A integradora tecnológica “made in Angola” à conquista do mundo

A criação da TIS foi idealizada por Wilian Oliveira, um emigrante brasileiro que reside em Angola desde 2003. “Tenho hoje 42 anos, nasci no Brasil e vivo em Angola há mais de duas décadas. Cheguei a Angola com 22 anos. A minha vida adulta, na verdade, foi mais aqui do que lá”, começa por dizer,…
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Fundada em Angola há pouco mais de dez anos, a TIS surgiu com o objectivo de se tornar numa integradora de tecnologia de referência no mercado nacional.
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A criação da TIS foi idealizada por Wilian Oliveira, um emigrante brasileiro que reside em Angola desde 2003. “Tenho hoje 42 anos, nasci no Brasil e vivo em Angola há mais de duas décadas. Cheguei a Angola com 22 anos. A minha vida adulta, na verdade, foi mais aqui do que lá”, começa por dizer, no início da conversa com a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA.

Formado em Ciências da Computação, uma área da engenharia de informática, Wilian desembarcou em Angola com o objectivo de prestar serviços, na altura, à empresa Macon Transportes, na área da tecnologia. Apaixonou-se pelo país e não mais voltou à sua terra natal, pelo menos não para morar. “Senti-me abraçado. Houve uma espécie de amor à primeira vista, e desde então nunca mais saí”, afirma, manifestamente encantado.

Durante os mais de 20 anos em solo angolano, o brasileiro, que não se considera um expatriado, mas, sim, um emigrante, diz ter trabalhado já no país para diversas entidades e várias empresas, sempre na área da tecnologia de informação. “Conheço muito bem o mercado, vi o mercado crescer, vi o mercado evoluir. O mercado nacional de tecnologia de informação é o meu mercado, digamos assim. Nunca trabalhei com nada diferente a não ser tecnologia. É algo que eu faço com prazer e paixão”, gaba-se.

Desde então, vem investindo nesta área. A exercer actualmente o cargo de CEO da TIS, Wilian Oliveira conta à FORBES que a ideia para a criação da integradora tecnológica surgiu numa altura em que se encontrava a trabalhar numa empresa de engenharia como gestor de TI, onde começou a perceber que o mercado tinha necessidade de uma empresa que integrasse projectos de forma mais consolidada, que pudesse trabalhar com tecnologia, desde a parte do software, hardware, cibersegurança e que pudesse também integrar, por exemplo, serviços gerenciados, em simultâneo.

“Queremos ser uma big four, só que nacional. Então, a ideia é exportar serviços de consultoria, tecnologia e know-how nesta área tecnológica, seja conhecimentos na área de cibersegurança, na área de aplicações e sistemas gerenciados”, apontou.

Wilian não tem dúvidas de que faz todo o sentido um país como Angola exportar tecnologia, sobretudo para África, e justifica: “Somos um país africano que entende e enfrenta os problemas de África. Então, para mim, é muito mais fácil exportar serviços para um país como o Senegal, que tem desafios como os nossos, do que para um [país] europeu, que não enfrenta os mesmos desafios que nós enfrentamos. Exportar serviços de África para África é uma das nossas principais bandeiras”, declara.

Entretanto, está ciente de que a missão não se apresenta nada fácil. “Você, como uma empresa africana, precisa de provar muito mais do que você é capaz, do que se você não fosse. Se fosse uma empresa americana, uma empresa europeia, a sua competência seria mais fácil de explicar. Eu acredito muito no continente [africano], acho que tem um futuro brilhante, e a nossa visão TIS é de facto nos expandirmos para o mercado africano”, enfatiza.

A empresa, garante o gestor, foi bem-sucedida em algumas experiências que realizou no mercado da América Latina, que considera ser “muito parecido” ao africano, na medida em que “África e América Latina têm muitas coisas em comum”. No final de 2022, enumera, a empresa angolana concluiu um projecto no Brasil e outro na província argentina de Córdoba, ambos financiados pelo Banco Mundial.

No Brasil, tratou-se de um projecto na área tributária, “uma das áreas de expertise da empresa”, concretamente de arrecadação [de impostos], consubstanciado na implementação do sistema tributário do estado do Paraná, empreitada que durou quase três anos, em que a TIS foi uma das prestadoras de serviços levada pela Oracle – uma das maiores fabricantes do mundo de hardware e software, com a qual tem parceria.

“É nossa parceira porque nós somos uma das poucas empresas do mundo que conhecem a plataforma de impostos PSRM da Oracle, e ela nos convida por esta expertise para irmos para outros lugares. Convidou-nos para este desafio no Brasil, achámos interessante, fizemos o projecto, executámos e entregámos. Agora o projecto está para ser adjudicado para uma nova fase, mas, como disse, a nossa estratégia agora está muito mais virada para África, e estamos a pensar se continuamos o projecto lá ou se não”, detalha.

Em Córdoba, na Argentina, a TIS desenhou e fez a implantação do sistema tributário tecnológico da província, para que a autoridade fiscal local fizesse depois uma licitação e aí contratassem a empresa que fosse para a implementação.

“Eu sempre acreditei e ainda acredito que Angola pode ser um hub de serviços para a região. Temos competências para o ser”

Consumada que está a ambição da consolidação como uma das principais empresas de tecnologia do mercado nacional [angolano], o desafio agora passa pela internacionalização, um processo que já havia sido iniciado em 2019, no entanto, ‘bloqueado’ em 2020, como consequência das restrições impostas pela crise pandémica. O ano de 2021 foi, para a TIS, de recuperação; 2022, de restruturação; 2023, de preparação, e 2024, o de retoma do processo que levará à projecção fora de portas da agregadora tecnológica angolana, definida como a principal missão para o ano em curso.

O plano passa por iniciar a empreitada pelos países vizinhos, tidos como estratégicos. “O Congo [Democrático] é um país estratégico para nós, os PALOP, porque falamos a mesma língua. Estamos a falar de Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau – embora seja um país muito pequeno, está no nosso plano –, e também acreditamos que os países francófonos têm muito potencial. O Togo é um país a que estamos muito atentos porque está a crescer bem na região, o Senegal é  interessante, temos alguns parceiros, e o Gana também está no nosso plano, porque é um país em que já estivemos e inclusive já chegámos a apresentar propostas”, adianta, reforçando: “a ideia é, de facto, exportar serviços para a região, para trazer também divisas para o país, algo que já fazemos hoje.”

No que tem que ver com a entrada em outros PALOP, Wilian assegura terem já feito visitas aos países citados, onde tentaram identificar parceiros locais, que possam representá-los, estando previstas, no decorrer deste ano, algumas viagens a esses territórios para consolidar a presença da empresa. “Nós acreditamos que Angola tem um potencial muito grande, principalmente nos PALOP. Acho que Angola precisa de assumir este papel, que é muito claro. Somos a maior economia, somos o maior país, e acho bem natural sermos o país que, de facto, lidere esse movimento, e não só nos PALOP. Acho que na própria região da SADC Angola tem muito potencial, e acho que nós exploramos pouco o nosso potencial e podemos explorar muito mais”, refere.

Na perseguição das metas, sobretudo as da internacionalização, o CEO da TIS aponta “fazer com que África confie em África” como principal desafio que enfrentam. “Nós chegámos como uma empresa angolana e precisamos, de certa forma, de fazer muito esforço comercial para mostrar a nossa competência, o que não devia ser um problema. O segundo desafio é, muitas das vezes, nos ajustarmos aos custos desses países. Precisamos de fazer com que os nossos custos e preços sejam competitivos, mesmo estando em Angola, onde os custos são mais robustos”, descreve. Um terceiro desafio indicado pelo gestor é o recrutamento de pessoas, um processo onde assegura estarem a “investir muito”, para que possam, de certa forma, exportar capital humano para a região.

Actualmente com 350 colaboradores, a empresa tem uma média de facturação anual acima dos 10 milhões de dólares, sendo que neste ano perspectiva um volume de negócios que lhe permitirá dobrar a arrecadação da receita. O engenheiro informático que lidera a empresa garante que, por regra, ao longo dos 10 anos de existência, a TIS investe 5% da facturação em desenvolvimento do capital humano e de novas tecnologias.

“Mesmo nos tempos mais difíceis, temos conseguido ter um fluxo de facturação competitivo e gostamos de investir bastante mesmo em Pesquisa & Desenvolvimento, tanto que temos produtos nacionais desenvolvidos. Por exemplo, temos agora uma equipa da nossa fábrica de software a desenvolver sistemas de inteligência artificial”, diz.

Segundo o empresário, o que pretendem é vender para o mercado nacional uma plataforma de inteligência artificial para ajudar as empresas a melhorar a gestão interna. “É como se fosse um ChatGPT, só que com as informações da empresa, respondendo a questões que têm que ver, por exemplo, com a facturação, arrecadação correspondente a um determinado período, número de funcionários, incluindo por género, estrutura organizacional, ente outras”, detalha.

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