Opinião

A doença de alguns profissionais: assiduidade e pontualidade

João Manuel

Todos somos gestores naquilo que fazemos, ou seja, somos gestores por natureza. Portanto, isso faz com que as pessoas comecem a pensar na gestão no tempo e não na gestão do tempo, porque o tempo é um recurso não renovável, por isso, a sua gestão é feita durante o tempo, ou seja à medida que ela passa nós programamos e realizamos os nossos desejos, mas a gestão do tempo é como se tivéssemos o controlo dela: podemos travar, recuar e muito mais, quando na realidade não podemos fazer essas coisas. A gestão feita no tempo é mais eficiente, eficaz e ajuda-nos a cumprir pontualmente as nossas obrigações laborais.

Ser assíduo e pontual é saber fazer gestão no tempo. A assiduidade diz respeito a presença contínua do profissional, estudante ou qualquer cidadão no local de trabalho, nas reuniões familiares em qualquer compromisso. A pontualidade refere-se ao cumprimento regular da carga horária que lhe é apresentada. É nestes dois pontos que nós jovens, e não só, temos deixado a desejar. Tanto a assiduidade e pontualidade são qualidades muito valiosas como profissionais e é um luxo ter essas duas qualidades.

Um profissional não assíduo é como alguém que não se importa com o que faz, porque a ausência contínua no local de trabalho, sem justificação, é falta de gestão no tempo e desrespeito aos objectivos da organização. O mesmo se dá à pontualidade. Quando não somos pontuais, comprometemos os objectivos da organização. E quando somos docentes, a responsabilidade é maior, porque os estudantes têm a tendência de aprender com os nossos [maus] hábitos e o grande perigo é que eles [estudantes] sejam pior que nós e venha a trabalhar numa das empresas em que fazemos parte. De certeza, não teremos moral suficiente para cobrar aquilo que não conseguimos demonstrar, com exemplo, ao longo da formação dele. Muitos jovens são despedidos por falta de assiduidade porque comprometem o serviço ou os objectivos da organização.

Em Angola e Luanda, de forma particular, por ser uma cidade muito turbulenta, onde a maior parte das pessoas acorda cedo para se dirigir aos locais de trabalho devido o trânsito, o ideal é prevermos as dificuldades e sabemos fazer o desconto, nos antecipando, pelo menos, 45 minutos ou mais, da hora em que nos devemos apresentar. Se tivermos o hábito de fazer gestão no tempo de que podemos estar no engarrafamento, na luta do táxi, até chegarmos ao nosso destino, certamente seremos bem-sucedidos.

O professor Doutor João Milando, sociólogo, na sua obra “Poderes Abusivos”, aconselha em não marcar compromisso em “horas garrafais”, considerando “horas garrafas” como 8h:00, 9h:00 e justifica que as reuniões devem ser marcadas por exemplo as 8h:05min ou 9h:10min, porque quando se marca e ponto, a pessoa esta aberta a chegar a qualquer minuto e dizer que não atrasou, mas quando os minutos estão claro podemos sim dizer se atrasou ou não. Neste quesito, o controlo da pontualidade tem o seu valor. Ser pontual é fundamental. O profissional chega minutos antes do arranque da sua actividade, isso faz muita diferença porque o permite verificar se esta tudo conforme para o arranque do trabalho. Já imaginou chegar num banco 9h:00 e ainda não começarem o atendimento? Como as pessoas ficam? É a mesma forma que os outros nos encaram quando não somos pontuais nas reuniões, no consultório médico, na empresa, na escola, na sala de aula, etc.

Com a pandemia da Covid-19, muitos hábitos empresariais foram alterados. Em algumas empresas já não é tão importante estar presente no local de trabalho, criaram-se condições para que o funcionário trabalhe a distante, via zoom por exemplo. Neste quesito a assiduidade e pontualidade nos trabalhos a distância são muito bem observadas. À hora marcada para se estar no zoom, o profissional deve estar, porque os trabalhos à distância são monitorados e consegue-se perceber que horas o funcionário entrou ou saiu.

Todos os profissionais devem manter a assiduidade e pontualidade como qualidades prioritárias nos compromissos laborais que têm, porque é sinónimo de respeito e comprometimento com o trabalho. Ser assíduo e pontual faz muita diferença em tudo. Desta forma, quando tivermos algum imprevisto que nos faz perder a assiduidade e a pontualidade durante algum tempo, isso torna-se um motivo de grande preocupação nos ceio dos colegas de trabalho. A tendência é que as pessoas achem que estás a passar por algum constrangimento e as mesmas pessoas ligam, solidarizam-se e não só. Mas quando a falta de assiduidade e pontualidade é um hábito, as pessoas desacreditam em você e nem sequer notam quando estas a passar por alguma situação difícil, porque você tornou uma qualidade importante, como algo sem valor na sua vida profissional.

Ser assíduo e pontual é um luxo, mas os gestores devem tudo fazer para adaptarem-se às novas tecnologias e começarem a organizar reuniões em plataformas digitais afins para situações pontuais, porque as vezes é desnecessário gastar combustível, enfrentar o trânsito para uma reunião de 30 minutos que podia ser realizada por videoconferência. Os profissionais podem ser pontuais e assíduos sem sair de casa.

Se não cultivarmos o hábito de sermos assíduos e pontuais nas universidades, vamos arrastar este problema para as empresas. É como se tem dito, “hábito faz lei”. Se treinar a sua consciência hoje para cultivar estas duas qualidades enquanto estudante, no futuro próximo serás um profissional de referência e confiável. Não basta apenas ser um profissional que apresente um serviço de qualidade, mas também assíduo e pontual. Deve haver um equilíbrio, porque assiduidade faz diferença enquanto a pontualidade desperta atenção.

João Manuel, Docente da Universidade de Luanda (IPGEST) e Mestrando em Gestão.

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