Cheiros e sabores de Trás-os-Montes

Em Rio de Onor fala-se de um passado que é para sempre. É fácil entender porquê. Os terrenos agrícolas ainda estão divididos como antigamente e aproveitados até ao último pedaço de terra. As casas ainda têm dois pisos, o superior para habitação e o inferior para o gado e os produtos da terra, e o…
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Terra fria, quase sempre pintada de cores quentes, localizada longe das grandes metrópoles, bem no interior do país. Bragança e as suas aldeias já não estão tão distante de Lisboa e do Porto.
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Em Rio de Onor fala-se de um passado que é para sempre. É fácil entender porquê. Os terrenos agrícolas ainda estão divididos como antigamente e aproveitados até ao último pedaço de terra.

As casas ainda têm dois pisos, o superior para habitação e o inferior para o gado e os produtos da terra, e o espírito comunitário continua o mesmo – que se vê quando as mulheres cozinham no forno da aldeia ou os homens organizam os dias em que cada um leva todo o rebanho a pastar.

Chamamos-lhe Rio de Onor – povo de baixo – como poderíamos ter chamado Rihonor de Castilla – povo de cima. É que esta aldeia é atravessada pela fronteira entre Portugal e Espanha, mas é só mesmo o nome – e a hora – que as distingue. Não fosse a placa que assinala a chegada a um novo país e nunca saberíamos que aquele povo não pertence todo ao mesmo lugar.

Estas aldeias são uma forte ligação entre Portugal e Espanha, mas não são a única no concelho. Hernâni Dias, presidente da Câmara Municipal de Bragança, considera que a proximidade entre a cidade e Espanha – e a Europa – é uma enorme vantagem. “Esta proximidade com Espanha e com a Europa coloca-nos numa posição muito favorável à fixação de investimento”, afirma.

Por outro lado, a distância a Lisboa é um pouco maior: uma hora e meia de avião que deita por terra a teoria de que de Bragança a Lisboa são nove horas de distância, ainda que em 1988, o ano em que os Xutos & Pontapés lançaram a música “Para ti Maria”, esta fosse a realidade.

Bragança já não é uma cidade do interior isolada do resto do país. Mais, Bragança é hoje uma porta aberta para a Europa. A nível da região norte, Bragança ocupa a posição 15 na lista dos mais exportadores, lugar que levou as exportações para “um montante de 677 milhões de euros no ano de 2017”, afirma Hernâni.

Entre 2013 e 2017, Bragança cresceu 124% no que às exportações diz respeito e esse crescimento deve-se muito ao sector automóvel, concretamente à empresa Faurecia, e ao sector primário, nomeadamente a produção de castanha e a produção de produtos endógenos mais ligados à transformação da carne de porco.

De todos os mercados, é de salientar a relação com Espanha: “Se nós olharmos para o território nacional falamos para 10 milhões e se olharmos para o território espanhol olhamos para 60 milhões de potenciais clientes. Nós temos, de facto, uma janela sempre voltada para este lado da fronteira”, admite o presidente.

O combate ao isolamento e à desertificação tem sido um desafio das gentes e das empresas da região de Trás-os-Montes. O mercado espanhol tem ajudado nessa batalha, mas o caminho tem sido trilhado internamente, com cada vez mais empresas a surgirem com ideias e projectos distintivos e inovadores.

É o caso da tecnológica Techwelf, uma das várias empresas sedeadas no Parque de Ciência e Tecnologia “Brigantia-EcoPark”. Imagine que a temperatura de sua casa está sempre adaptada ao seu gosto, que liga e desliga nos momentos em que o deve fazer de uma forma automática.

Graças à Techwelf não precisa de imaginar, uma vez que este cenário é já hoje uma realidade. A ideia nasceu em Bragança não só pela necessidade de uma solução eficaz e económica, devido às baixas temperaturas que se fazem sentir no inverno, mas também porque têm na cidade “competência e formação” para o fazer.

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