Entre inovação e cautela: o debate sobre a semana laboral reduzida em Angola

O modelo de redução da semana laboral para quatro dias, que ganha força em vários países, poderia assumir um papel transformador em Angola, sobretudo no que respeita à inclusão das mulheres e à melhoria do desempenho empresarial. A visão foi partilhada pela empresária angolana Norberta Garcia, em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, sublinhando que a…
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O modelo global da semana de quatro dias pode abrir caminho para maior inclusão feminina e competitividade empresarial em Angola, segundo defende a empresária Norberta Garcia, em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA.
Economia

O modelo de redução da semana laboral para quatro dias, que ganha força em vários países, poderia assumir um papel transformador em Angola, sobretudo no que respeita à inclusão das mulheres e à melhoria do desempenho empresarial. A visão foi partilhada pela empresária angolana Norberta Garcia, em entrevista à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, sublinhando que a mudança pode trazer ganhos tanto para empregadores como para trabalhadores.

“Num país onde muitas mulheres acumulam funções como mães, cuidadoras e profissionais, essa mudança poderia ser não apenas benéfica, mas verdadeiramente transformadora”, defendeu. Para Garcia, a discussão ultrapassa a produtividade imediata e abre espaço para um debate mais amplo sobre qualidade de vida, equilíbrio trabalho-família e inclusão feminina no mercado formal.

Angola, recorda, enfrenta uma realidade laboral marcada pela informalidade, desigualdade de género e escassez de emprego formal. Muitas mulheres vivem uma “tripla jornada”: trabalho remunerado, cuidados familiares e tarefas domésticas, quase sempre sem apoio estruturado. Nesse contexto, a adoção de uma semana laboral mais curta poderia reduzir o esgotamento físico e emocional, estimular a formação contínua e o empreendedorismo feminino, e até reforçar políticas públicas de apoio à maternidade e ao cuidado.

Ainda assim, Garcia adverte para a necessidade de uma abordagem cautelosa. A economia angolana continua dependente de sectores de baixa digitalização e forte presença física, como o comércio informal, a agricultura e a construção. Por outro lado, áreas mais urbanas e formais – tecnologia, serviços financeiros, comunicação, advocacia, ONGs e instituições multilaterais – oferecem maior potencial para testes-piloto. “Empresas com visão estratégica e foco em ESG podem liderar essa mudança, não apenas como responsabilidade social, mas também como vantagem competitiva”, observou.

A empresária sugere que Angola inicie com experiências localizadas, lideradas por startups, multinacionais com presença no país ou grandes grupos nacionais. Estas iniciativas poderiam ser acompanhadas por estudos de impacto, pesquisas académicas e debates públicos, ajudando a construir um caminho gradual e realista.

Corroborando desta linha de pensamento, a economista angolana Nádia João, especializada em inclusão produtivado considera que “a semana de quatro dias pode funcionar como resposta moderna à sobrecarga das mulheres, se vier acompanhada de políticas de apoio, creches comunitárias e acesso à tecnologia”, reforçou. Já o sociólogo Adelino Mbala alerta para os riscos de uma importação acrítica do modelo europeu. “Não devemos copiar, mas sim experimentar, adaptar e inovar”, defende.

Em síntese, a redução da semana laboral em Angola surge como hipótese viável, mas dependente de estudos detalhados e de uma adaptação ao contexto socioeconómico nacional. O desafio será transformar uma tendência global num instrumento de inclusão, produtividade e competitividade sustentável.

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