Huíla – em que a estratégia será implementada pode registar um incremento médio de 168%, com maior impacto nas fileiras do feijão, trigo e milho, como consequência do maior diferencial de produtividade assegurado pela empresa.
A produção resultante da assistência técnica do grupo poderá corresponder a 41% da produção nacional das sete fileiras até 2030. Entretanto, o apoio integral aos agricultores destas regiões é uma hipótese teórica, na medida em que está sujeita a restrições como o elevado investimento em recursos financeiros, humanos e infra-estruturas de suporte, assim como a existência de outros agentes no mercado, acautela o estudo.
Num segundo cenário, de apoio parcial aos agricultores das chamadas “províncias Carrinho,”, a distribuição estratégica do esforço pelas diferentes fileiras poderá resultar num maior impacto nos níveis de produção. Assumindo uma produtividade de 3 toneladas por hectare, as fileiras do feijão e do trigo poderão ser as mais impactadas pelo apoio da Carrinho. Em comparação com o primeiro cenário, o documento conclui que a garantia de produtividades mais elevadas tem um impacto significativo no potencial das fileiras.
A intervenção da Carrinho poderá permitir um aumento médio de 278% no rendimento das famílias apoiadas para as fileiras do milho, soja, arroz, feijão e trigo, suportado também pelo aumento mais acelerado do Valor Acrescentado Bruto (VAB) do setor agrícola. Entre os principais factores que influenciam a evolução do VAB do sector agrícola o estudo incluí a produtividade das culturas, a eficiência na utilização dos recursos, as condições climáticas e os preços dos produtos agrícolas no mercado interno e internacional.
O resultado obtido para o modelo estimado considera um crescimento derivado da intervenção do grupo Carrinho, resultante das acções de fomento da produção das fileiras, registando um crescimento diferenciado de acordo a capacidade de fomento estimada para cada uma das fileiras. Desta forma, as acções de fomento do Grupo Carrinho, podem contribuir na elevação do VAB agrícola em até 7%, em comparação com o VAB resultante do crescimento natural das fileiras, dentro de um horizonte temporal de 10 anos.
Impacto no rendimento diário per capita das famílias apoiadas

O aumento da produção derivado da melhoria da produtividade por hectare pode causar uma variação global de 278% do rendimento bruto dos agricultores, sendo que o maior impacto micro poderá registar-se na fileira do feijão (+481%), seguido do trigo (+320%), arroz (+291%) e milho (+481%). Deste modo, o rendimento médio das famílias poderá passar 463 Kz/dia para 1 756 Kz/dia, o que pode corresponder a um salário mínimo mensal de 38.637 Kz, acima do actual.
Noutra vertente, o fomento da produção poderá reduzir a população afectada pela pobreza em 28% nas seis províncias intervencionadas pela Carrinho, gerando simultaneamente novos empregos a montante e a jusante ao sector agrícola.
Neste contexto, a implementação de projectos incidentes na agricultura familiar não deverá resultar na criação de novos agricultores. Em vez disso, espera se uma melhoria na qualidade do trabalho das pessoas que já se dedicam à exploração agrícola. “De facto, é mais provável que o progresso tecnológico nos factores de produção leve à libertação de mão-de-obra, pelo que a criação de empregos pode ocorrer principalmente nos sectores a montante e a jusante ao sector agrícola”, perspectiva o estudo.
Impacto sobre a pobreza
Nas seis “províncias Carrinho”, indica o documento elaborado pela consultora Deloitte, a incidência de pobreza é maior que a média nacional. No entanto, acredita-se que o apoio do grupo Carrinho pode impactar positivamente em indicadores como nutrição, acesso a serviços de saúde, educação e bens industriais. Já indicadores como electricidade e saneamento, que estão dependentes de intervenção do Executivo, podem não ser influenciados pela acção do Carrinho.
As províncias seleccionadas concentram cerca de 9 826 799 pessoas que se encontram na condição de pobreza. Se o projecto de desenvolvimento de fileiras do grupo Carrinho conseguir prestar assistência técnica a mais 552 mil agricultores nestas províncias, poderá afectar o correspondente a 28% da população pobre localizadas naquelas áreas.
Na sua intervenção no acto de apresentação do estudo, Nelson Carrinho enfatizou que o “Carrinho 2030 Insights” é resultado de alguns meses de trabalho, “transformando simples conjecturas num melhor conhecimento do mercado interno e externo das sete fileiras, base das commodities procuradas pelas indústrias da Carrinho”, e que projecta as necessidades em investimento financeiro para tornar realidade o fomento das matérias-primas necessárias para a concretização das metas à que o grupo de propõe, bem como dimensiona as necessidades de investimento para a implantação de infra-estruturas logísticas para apoiar a operação de fomento.
“Estamos certos de que não é um documento completo, vai, certamente, precisar de ajustamentos ao longo dos sete anos. Porém, estamos confiantes de que é o ponto de partida, pois o caminho faz se caminhando”, concluiu.