A China anunciou o perdão dos juros dos empréstimos concedidos a Moçambique até 2024 e a doação de 12 milhões de euros, num gesto que consolida a dimensão económica e diplomática da parceria entre os dois países. O anúncio foi feito pela primeira-ministra moçambicana, Benvida Levi, após uma visita oficial de dois dias a Pequim, onde foi recebida pelo Presidente Xi Jinping.
“Tivemos duas notícias positivas vindas do Presidente Xi Jinping: a doação de 100 milhões de yuan, o equivalente a 12 milhões de euros, e o perdão dos juros dos empréstimos concedidos a Moçambique até 2024”, afirmou Levi, sublinhando o impacto imediato da decisão no espaço fiscal do país.
Durante o encontro, as autoridades moçambicanas apresentaram os principais instrumentos de governação em curso — o Plano Quinquenal do Governo (PQG) e o Plano Económico Social e Orçamento do Estado (PESOE) —, reforçando o interesse em direccionar o apoio chinês para investimentos agrícolas, formação técnico-profissional e saúde.
“Queremos concentrar os investimentos na agricultura e em toda a sua cadeia de valor, na formação técnica profissional e na saúde”, disse a primeira-ministra.
Levy acrescentou que a parceria com a China tem sido determinante na expansão do ensino técnico, citando o Instituto Politécnico de Muanza, no centro do país, como exemplo.
De acordo com dados oficiais, a China é o maior credor bilateral de Moçambique, detendo 14% da dívida externa, avaliada em 1,38 mil milhões de dólares (1,21 mil milhões de euros). O país asiático é também um dos principais investidores em território moçambicano, com investimentos acumulados de 9,5 mil milhões de dólares e um comércio bilateral que atingiu 5,6 mil milhões de dólares em 2024.
O perfil da presença chinesa em Moçambique mantém-se centrado em infra-estruturas, energia e exploração de recursos naturais, mas nos últimos anos tem-se alargado para sectores como indústria transformadora, telecomunicações e serviços. Esta diversificação reflecte uma reconfiguração estratégica da cooperação sino-africana, em que Pequim procura projectar influência através de mecanismos financeiros flexíveis, parcerias tecnológicas e iniciativas de capacitação.
Desde 2016, um acordo-quadro bilateral orienta as relações entre os dois países, prevendo 14 princípios de cooperação, incluindo o apoio técnico e militar, a formação de quadros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e o fornecimento de equipamentos avaliados em cerca de 11,5 milhões de dólares.
Em 2024, os ministérios da Defesa de Moçambique e da China manifestaram a intenção de elevar a cooperação militar para um novo nível, no âmbito do Comité Conjunto de Defesa Moçambique-China, que inclui formação conjunta, partilha de informação e reforço da capacidade operacional. Ambos os exércitos participaram ainda no exercício “Peace Unity 2024”, realizado na Tanzânia, com foco no combate ao terrorismo e nas operações de contra-insurgência.
A nova doação e o perdão de juros surgem, assim, num contexto de reafirmação da influência chinesa em África, num momento em que Moçambique procura reforçar a sua resiliência económica e diversificar as fontes de financiamento, num ambiente global marcado por restrições de crédito e ajustamentos macroeconómicos.
*Com Lusa