A inflação em Angola poderá ficar acima dos 20% em 2024 – Standard Bank Angola

A inflação em Angola, no próximo ano, poderá ficar acima dos 20%, de acordo com as previsões do Standard Bank Angola (SBA), contrariando os indicadores do Governo, perspectivou, há dias, em Luanda, o economista chefe da instituição para Angola e Moçambique, Fáusio Mussá. "E parece-me não coincidência que esta previsão da inflação no Orçamento Geral…
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Economista chefe do Standard Bank para Angola e Moçambique discorda da visão do governo angolano, que aponta que a inflação se mantenha abaixo dos 17% em 2024.
Economia

A inflação em Angola, no próximo ano, poderá ficar acima dos 20%, de acordo com as previsões do Standard Bank Angola (SBA), contrariando os indicadores do Governo, perspectivou, há dias, em Luanda, o economista chefe da instituição para Angola e Moçambique, Fáusio Mussá.

“E parece-me não coincidência que esta previsão da inflação no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2024 se mantenha abaixo dos 17%, porque 17% é a Taxa de Juro de política do Banco Nacional de Angola, ou seja, o que o OGE está a dizer é que não se preocupem, não vai haver aumento da Taxa de Juro”, considerou Fáusio Mussá, durante o terceiro Briefing Económico de 2023, que abordou o tema “Os Caminhos para a Recuperação Económica de Angola”.

O economista chefe do Standard Bank para Angola e Moçambique diz que discorda “completamente” desta visão, sobretudo, porque o país registou uma depreciação “muito forte” da moeda.

“E nós sabemos que o mecanismo de transmissão da moeda para a inflação é muito alto. A inflação mais baixa que Angola registou foi em Abril deste ano perto dos 10%, a última leitura de Setembro foi de 15% e a nossa previsão para o fim do ano é de 19,2%, mas, como eu disse, no próximo ano ela se mantenha acima dos 20%”, acrescentou.

Fáusio Mussá explicou que isso significa que, “em algum momento, o Banco Nacional de Angola pode sentir a obrigação de aumentar as taxas de juro, sob pena de haver taxas de Juro reais negativas, que também tem consequências para a economia do ponto de vista do quão rápido se pode descer a inflação e se estabilizar a economia”.

“Angola enfrenta uma conjuntura económica desafiadora e caracterizada por uma redução substancial do superavit da sua conta corrente da balança de pagamentos, pressões sobre o câmbio e a liquidez em moeda externa, aumento da inflação, e pressões fiscais e da dívida externa, em muitos aspectos similar ao que se observa em algumas economias africanas”, afirmou.

De acordo ainda com o economista, no actual contexto de volatilidade do preço do petróleo e de exposição à pressão do aumento das taxas de juro no mercado internacional, recomenda-se que Angola mantenha prudência na gestão macroeconómica, para suavizar o impacto sobre a economia de uma menor oferta de liquidez em moeda externa.

Por sua vez, o CEO do Standard Bank Angola, Luís Teles, sublinhou que pode haver grande oportunidade se Angola começar a focar-se mais nas exportações. “A solução deve ser o sector privado e tem de haver mais investimento por parte do sector privado, onde o SBA assume um papel na facilitação deste investimento e quer ter um papel activo, facilitador e primordial na dinamização desse investimento privado”, apontou.  

O gestor do banco sublinhou igualmente que o ano de 2023 “tem sido particularmente desafiante, com vários aspectos inesperados e consecutivos, como a elevada taxa de juro a nível internacional – não sendo esperada uma redução a curto prazo -, o conflito militar na Ucrânia e, mais recentemente, no Médio Oriente, assim como as alterações climáticas e a pressão que existe na transição energética justa, em particular em países produtores de petróleo, como é o caso de Angola”.

O Briefing Económico é um evento periódico criado em 2018 pelo Standard Bank, dirigido aos clientes da instituição, reguladores e instituições públicas, que apresenta uma visão geral sobre a conjuntura macroeconómica e perspectivas para o futuro da economia. O evento revela, por um lado, um conjunto de evoluções positivas e favoráveis para a economia nacional e, por outro, alguns dos desafios que se mantêm.

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