Com uma perspectiva de crescimento e melhoria dos serviços, a WiConnect, startup angolana que fornece soluções de Wi-Fi, marketing, publicidade e redes estruturadas, já realizou um investimento de mais de 600 mil dólares a nível de softwares e hardwares, ou seja, em toda a sua tecnologia, o que permitiu alcançar mais de 500 mil utilizadores registados na plataforma e implementar 520 hotspots (pontos de Internet grátis).
“Actualmente, temos um escritório na província de Luanda e um em Malanje. Somos uma empresa constituída por de cerca de 18 colaboradores. Trabalhamos com empresas do sector petrolífero, bancário e segurador”, detalhou à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA o co-fundador e CEO da WiConnect, Paulo Araújo.
Várias empresas públicas e privadas, como o Banco Angolano de Investimentos (BAI) e o Ministério da Economia e Planeamento, utilizam a tecnologia desta startup. A título de exemplo, através desta plataforma, o Ministério da Economia e Planeamento oferece Internet grátis aos mercados informais, para tonar célere o Programa de Reconversão da Economia Informal (PREI), desenhado pelo Governo da República de Angola, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN).
Especificamente, a empresa oferece três serviços, sendo que o primeiro está direccionado a clientes corporativos e torna a Internet de uma determinada empresa mais inteligente. Além de garantir a Internet, a instituição usa o serviço para que os clientes possam fazer um branding (uma forma de gerir as estratégias de marca de uma determinada empresa), exigindo os utilizadores a observarem as publicidades e responderem a questionários.
“O segundo segmento permite à WiConnect vender publicidade digital em alguns pontos de Internet, e o terceiro tem que ver com o desenvolvimento tecnológico à medida, dentro de dados analíticos”, precisou Paulo Araújo.
Apesar de haver vários concorrentes internacionais, o gestor de 35 anos de idade, formado em Matemática, pela American International School, e em Gestão, pela renomada Loughborough University no Reino Unido, salienta que têm provado que apresentam uma tecnologia adequada para o mercado angolano.
Presente em todas as províncias do país, em Abril de 2023, a WiConnect tornou-se na primeira startup tecnológica a ostentar o selo “Feito em Angola”, instrumento do Governo angolano, coordenado pelo Ministério da Economia e Planeamento, e operacionalizado pelo Instituto Nacional de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (INAPEM). Trata-se de uma iniciativa de incentivo e promoção do que é produzido a nível nacional, para acelerar de forma focada e efectiva a diversificação da produção nacional e mobilizar o país para o aumento do consumo do que é produzido em Angola.
Outra característica distintiva do “Feito em Angola” é colocar em destaque uma aliança estratégica entre o Estado e o sector privado, reconhecendo e tentando contribuir para a correcção dos vários constrangimentos que obstaculizam o sucesso das iniciativas de fomento da produção nacional.
Paulo Araújo considera “muito importante” esta iniciativa, porque, como diz, a partir de 2024, as instituições públicas serão obrigadas a comprar produtos ou serviços com o selo “Feito em Angola”, antes de partirem para a importação.
“Esta medida vai ajudar a criar um ecossistema autossustentável e dinamizar a diversificação da própria economia”, afirmou o empreendedor, explicando que isso demonstra o compromisso da WiConnect no que diz respeito ao desenvolvimento da tecnologia angolana, que já começou a ser exportada para outros países africanos, trazendo receitas para o país.
“Os preços de dados estão a baixar em Angola, mas temos de ser rápidos com concorrência e competitividade”
No âmbito do plano de expansão dos seus serviços, em 2022, a startup chegou a São Tomé e Príncipe, onde montou o primeiro hotspot, em parceria com uma empresa privada de telecomunicações local, cujo nome preferiu não revelar. “O acordo foi uma estratégia ideal, pelo facto de ser um país vizinho com boas relações com Angola e também por falar a mesma língua”, justifica.
Na sequência, em 2023, fez alguns investimentos que permitiram chegar ao Ruanda, e, neste momento, o grande objectivo da WiConnect é fechar um acordo de parceria no Quénia, já que há empresas privadas interessadas na tecnologia angolana. Esta pretensão, segundo conta Paulo Araújo, surge pelo facto de o Banco Mundial ter preparado um investimento de cerca de 300 milhões de dólares, para instalar 25 mil pontos de Internet grátis naquele país.
“O próprio Banco Mundial vê a importância de se criar pontos de Internet e acesso público completamente grátis, que é uma maneira rápida de fazer a digitalização. Já estamos a falar com os potenciais parceiros daquele país para contribuirmos para a materialização deste projecto. As negociações já estão no meio, fizemos algumas apresentações, e ficaram impressionados com a tecnologia que é feita em Angola”, assegura.
Araújo considera que o Quénia “tem um bom ambiente de negócios, uma economia muito competitiva e uma facilidade quando se trata de montar empresa”. Por este facto, o gestor tecnológico afirma que queriam estar envolvidos no projecto todo, mas, não sendo possível, estão a concorrer apenas para montar cerca de 2 mil pontos de Internet grátis.
Entretanto, A WiConnect terá de fazer investimentos consoante o acordo feito com o parceiro, estando já neste momento a preparar toda a parte tecnológica para ser gerida mais remotamente dentro do Quénia, “obedecendo ao regulador”.
Quanto à evolução dos serviços de Internet nos países africanos, Paulo Araújo refere que, com excepção do Ruanda e da África do Sul, o continente ainda precisa de vários investimentos a nível do acesso à Internet, principalmente quando se olha para os dados relativos aos rendimentos mensais da população.
“Em Angola, por exemplo, o custo de Internet mensal numa casa é muito superior em relação ao rendimento da população em média. O que traz a redução dos preços em qualquer mercado é a concorrência, pois obriga as empresas a tornarem mais eficientes as suas operações. Tivemos a entrada de uma operadora nova, a Africell, e notamos que a Unitel baixou o seu tarifário, praticando preços mais competitivos. Hoje já temos um produto de 200 kwanzas que traz um gigabyte com duração de uma hora. De certa forma, os preços de dados estão a baixar em Angola, mas temos de ser rápidos com concorrência e competitividade”, defende.
O mercado angolano, na sua visão, está a abrir-se, com o Governo a privatizar uma série de empresas do sector das telecomunicações, como a MSTelecom, Angola Cables, Movicel e Multitel, seja em bolsa ou compra directa.
Questionado sobre o impacto do Angosat-2 no sector das telecomunicações, argumentou que traz mais capacidade, advertindo que a venda dos seus serviços tem as suas consequências, sendo que “contém preços que fazem perder dinheiro”.
“Podemos fazer isso durante um ano, mas a longo prazo isso não é sustentável. Nós temos de criar projectos sustentáveis com base a retornos positivos e reais. Já tivemos momentos difíceis durante e depois da pandemia, mas, nos próximos anos, eu vejo Angola a colher bons resultados, porque há muitos investimentos a serem feitos fora de Luanda, sobretudo no Norte do país, onde temos empresas do Canadá, Austrália e Namíbia que estão a investir no sector mineiro angolano”, perspectiva.
Uma das maiores ambições de Paulo Araújo consiste em ver 90% da população angolana conectada à Internet grátis. É, de resto, por isso que diz bater-se “fortemente” no sector. “Neste momento, já estamos com uma cobertura de 30%”, garante. “Com bons investimentos, vamos chegar a essa percentagem [90%]. Já estamos em todas as províncias e agora queremos chegar a todos os municípios e, consequentemente, a todas as escolas”, projecta.
Fundada em 2015, a WiConnect foi reconhecida pela Seedstars World Competition como a empresa mais inovadora de Angola desde 2016.