BNA atento ao impacto das alterações climáticas no sistema financeiro

O Banco Nacional de Angola (BNA) tem na sua agenda a análise do tema das alterações climáticas e ambientais e do seu impacto no sistema financeiro nacional, de forma a poder definir o caminho a seguir pelas instituições financeiras nacionais neste domínio, garantiu esta Quarta-feira, 17, em Luanda, o seu governador, José de Lima Massano.…
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A garantia foi dada pelo governador do banco central angolano, que elegeu, durante o Xº Fórum de Economia e Finanças, as mudanças climáticas como um dos grandes desafios que a banca tem pela frente.
Economia

O Banco Nacional de Angola (BNA) tem na sua agenda a análise do tema das alterações climáticas e ambientais e do seu impacto no sistema financeiro nacional, de forma a poder definir o caminho a seguir pelas instituições financeiras nacionais neste domínio, garantiu esta Quarta-feira, 17, em Luanda, o seu governador, José de Lima Massano.

Olhando para o futuro e perante os vários problemas que o ambiente enfrenta a nível mundial, o líder do órgão regulador do mercado bancário e financeiro do país, que falava na abertura do Xº Fórum de Economia e Finanças promovido pela Associação Angolana de Bancos (ABANC), apontou as alterações climáticas “que estão a afectar de forma significativa o mundo, e que têm implicações relevantes para o sector”, como um dos grandes desafios que a banca tem pela frente.

“O tema não é novo, mas nos últimos anos tem vindo a ganhar maior protagonismo, e hoje, as alterações climáticas e ambientais, e a promoção do desenvolvimento sustentável bem como a protecção do ambiente são questões de importância incontestável na agenda dos governos, empresas, instituições, organizações, decisores, entre outros”, referiu Massano.

Segundo sustentou, dentre as entidades com a atenção focada no tema das alterações climáticas e ambientais estão vários bancos centrais e supervisores dos sistemas financeiros, “pelo papel preponderante que as instituições financeiras têm no desenvolvimento económico” e pelos riscos que estas alterações trazem para a resiliência dessas instituições e consequentemente a estabilidade do sistema financeiro.

Riscos físico e de transição entre os principais para o sector

Para o sistema financeiro, o governador do banco central angolano diz terem sido identificadas dois factores de riscos climáticos e ambientais fundamentais, concretamente um físico e outro de transição.

O risco físico, explicou, refere-se ao impacto financeiro que resulta das alterações climáticas – nomeadamente a ocorrência mais frequente de fenómenos meteorológicos extremos como secas, inundações e tempestades ou de alterações climáticas graduais, como o aumento das temperaturas ou dos níveis do mar, bem como da degradação ambiental, como a poluição do ar, da água e dos solos.

“A ocorrência destes eventos pode conduzir directamente a, por exemplo, danos patrimoniais ou, a uma diminuição da produtividade, que se podem transformar em perdas para uma instituição financiadora da actividade ou sobre a entidade impactada”, enfatizou.

Já o risco de transição têm a ver com as perdas financeiras de uma instituição, que podem resultar, directa ou indirectamente, do processo de ajustamento para uma economia mais sustentável em termos climáticos e ambientais, concluiu José Massano, para quem o mesmo [risco] pode ser desencadeado por vários elementos, apontando como exemplo uma adopção relativamente abrupta de políticas climáticas e ambientais, pelo progresso tecnológico ou por mudanças do sentimento e das preferências do mercado.

Como no sector financeiro os riscos são cobertos pelo capital, lembra o ‘homem forte’ do BNA, uma consequência inevitável da identificação destes riscos é a atribuição, pelos bancos centrais e supervisores, de requisitos de capital para cobertura dos riscos climáticos e ambientais nas carteiras de crédito das instituições financeiras, “como o fazem para todos os outros riscos”.

Neste contexto, José Massano afirma que as instituições financeiras vão necessariamente ter um papel “muito importante” no desenvolvimento sustentável, pela necessidade que terão de gerir os riscos financeiros originados pelas alterações climáticas e ambientais e consequentemente os seus requisitos de capital, o que, perspectiva, irá resultar no direccionamento do financiamento para as actividades que promovem um desenvolvimento sustentável.

“O que acabei de referir torna óbvio que as instituições financeiras internacionais que actualmente financiam as actividades petrolíferas estarão submetidas a pressão crescente. Aliás, existem já várias instituições financeiras e investidores muito relevantes, incluindo fundos de investimento, que não financiam nem investem no sector petrolífero. Assim, este contexto serve também para reforçar a necessidade de diversificação da nossa economia, e no mais curto espaço de tempo possível”, sugeriu o responsável.

Massano justiçou a sua referência à indústria petrolífera, por ser o que, como disse, “directamente mais nos afecta”, asseverando, no entanto, que as actividades de risco elevado no âmbito das alterações climáticas e ambientais são bem mais abrangentes.

O governador do BNA lembrou que, muito recentemente, a 3 de Novembro, o IFRS Foundation anunciou a criação do International Sustainability Standards Board (ISSB), que se encarregará de desenvolver padrões de divulgação de informação sobre questões climáticas e de sustentabilidade para atender às necessidades de informação dos investidores. “Esse board irá trabalhar em estreita cooperação com o IASB (International Accounting Standards Board), garantindo a conectividade e a compatibilidade entre os padrões de contabilidade IFRS e os padrões do ISSB”, clarificou.

Crédito à economia ultrapassou os 500 mil milhões kz

Por outro lado, referindo-se à necessidade da diversificação da economia angolana, José Massano referiu que ao abrigo do conhecido “Aviso 10/20”, que surgiu como um instrumento para impulsionar o crédito ao sector real da economia, foram concedidos, até ao final de Outubro, 345 créditos, perfazendo um total de 593,09 mil milhões de kwanzas.

Na ocasião, o governador do banco central reconheceu o esforço que os bancos fizeram na concessão de financiamento à economia real, ao mesmo tempo que advertiu para a necessidade de se continuar neste cambinho. “Porque não há outro [caminho]. Precisamos de trabalhar no sentido de assegurar que o nosso sector financeiro e a nossa economia são sustentáveis a longo prazo”, apelou.

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