Nascida em Luanda há 34 anos, Kátia Santiago é uma figura proeminente no cenário gastronómico angolano, onde é conhecida como a Olokuanda Chef. Autodidacta por natureza, Kátia tem despertado o gosto pela culinária caseira em milhares de angolanos, através de receitas simples, económicas e de fácil execução. A sua paixão pela cozinha vai além de um mero hobby; é uma forma de preservar tradições familiares e unir as pessoas à volta da mesa.
Em conversa com a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, a jovem conta que o seu interesse por cozinhar remonta desde a infância. Sendo a irmã mais velha de dois irmãos, sempre teve um papel activo na cozinha da família. “A minha mãe teve uma rotina muito agitada, devido ao trabalho dela na saúde, o que me levou a entrar na cozinha mais cedo do que esperava. Graças a Deus, tenho uma mãe muito exigente, e isso ajudou-me a tornar-me na mulher que sou hoje”, afirma.
O seu amor pela culinária floresceu ainda mais após o casamento, mas foi durante a pandemia que efectivamente desabrochou. “Com o confinamento, passei muito tempo em casa, o que me permitiu explorar mais a culinária e cuidar do lar”, lembra.
A Olokuanda Chef, que já é uma marca reconhecida em Angola, está intrinsecamente ligada à partilha de refeições e à tradição familiar. Kátia Santiago explica que, inicialmente, a página foi lançada nas redes sociais com um nome diferente, mas, em busca de uma identidade, começaram a explorar as línguas nacionais de Angola. “Em conversa com o meu sogro, encontrámos a palavra ‘olokuanda’, que em kimbundu representa a união em torno da mesa. É uma celebração da família e do diálogo que se dá à mesa”, esclarece, ao explicar a identidade da marca.
Um dos principais objectivos de Kátia é desmistificar a culinária, tornando-a acessível a todos. “Quero que as pessoas percebam que a cozinha pode ser muito mais fácil do que imaginamos, utilizando os recursos que temos em casa”, realça. As suas receitas, que já conquistaram perto de 200 mil seguidores no Instagram, são caracterizadas pela praticidade e pela utilização de ingredientes básicos. “A ideia é que cada um possa adaptar as receitas à sua própria realidade”, diz, enfatizando a importância da simplicidade.
A Olokuanda Chef não se limita apenas a partilhar receitas. Também tem um forte compromisso com a promoção de produtos locais e com o apoio a pequenos fornecedores. “Desde o início, o nosso objectivo foi ajudar no desenvolvimento de empresas locais. Trabalhamos como representantes de marcas, apresentando produtos de qualidade ao público”, explica. A interacção constante com as empresas permite não só a divulgação de produtos, mas também a criação de uma comunidade unida em torno da culinária angolana.
O Valor da reunião familiar
Kátia Santiago, a Olokuanda Chef, é mais do que uma cozinheira; é uma defensora da cultura angolana, da união familiar e da simplicidade na cozinha. Através das suas receitas e do seu compromisso com a comunidade, Kátia está a deixar uma marca indelével no panorama gastronómico de Angola, inspirando uma nova geração a valorizar as tradições à mesa.
A chef destaca a importância de recuperar o hábito de reunir a família à volta da mesa. “Nos dias de hoje, as pessoas estão cada vez mais ocupadas, e o individualismo tem crescido. Queremos promover a reunião familiar, onde cada um partilha momentos à mesa, algo que não deve ser negociado”, defende. Para Kátia, o acto de cozinhar e partilhar uma refeição é uma forma de demonstrar amor e cuidado pelos entes queridos.
Quando questionada sobre os desafios que enfrentou na sua carreira, a master chef admite que, até agora, não tem tido grandes obstáculos. “Não mergulhei completamente no mundo da gastronomia, mas trabalho com culinária e gosto de cozinhar. Temos uma empresa que representa marcas, mas ainda não estou vinculada a restaurantes nem faço serviços de catering, o que me permite uma certa liberdade”, elucida.
Além de chef, Kátia Santiago é também técnica de recursos humanos e mãe de três filhos. “Nada serve se não tivermos uma rede de apoio forte. Tenho a sorte de contar com a minha família, que me ajuda a equilibrar todos os papéis que desempenho”, reconhece. Para a jovem empreendedora, a partilha de responsabilidades com o marido e a colaboração de uma equipa de confiança têm sido fundamentais para o seu sucesso.

Livro de receita está na forja
A chef de cozinha tem grandes planos para o futuro, em que pontifica a abertura de uma academia de formação em culinária no país, onde possa ensinar as pessoas a cozinhar e promover uma alimentação saudável.
O objectivo, diz a mentora do projecto, é que a academia funcione como um espaço de troca de conhecimentos e experiências, especialmente para mulheres que desejam aprender a cozinhar. “Queremos que as pessoas contemplem a culinária como uma moeda de troca que pode trazer benefícios para os lares”, sublinha.
Dos planos de Kátia consta ainda o lançamento do seu livro de receitas, que promete ser um manual essencial para as famílias angolanas. “Queremos incluir receitas típicas de Angola, mas também pratos de outras partes do mundo, sempre com produtos locais”, adianta. O livro é visto como uma ferramenta para descomplicar a culinária e incentivar as pessoas a cozinhar em casa.
Presença no digital tem sido fundamental
A chef mais acarinhada nas redes sociais reconhece a importância do digital na promoção da culinária e na prática de hábitos sustentáveis. “Quando comecei, havia poucas referências na gastronomia digital. Agora, vejo muitos chefs a partilhar o seu trabalho online, o que é encorajador”, regozija-se.
Kátia disse acreditar que a culinária pode ter um impacto social significativo e que a promoção de práticas sustentáveis deve ser uma prioridade. “Estamos a desenvolver cozinhas sustentáveis movidas a energia solar, algo que espero que contribua para a melhoria da economia e da qualidade de vida em Angola”, augura.
A master chef diz que das suas mãos não sai um prato que seja o mais procurado ou preferido dos seus seguidores, garantindo que todos os seus pratos são muito solicitados. “Acredito que a praticidade das receitas é um factor-chave. Entre as mais populares estão o funge, como o molho de peito alto, que é frequentemente replicado”, explica.
Quanto aos custos para confecção das suas receitas em casa, não ficam abaixo dos 25 mil kwanzas, embora tente fazer crer que muitas delas podem ser um pouco mais abaixo. “Por exemplo, a carne seca está bastante cara, mas há alternativas que podem ficar mais em conta”, sugere.





