Concursos públicos devem apostar em startups e soluções práticas, defende Marcelino Caoio

O Estado angolano deveria repensar o modelo dos concursos públicos, passando a privilegiar processos baseados em desafios concretos do país, capazes de mobilizar startups, jovens talentos e equipas multidisciplinares para a apresentação de soluções com impacto prático na economia e na sociedade. A proposta é defendida por Marcelino Caoio, especialista em estratégias de performance digitais…
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O fundador da Viralize defende que os concursos públicos em Angola devem ser redesenhados para premiar soluções inovadoras a desafios concretos do país, envolvendo startups e jovens talentos.
Economia

O Estado angolano deveria repensar o modelo dos concursos públicos, passando a privilegiar processos baseados em desafios concretos do país, capazes de mobilizar startups, jovens talentos e equipas multidisciplinares para a apresentação de soluções com impacto prático na economia e na sociedade. A proposta é defendida por Marcelino Caoio, especialista em estratégias de performance digitais e fundador da empresa Viralize.

Para o CEO da Viralize – agência de marketing digital angolana, é necessária uma mudança estrutural na forma como os concursos públicos são concebidos em Angola – e, de forma mais ampla, no continente africano – deixando de estar excessivamente focados no preenchimento de vagas na função pública para passarem a estimular a criação de soluções inovadoras orientadas para os problemas reais do país.

Na sua análise, o modelo tradicional tem condicionado a ambição intelectual de muitos jovens, ao canalizar percursos académicos para um objectivo quase exclusivo: garantir um emprego no Estado. “Grande parte do esforço académico hoje é canalizado para repetir modelos já existentes, com o único propósito de assegurar uma colocação no hospital, na administração pública ou noutra instituição estatal”, alertou, sublinhando que este paradigma acaba por desincentivar a criatividade e a inovação.

Como alternativa, Marcelino Caoio defende que, perante desafios estruturais, como o acesso à água potável em todo o território nacional, o Governo poderia lançar concursos orientados para a selecção de 10 a 20 startups, com ideias inovadoras, protótipos funcionais (MVPs) ou modelos de negócio escaláveis, capazes de responder a necessidades concretas das populações.

Segundo o especialista, este modelo permitiria enfrentar, em simultâneo, dois constrangimentos centrais: por um lado, incentivar os estudantes a formarem-se com uma lógica de resolução de problemas e criação de valor; por outro, direccionar o investimento público para o desenvolvimento tecnológico e a inovação, promovendo soluções sustentáveis com impacto mensurável na economia e na qualidade de vida.

Na sua perspectiva, a adopção consistente deste paradigma em África pode contribuir para uma transformação profunda do perfil da nova geração. “Em vez de jovens que estudam apenas à espera de um concurso público para ocupar sempre os mesmos lugares, passaríamos a formar criadores de soluções, empreendedores e agentes activos de transformação”, afirmou.

Para Marcelino Caoio, colocar a inovação no centro das políticas públicas pode ser um passo decisivo para que o continente construa o seu futuro a partir dos próprios desafios, reforçando a autonomia, a criatividade e um modelo de desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.

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