Alemanha procura em Angola um parceiro estratégico para o futuro energético de África

O Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, inicia nesta Terça-feira, 4, uma visita oficial de três dias a Angola, num momento em que Berlim procura consolidar a sua presença económica em África e Luanda reforça a diplomacia económica para atrair investimento estrangeiro e diversificar a sua base produtiva. A deslocação insere-se na estratégia alemã de aprofundar…
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O Presidente alemão chega a Luanda para uma visita de Estado de três dias, que poderá redefinir o eixo das relações euro-africanas, combinando comércio, energia e conhecimento tecnológico.
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O Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, inicia nesta Terça-feira, 4, uma visita oficial de três dias a Angola, num momento em que Berlim procura consolidar a sua presença económica em África e Luanda reforça a diplomacia económica para atrair investimento estrangeiro e diversificar a sua base produtiva.

A deslocação insere-se na estratégia alemã de aprofundar parcerias com países africanos considerados politicamente estáveis e com potencial energético, como Angola, Namíbia ou África do Sul.

De acordo com dados oficiais, a Alemanha exportou para Angola bens avaliados em 275,2 milhões de euros em 2024, quase o dobro das importações angolanas para o mercado alemão, que totalizaram 192,3 milhões de euros. O saldo comercial mantém-se, assim, favorável a Berlim, sustentado nas vendas de máquinas, produtos alimentares, equipamentos electrónicos, químicos e metalúrgicos.

Por seu lado, as exportações angolanas para a Alemanha continuam fortemente concentradas nos hidrocarbonetos, que representam 98,5% das vendas, o que evidencia a dependência do petróleo nas trocas bilaterais e o desafio de reposicionar Angola como fornecedor diversificado de bens e serviços.

Em 2023, as exportações alemãs para Angola cresceram 18,5%, mas sofreram uma ligeira quebra de 2,4% em 2024, fixando-se nos 275,2 milhões de euros. Já as importações provenientes de Angola caíram 46,1%, passando de 356,8 milhões de euros em 2023 para 192,3 milhões em 2024, o que reforça o saldo positivo a favor da economia alemã, estimado em 83 milhões de euros.

Apesar do dinamismo comercial, o investimento directo alemão em Angola permanece modesto. Foram 13 milhões de euros em 2023, face aos 20 milhões registados em 2022. Ainda assim, o potencial de crescimento é elevado. Empresas alemãs como a Siemens, Bosch, Lufthansa e GEA Group têm presença em Angola em áreas ligadas à energia, transporte aéreo, engenharia industrial e formação técnica, sectores que Berlim pretende reforçar através de parcerias de longo prazo e modelos de investimento sustentável.

Um novo capítulo da cooperação euro-africana

A visita de Steinmeier insere-se também num reposicionamento estratégico da Alemanha em África, onde o país procura reduzir a dependência energética da Rússia e diversificar o acesso a matérias-primas críticas para a transição energética, entre as quais gás natural, hidrogénio verde, cobalto e lítio, recursos abundantes na África Austral.

Para Angola, a visita representa uma oportunidade de reposicionar-se no radar económico europeu, explorando novos eixos de cooperação tecnológica, científica e industrial. A aposta alemã na formação técnica e no ensino dual é vista como um modelo inspirador para o reapetrechamento de competências e reindustrialização do país, alinhado com o Plano de Desenvolvimento Nacional 2023–2027 e a estratégia governamental de diversificação económica.

A deslocação de Steinmeier começa na noite desta Terça-feira com a chegada a Luanda. O programa oficial inclui, na Quarta-feira, honras militares, deposição de uma coroa de flores no sarcófago de Agostinho Neto, e um encontro com o Presidente João Lourenço no Palácio Presidencial, onde deverão ser assinados acordos bilaterais e prestadas declarações conjuntas à imprensa.

Durante a tarde, o chefe de Estado alemão visitará o Centro de Ciência de Luanda, antes de seguir, na Quinta-feira, para a província do Huambo, onde cumprirá um programa ainda não divulgado.

Mais do que um gesto protocolar, a visita do Estadista alemão simboliza um realinhamento de interesses estratégicos: a Alemanha procura novas plataformas de cooperação energética e industrial, enquanto Angola busca capital, tecnologia e conhecimento europeu para sustentar o seu crescimento pós-petrolífero.

Num cenário global de competição económica entre a Europa, a China e os Estados Unidos pelo espaço africano, a reaproximação entre Luanda e Berlim poderá marcar um novo ciclo de pragmatismo económico e cooperação de benefício mútuo.

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