Do Bairro Marçal ao Governo: a história de vida de Archer Mangueira

A Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII, foi palco do lançamento de “Angola, a Geração da Transição”, a autobiografia de Archer Mangueira, publicada pela Âncora Editora. O evento decorreu no Auditório Sul, repleto com cerca de duas centenas de convidados, entre eles diversas personalidades do mundo literário e político. Seguiu-se uma sessão…
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O livro “Angola, a Geração da Transição” é uma contribuição valiosa para a compreensão da história recente de Angola, oferecendo uma perspectiva única sobre os desafios e as conquistas do país.
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A Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII, foi palco do lançamento de “Angola, a Geração da Transição”, a autobiografia de Archer Mangueira, publicada pela Âncora Editora. O evento decorreu no Auditório Sul, repleto com cerca de duas centenas de convidados, entre eles diversas personalidades do mundo literário e político.

Seguiu-se uma sessão de autógrafos que se prolongou por mais de duas horas que, apesar de uma teimosa chuva de Primavera que se abateu sobre Lisboa, não demoveu quem quis garantir uma dedicatória do autor.

Archer Mangueira, um nome de destaque na política e economia angolana, oferece nesta obra uma visão detalhada da sua vida, desde a infância no bairro Marçal, passando pela sua juventude como militante revolucionário, até à sua trajectória como o deputado mais jovem da história de Angola.

A narrativa abrange também a sua experiência como estudante universitário na República Democrática Alemã, a carreira docente, a actuação como dirigente desportivo, e as funções de assessor económico na Presidência da República, junto do Presidente José Eduardo dos Santos.

O livro explora ainda o papel de Mangueira na coordenação económica nacional, na criação da CMC, instituição reguladora do mercado financeiro e de valores mobiliários, e as suas responsabilidades como Ministro das Finanças. Actualmente, Archer Mangueira é o Governador Provincial do Namibe, função que também é abordada na obra.

Um testemunho inspirador

Francisca Van-Dúnem destaca no prefácio a riqueza informativa do livro: “Esta obra contém um imenso manancial de informação, aportando-nos elementos de utilidade fulcral para a compreensão do âmago de alguns dos mais relevantes processos de decisão, nos planos económico, financeiro e social.” Van-Dúnem elogia ainda a escrita “elegante, ligeira e escorreita” de Mangueira, que mantém o leitor cativado do início ao fim.

António Batista Lopes, responsável pela Âncora Editora, enalteceu a capacidade de Archer Mangueira em deixar a sua marca em tudo o que faz: “Percebi ao longo do processo de edição desta obra que o Dr. Archer Mangueira é uma daquelas pessoas que deixa a sua impressão digital no que faz. E faz, efectivamente. E gosta de fazer. E sabe ‘fazer fazer’, ou seja, sabe fazer acontecer pela mão das pessoas que lidera.”

Batista Lopes sublinhou ainda a influência dos exemplos de bravura, coragem e abnegação dos familiares de Mangueira na sua trajetória de vida. E acrescentou: “A trajectória de vida de Archer Mangueira é muito marcada, desde tenra idade, pelos exemplos de bravura, coragem e abnegação de familiares directos, cujas histórias estavam sempre muito presentes, e que também nos conta. Ora bem, quando celebramos os 50 anos do 25 de Abril e da Liberdade, ‘Angola, a Geração da Transição’ vem agora enriquecer a colecção ‘Pessoas’ da Âncora, onde já pontificam histórias de grandes lutadores pela liberdade”.

Apresentação em Luanda dia 28

Durante o evento, Archer Mangueira expressou a sua gratidão pela oportunidade de lançar o livro na Feira do Livro de Lisboa, descrevendo-a como “o evento anual mais importante para a indústria do livro em toda a Comunidade de Língua Portuguesa.” Fazendo questão de anunciar e ressaltar que após este lançamento, a obra terá apresentações especiais em Angola, com a primeira agendada para o dia 28 de Junho, na Universidade Católica de Angola, em Luanda.

Archer Mangueira concluiu a sua intervenção expressando o compromisso de continuar a servir Angola e todos os angolanos. Ao agradecer a presença e o apoio dos convidados, garantiu-lhes: “A vossa presença encoraja-me, responsabiliza-me e compromete-me a prosseguir, até aos limites que a minha saúde permitir, o caminho de servidor público do meu país, Angola, um caminho ao serviço de todos os angolanos.”

A referência à sua saúde não é alheia ao facto de Archer Mangueira ter glaucoma. E a forma como narra essa sua condição foi um dos aspectos enaltecidos por José Octávio Serra Van-Dúnem, a quem coube fazer a apresentação da obra. “O glaucoma é uma das doenças da visão que mais afecta os angolanos e o exemplo de Archer Mangueira é um incentivo muito importante para promover o diagnóstico precoce.”

Professor catedrático da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e professor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, José Octávio Van-Dúnem é contemporâneo do autor e disse ter-se identificado com a forma como Archer Mangueira narra o período imediatamente anterior e posterior à Independência, em 11 de Novembro de 1975. “Há, portanto, uma primeira parte do livro que é a história de todos nós, dessa geração da transição a que o autor se refere, e depois todo um percurso que é só dele, a trajectória de um verdadeiro servidor público”, disse.

José Octávio Van-Dúnem sublinhou ainda a franqueza do autor, ao ter incluído um capítulo sobre a sua passagem pela Segurança de Estado, nos serviços de contrainteligência, além de dedicar um capítulo final à sua visão para o futuro, em que defende a importância para o desenvolvimento de Angola de dois eixos fundamentais: a Educação e a Cidadania.

Nascido em Luanda, em Setembro de 1962, Archer Mangueira é licenciado em Economia pela Escola Superior de Economia de Berlim ‘Bruno Leuschner’. Ao longo da sua carreira, tem desempenhado funções de grande relevo no governo angolano, tendo sido Ministro das Finanças antes de assumir a governação provincial do Namibe.

“Angola, a Geração da Transição” é um livro imperdível para quem se interessa pela história de Angola, pelas vivências de um dos seus mais destacados políticos e pela visão de um homem que dedicou a sua vida ao serviço do seu país.

*Fernanda Mira

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