Angola foi um dos temas centrais do “FT Africa Summit 2025”, realizado em Londres sob o lema “África num Mundo em Transformação”, nos dias 21 e 22 deste mês de Outubro. No ano em que o país celebra meio século de independência, o debate internacional destacou Angola como um caso emblemático de transição económica e modernização institucional em África, refletindo o impacto de um programa de reformas que tem vindo a reposicionar o país no cenário global.
O painel intitulado “Angola aos 50: Poderá a Reforma Económica Ultrapassar o Peso da História?”, moderado por Monica Mark, chefe da delegação do Financial Times para a África Austral, reuniu Ottoniel dos Santos, secretário de Estado para as Finanças e Tesouro de Angola; Marcus Weyll, CEO da Gemcorp ICS; e Ricardo Soares de Oliveira, professor e investigador da Universidade de Oxford e docente no Sciences Po de Paris.
Na sua intervenção, Ottoniel dos Santos apresentou os principais resultados do programa de reformas económicas implementado pelo Executivo angolano nos últimos anos, segundo indica uma nota de imprensa enviada à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA.
“Estamos a viver uma transformação estrutural profunda. Lançámos um programa de privatizações ambicioso e criámos as condições para que o sector privado se torne o verdadeiro motor da economia. Desde 2021, mais de 190 empresas públicas foram seleccionadas para privatização”, destacou o governante.
De acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), a dívida pública de Angola caiu de mais de 100% do PIB em 2020 para cerca de 60% em 2024, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento médio de 3,5% até 2026, sustentado pelos sectores da agricultura, mineração e indústria transformadora.
A saída de Angola da lista cinzenta do Financial Action Task Force (FATF) abriu novamente o acesso aos mercados internacionais. Em Outubro, o país concluiu com sucesso uma emissão de Eurobonds de 1,75 mil milhões de dólares, com mais de 80% dos investidores provenientes dos Estados Unidos e do Reino Unido — um sinal de confiança renovada no ambiente macroeconómico angolano.
Por sua vez, Marcus Weyll, CEO da Gemcorp ICS, sublinhou o compromisso do grupo com o desenvolvimento sustentável e a criação de valor local.
“Não podemos vir apenas para explorar recursos. É essencial criar projectos que integrem as comunidades e reforcem a capacidade produtiva local. Angola é hoje um dos poucos países africanos com excedente energético e um mercado de capitais em plena expansão”, referiu.

A Gemcorp já investiu mais de 6 mil milhões de dólares em projectos de energia, agro-indústria e logística, consolidando o papel de Angola como destino de investimento estratégico e referência na diversificação económica africana.
O académico Ricardo Soares de Oliveira trouxe ao debate uma reflexão crítica sobre o impacto social das reformas. “Mesmo com taxas de crescimento positivas, Angola enfrenta o desafio de transformar o progresso macroeconómico em melhoria concreta da qualidade de vida. Cerca de 70% da população tem menos de 25 anos e o desemprego juvenil ronda os 28%. É crucial garantir que esta nova economia gera dignidade e oportunidades reais”, advertiu.
Os participantes concordaram que o grande desafio da próxima década será assegurar a legitimidade social das reformas, garantindo que a disciplina fiscal e a confiança dos investidores se traduzem em emprego, produtividade e inclusão.
O painel evidenciou também o papel crescente de Angola como pivô diplomático e económico regional, com uma política externa assente na diversificação de parcerias – que hoje inclui China, Estados Unidos, França, Rússia e Emirados Árabes Unidos – num exercício de pragmatismo e afirmação geoestratégica.
“O desafio do Executivo angolano é garantir que as reformas financeiras e legais se traduzam em legitimidade social. O objectivo é claro: transformar a estabilidade em crescimento inclusivo”, concluiu Ottoniel dos Santos.
Cinquenta anos após a independência, Angola surge no palco internacional como um exemplo de resiliência africana, símbolo de um país que transformou o seu passado em alicerce para o futuro. O FT Africa Summit 2025 reconheceu a transição angolana de uma economia dependente do petróleo para um mercado emergente diversificado e competitivo, onde o sector privado e a inovação assumem um papel cada vez mais relevante.
“A história de Angola demonstra que as reformas não são apenas um instrumento de sobrevivência, mas uma oportunidade partilhada para todos os que acreditam no potencial do país”, sintetizou o Financial Times no encerramento do painel.





