Os empresários cabo-verdianos estão a ponderar a importação de mão-de-obra devido à crescente emigração de jovens para o exterior, em especial para Portugal. Esta possibilidade foi avançada por Lenine Mendes, presidente da Associação dos Jovens Empresários Cabo-verdianos (AJEC), numa entrevista à agência Lusa.
Lenine Mendes sublinhou que “todas as áreas” da economia cabo-verdiana estão a ser afetadas pela saída massiva de mão-de-obra jovem, com especial impacto nos sectores da construção civil e do turismo. “Quem sabe, o país terá de importar mão-de-obra para colmatar este desafio”, afirmou, sugerindo também a formação de jovens envolvidos em atividades de delinquência como uma solução alternativa.
O presidente da AJEC destacou que muitos jovens em Cabo Verde enfrentam problemas com vícios e não estão empregados, vivendo apenas para alimentar esses hábitos. “Temos muitos jovens com vícios, que não trabalham. Trabalham simplesmente para alimentar o vício”, referiu, acrescentando que é crucial capacitá-los para que possam contribuir para a economia do país.
Apesar das preocupações, Lenine Mendes clarificou que a AJEC não se opõe à emigração dos jovens. No entanto, alertou que a atual onda migratória massiva poderá ter consequências negativas a curto, médio e longo prazo para o desenvolvimento económico de Cabo Verde.
Um dos exemplos mais preocupantes, segundo Mendes, é a falta de jovens para trabalhar na agricultura em muitas localidades do interior da ilha de Santiago, atividade que é o “motor e subsistência de várias famílias”. “Não há pessoas para trabalhar porque estão no exterior. Isso está a complicar muito mesmo a sustentabilidade das empresas aqui em Cabo Verde”, alertou.
Outro problema identificado pelo líder empresarial é o desinteresse dos jovens que permanecem no país em assumir certos tipos de trabalho. Mendes mencionou casos de jovens que abandonam a escola na esperança de emigrar, vivendo dependentes de remessas enviadas pelos pais emigrados. “Há o sonho de viverem no estrangeiro. Então, não trabalham e os pais criam um parasita aqui”, afirmou.
A escassez de mão-de-obra afeta também setores como a agricultura e a pesca, com poucos jovens interessados em estas atividades. “Há muitas apostas na agricultura, na pesca, mas onde estão as pessoas para pescar? Quem é que vai à pesca? Geralmente pessoas que já têm a sua vida feita”, questionou Mendes.
Para enfrentar esta crise, o presidente da AJEC defendeu a necessidade de investir na qualificação dos jovens, preparando-os para competir com profissionais de outros países. Apelou também às empresas para que ofereçam melhores condições de trabalho, e ao Governo para que melhore os serviços de saúde e transporte.
Por fim, Lenine Mendes destacou a importância de resolver os problemas básicos do país para reter os jovens e impulsionar a economia. “Há oportunidades aqui em Cabo Verde, muitas políticas governamentais, mas é necessário que sejam concretizadas. Nós não podemos impedir os jovens de emigrar, é necessário criar condições para que os que aqui ficam tenham um salário digno, condições de trabalho para desempenharem de forma cabal o seu trabalho”, concluiu.
De acordo com dados dos serviços consulares da embaixada portuguesa na cidade da Praia, entre janeiro e novembro de 2023, foram solicitados 12.549 vistos de longa duração (mais de 90 dias) por cidadãos cabo-verdianos para Portugal, dos quais 11.702 foram concedidos.