Uma cantora que tem levado o nome dos PALOP além-fronteira, com a sua voz, dança e cultura cabo-verdiana. As suas canções são ouvidas em vários pontos do globo. Soraia Ramos, em conversa com a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, desvenda o segredo para se manter na boca do mundo.
De 31 anos de idade, a cantora conta que começou a dar os seus passos na música fazendo covers de vários artistas, entre eles o músico angolano C4 Pedro, que segundo diz, terá ficado maravilhado e convidou-a a cantarem juntos num show em Paris, França, algo que aceitou sem hesitar.
Momentos depois, em 2010, Soraia classificou-se em primeiro lugar na competição “Vozes da Diáspora”, realizada na Suíça. De lá para cá já não mais parou, somando várias actuações e levando consigo vários prémios na sua trajectória que, de acordo com a cantora, tem sido fruto de muita disciplina e empenho no seu trabalho.
“Faço música com alma e isso acaba por espelha a minha essência e é isso que faz com que a música não tenha fronteira e nem língua. Nunca pensei, por exemplo, que iria bater nos EUA e no Brasil. Isso aumentou ainda mais o meu gosto de fazer música. O meu segredo é fazer as coisas com amor”, revelou.
Soraia Ramos tem ocupado um lugar de destaque no actual panorama musical. As suas canções somam milhões de visualizações nas diversas plataformas digitais. Só o single “BKBN” ultrapassa as 19 milhões de visualizações. Em 2020, foi nomeada para quatro prémios dos MTV Awards e dois anos depois ganhou o prémio de melhor artista feminina da África Central, com o single “Trompete”, que contou com a participação da artista Nenny.
“2023 concretizei todos os meus projectos”

Na recta final do ano, a cantora cabo-verdiana faz um balanço positivo. Garante que “todos os projectos profissionais traçados foram concretizados”, entre eles o seu primeiro álbum intitulado “Cocktail”. O disco, já está disponível em todas as plataformas digitais, tem 15 faixas musicais dos estilos musicais kizomba, r&b, rap e pop. Trabalhado pela produtora Harmonia, o álbum mostra uma fusão de influências e culturas que, no dizer da autora, reflectem a sua diversidade.
Soraia Ramos realça o facto de o seu primeiro álbum chegar ao mercado, depois de ter lançado cinco singles “que continuam a fazer muito sucesso pelo mundo a fora”, nomeadamente “BKBN”, “Trompete”, “Nha Terra”, “Quero Fugir” e “Muda”.
“Este álbum é uma descoberta de quem sou, a minha verdadeira identidade. É um álbum em que mostro a minha versatilidade. Trata-se de uma mistura de ‘Soraias’, de sonoridades e de histórias. É um verdadeiro Cocktail do que a música representa para mim”, disse a cantora, visivelmente emocionada.
A jovem cabo-verdiana considera o seu álbum “uma quebra de barreiras”, na medida em que diz ter experimentado novas sonoridades e terá saído da sua zona de conforto. Ao longo do disco tem canções de sabor r&b, como algo mais pop, kizomba, experiências com o drill, o rap e até com a música trap.
“Mas todos os temas estão unidos pelo talento da artista em fluir a sua voz entre diferentes idiomas, conectando-se com públicos de todo o mundo, unindo pessoas através da música”, apontou.
O disco conta com colaborações especiais de Nenny, Apollo G e Carolina Deslandes. Com Nenny gravou o single ‘Trompete’, que já soma mais de 3,2 milhões de visualizações no YouTube. O rapper Apollo G é outro dos colaboradores, no single ‘Muda’, com 2,3 milhões de visualizações, no qual Soraia Ramos ousou de forma autêntica mostrar novas facetas da sua personalidade. A terceira colaboração deste “Cocktail”, a que a cantora considera “uma surpresa”, foi ter convidado a Carolina Deslandes para cantarem juntas um dos novos temas do disco.
A cantora, que assume estar a fechar o ano em grande, anseia começar 2024 também em grande. Para 30 de Março do próximo ano a artista tem já agendado um grande concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Portugal.
“Vivo apenas da música”
Soraia Ramos garante que, actualmente, vive apenas da música, tendo afirmado que com as suas parcerias e os vários shows que realiza consegue se manter e desenvolver outros projectos pessoais.
“Vivo apenas da música. Há sete anos que a minha fonte de renda vem da música. Porquê que os outros artistas de fora vivem da música e nós não? Por tanto, a nossa música é arte também. Não me vejo a fazer outra coisa se não a música. Vou dar sempre o meu máximo na música de maneira a que continue a viver só disto”, enfatizou.
A cantora revela que anualmente consegue facturar mais de meio milhão de euros com os seus shows, conteúdos na internet e tantas outras parcerias.
“Cada ano é um ano. Há anos que cheguei a fazer 60 shows, outros apenas 40. Portanto, a minha facturação varia de ano a ano, por que nem sempre ganhamos apenas com os shows, as vezes também com as plataformas digitais”, esclareceu.

Deixar legado não apenas com a música
Soraia ramos revelou ainda que pretende construir uma escola de música e não só, como forma de deixar o seu legado em Cabo Verde. Abrir um centro para acolher crianças e jovens também é um dos planos da cantora, realçando que com isso ela poderá ajudar naquilo que os jovens pretendem ser, desde as artes á outras profissões.
“Apostar na educação é fundamental para nossas comunidades e quero construir essas escolas para incentivar vários jovens que estão nos caminhos errados que, por eventualmente não estarem a ser ajudados, encontram-se nos bairros a fazer muita coisa má. Eu vim do bairro e quero que todos do bairro vençam”, referiu.
Por outro lado, a cantora disse que o facto de ser uma mulher da África lusófona, aumenta a responsabilidade de dar voz as outras mulheres africanas, através da música e a cultura.
“Quero continuar a levar a cultura africana em qualquer parte do mundo, mostrar ao mundo que nós mulheres africanas temos mentes brilhantes e que podemos actuar em qualquer área”, projectou.