O vice-presidente da Associação das Empresas Autóctones para a Indústria Petrolífera de Angola (ASSEA), Paulo Maurício, apela à redução do custo de produção de barril de petróleo de 25 para 15 dólares para facilitar as empresas prestadoras de serviços da indústria petrolífera e impulsionar cada vez mais o conteúdo local.
Em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA sobre os cinco anos de existência da Lei do Conteúdo Local, Paulo Maurício disse que baixando o custo de produção, mais receitas o Governo vai ter para investir em sectores fundamentais para o crescimento da economia, “com os nossos serviços puramente nacionais”.
“Dos 16 biliões de dólares que são gastos aqui na indústria nós queremos atingir até 20% desta cota do mercado. O desafio maior tem sido a implementação do decreto. Temos visto vários constrangimentos para a implementação”, salientou.
Paulo Maurício indicou que depois de cinco anos, “estamos um pouco surpresos de ver que a indústria de petróleo e gás desenvolve por ano de 14 a 16 biliões de dólares, mas apenas 2% desta receita é contratada das empresas locais”, lamentou.
A contribuição da associação, de acordo com o responsável, tem sido trabalhar para arduamente para ter serviços core para sustentar a indústria de petróleo e gás.
“Nós, empresas, queremos participar mais porque hoje quase todos os serviços são importados. A questão não é o capital humano que nos ajuda a prestar serviços no sector, pois o maior desafio são os produtos gastáveis que importamos. Queremos industrializar a nossa economia”, reforçou.

Entretanto, a presidente da ASSEA, Berta Rodrigues Issa, fez saber que a associação acompanha actualmente 87 empresas autóctones do sector, assegurando a importância das iniciativas nacionais para o fortalecimento da cadeia de valor do petróleo e gás.
Berta Rodrigues Issa afirmou que apesar da actual baixa na produção petrolífera em Angola, as políticas de conteúdo local representam uma ferramenta central para a consolidação da participação das empresas nacionais e para a retenção de valor económico dentro do país.
“O Conteúdo Local trouxe uma nova dinâmica ao sector. Fortalecer as empresas angolanas significa fortalecer Angola. É preciso continuar a investir na capacitação e na integração destas empresas em todas as fases da cadeia de valor”, sinalizou.
O evento contou também com a intervenção do PCA da PetroFund, Estanislau Batista, que destacou o contributo da instituição no financiamento e promoção do empresariado autóctone, com foco no aumento da competitividade, inovação e sustentabilidade do mercado nacional.
A iniciativa organizada pela ASSEA reforça o papel da associação como agente catalisador do desenvolvimento das empresas nacionais e evidencia o compromisso com a consolidação do conteúdo local como pilar estratégico da soberania económica do país.
A ASSEA foi criada em 2019, como resposta à persistente sub-representação das empresas autóctones angolanas na indústria de petróleo e gás.
Nasceu de um círculo de reflexão estratégica e evoluiu para uma plataforma nacional de influência política, colaboração técnica e formação especializada.
Desde então, tem sido protagonista em momentos-chave da transformação do sector — incluindo a sua participação activa na concepção e aprovação do Decreto Presidencial n.º 271/20, que institui a Lei do Conteúdo Local, um verdadeiro marco na consolidação da soberania económica no sector energético angolano.

Já o presidente do conselho de administração da PetroFund, Estanislau Baptista, destacou o impacto estratégico que a política do Conteúdo Local tem tido na valorização das empresas nacionais e no reposicionamento de Angola como agente activo dentro do seu próprio mercado energético.
“Apesar de Angola estar a atravessar um período de baixa produção petrolífera, o fortalecimento das empresas autóctones é hoje um imperativo económico e soberano”, argumentou.
O Conteúdo Local, segundo considera, está a criar um ecossistema, onde as empresas angolanas deixam de ser meras prestadoras periféricas e passam a ser actores centrais da cadeia de valor.
“O nosso desafio agora é transformar capacidade técnica em capacidade competitiva. O apoio financeiro e institucional torna-se hoje determinante para consolidar quadros nacionais, criar autonomia operacional e preparar o sector para as novas dinâmicas internacionais da indústria energética”, ressaltou.
Além disso, segundo apontou, o desenvolvimento do conteúdo local petrolífero promove a diversificação da economia do no nosso país, reduzindo a dependência excessiva do petróleo como única fonte de receita.
“Ao investir em empresas locais e incentivar a produção nacional, a Petrofund contribui para o desenvolvimento de outros setores da economia angolana, gerando oportunidades de negócios e impulsionando o crescimento econômico de forma mais ampla”, concluiu.





