Académico chinês analisa diversificação da economia angolana

O também responsável pelo Centro de Estudos Africanos Para Desenvolvimento e Inovação (CEADI), aconselha a mudanças na política de exploração de recursos minerais angolana e uma forte aposta no capital humano, para que possa competir de forma equilibrada com outros países africanos. O facto de Angola ter perdido para a Nigéria o estatuto de maior…
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Para uma abordagem sobre o binómio “exportações vs. produção nacional”, a FORBES entrevistou Juan Shang, docente da Universidade de Economia e Negócios Internacionais da China.
Economia

O também responsável pelo Centro de Estudos Africanos Para Desenvolvimento e Inovação (CEADI), aconselha a mudanças na política de exploração de recursos minerais angolana e uma forte aposta no capital humano, para que possa competir de forma equilibrada com outros países africanos. O facto de Angola ter perdido para a Nigéria o estatuto de maior vendedor de petróleo de África à China, aponta para a necessidade de mudança urgente da estrutura e do sistema económico vigente.

A China é, sem dúvida, um dos maiores parceiros comerciais de Angola. Além do petróleo, que é o maior produto exportado para o gigante asiático, há algumas empresas angolanas, principalmente da indústria da bebida, que estão a dar pequenos passos neste processo. Qual é a sua opinião em relação a isso?

A China é o maior parceiro de Angola. Desde 2008 que os dois países cooperam em vários sectores. Entre 2002 a 2018, a China forneceu quase 43.264 milhões dólares americanos a Angola. O empréstimo foi a uma taxa de juro baixa e, por causa da pandemia, decidiu alargar o prazo de reembolso da dívida. De Janeiro a Novembro de 2020, as trocas comerciais entre os dois países atingiram 14,7 mil milhões de dólares americanos, o que colocou Angola como o terceiro maior parceiro comercial da China em África.

Como é que olha para o processo de diversificação da economia angolana?

Como todos sabem, Angola iniciou a diversificação da agricultura, turismo, indústria, pesca e exploração, mas, actualmente, vejo que o processo não caminha a bom ritmo.

Porquê?

As questões económicas de Angola têm a ver com a estrutura industrial, distribuição de renda, do comércio e da importação. Quase todos os economistas sabem que o país sofre da “Doença Holandesa”, caracterizada pela dependência de longo prazo das exportações de petróleo e dependência unipolar, fraca capacidade de inovação independente e dependência excessiva da economia externa.  Por outro lado, o governo angolano percebeu que o desenvolvimento económico do país é demasiado unitário e que deve adoptar a diversificação da economia, que defende o desenvolvimento da indústria transformadora, da agricultura, da pesca e da pecuária.

E isto é visto como um bom sinal do Governo?

O governo angolano pagou quantias avultadas para construção de grandes fazendas nas províncias de Malange, Uíge e Huambo, ao mesmo tempo que começaram a ser concluídos parques industriais em muitas das principais cidades. Ou seja, a indústria e a agricultura floresceram rapidamente em Angola com o apoio de fundos governamentais, mas não dão frutos. A razão para florescerem, mas não frutificar, tem a ver com o controlo do governo sobre a indústria, o que não é bom. Além disso, a pesquisa da indústria não é suficiente e, ao mesmo tempo, não mobiliza a participação do investimento privado.

O que deve ser feito para alterar o quadro?

Um modelo de desenvolvimento económico saudável é aquele em que a economia do país e o sector privado estejam no mesmo caminho. O governo deve apoiar vigorosamente a entrada da economia privada no processo de formulação de políticas e modelos de desenvolvimento económico. É o caso de muitos países africanos, como a África do Sul, Quênia, Zimbabué, Nigéria e Namíbia, que incentivam o desenvolvimento de empresas privadas.

Que impacto têm os produtos angolanos na China?

Parece-me que os produtos made in Angola têm um bom futuro no mercado chinês. Muitos estudantes angolanos moram na China e falam bem mandarim. Além disso, a China necessita de empresários angolanos e eles também precisam da China.

Apenas isso?

Há outros exemplos. São os casos da cerveja angolana Cuca e o sumo Nutri, que são vendidos nas cidades de Guangzhou e Macau. Os clientes chineses estão desejosos por provar produtos africanos. Actualmente, o café da Etiópia e do Quénia têm um grande mercado na China, muitos clientes chineses compram grandes quantidades nas lojas online. Claro que é necessário os governos africanos promoverem os seus produtos na China. Além disso, o governo chinês também disponibiliza uma grande plataforma para todos os empresários africanos na cidade de Changsha da província chinesa de Hunan.

De que plataforma se trata?

É nesta cidade que se organiza a Expo Económica e Comercial China-África, patrocinada conjuntamente pelo Ministério do Comércio da República Popular da China (MOFCOM) e pelo Governo Popular da Província de Hunan. Esta é das mais importantes plataformas para a cooperação económica e comercial no âmbito do mecanismo Fórum de Cooperação da China e África (FOCAC).

Onde é que as empresas devem apostar mais para que tenham sucesso em grandes mercados como o chinês?   

Recomendo as empresas angolanas a investirem nos sectores da agricultura e exploração de minerais. Nos últimos anos, o mundo está instável por vários motivos, entre eles crises económicas, guerras regionais e pandemias. Por isso, a segurança alimentar é um dos maiores problemas do mundo. Angola possuiu grandes terras aráveis, por isso, acho que devem investir no cultivo de produtos como soja e milho. Uma parte desta produção servirá para o consumo interno e o excedente para a exportação, como forma de captar divisas.

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