Cerca de 9,7 milhões de alunos foram matriculados, no quadro lectivo 2025/2026 em Angola, entrando pela primeira vez aproximadamente 1,9 milhões de crianças, anunciou a ministra de Estado para a Área Social.
Maria do Rosário Bragança salientou que, para esse ano lectivo estão disponíveis perto de 130 mil salas de aulas, representando um aumento de 3.247 em comparação com o ano lectivo passado.
“Apesar das dificuldades, o sistema de educação e ensino vem registando avanços, principalmente no ensino primário e no ensino secundário, para os quais a construção de novas escolas permitiu o alargamento da rede escolar”, disse Maria do Rosário Bragança, na cerimónia oficial de arranque do ano lectivo.
Segundo a ministra, “a caminhada para o acesso e frequência no sistema de educação e ensino de um número cada vez maior de cidadãos tem sido longa”, todavia, nem sempre tem trazido “os resultados desejáveis, mas os avanços são inegáveis”.
A governante angolana sublinhou que o trabalho dos professores é a verdadeira base do futuro da nação e o ensino não é apenas acesso, “é também, e sobretudo, qualidade, por isso o executivo continua a investir na capacitação inicial e contínua de professores, dotando-os de melhores ferramentas pedagógicas e científicas”.
Entre 2019 e 2024, foram formados mais de 60 mil professores e mais de 200 professores concluíram os mestrados em metodologias específicas que permitem melhorar a proficiência do ensino, avançou Maria do Rosário Bragança.
De acordo com a ministra, o Programa Nacional de Alimentação Escolar a ser implementado de modo faseado, começando pelas escolas dos municípios mais vulneráveis, e vai beneficiar no longo prazo mais de cinco milhões de crianças desde a educação pré-escolar até aos alunos do ensino primário.
Uma das preocupações que persiste, segundo a ministra, é o que se convencionou chamar “pobreza de aprendizagem, espelhada na fraca aquisição por parte dos alunos de saberes básicos essenciais como ler, escrever e contar”.
“Para estancarmos os efeitos negativos, está em curso o Projecto Aprendizagem em Idade Certa, que garante que todas as crianças dominem as competências básicas em literacia. Na fase piloto deste projecto, iniciado este ano, foram capacitados 422 professores para atenderem 55.000 alunos em 73 escolas”, avançou a ministra.
Pronunciamento do Movimento de Estudantes Angolanos
O presidente do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA) alertou para a falta de equipamentos, más condições nas escolas e dificuldades no acesso às matrículas que estão a marcar o arranque do ano lectivo em Angola.
Francisco Teixeira lamentou que o ano lectivo 2025/2026 se inicie com os mesmos “problemas básicos” de há mais de cinco anos, acusando o Governo de não estar “preocupado com isso”.
O responsável referiu que visitou recentemente escolas das províncias de Malanje, Benguela e Huambo, onde continuam a verificar-se falta de carteiras, quadros, casas de banho operacionais, água, entre outros problemas, afirmando que “não houve qualquer mudança” comparativamente aos anos anteriores.
Segundo o líder do MEA, a situação é a mesma para Luanda, a capital angolana, com escolas que “fazem chorar”.
“As crianças vão começar a estudar amanhã ou depois sem carteiras, sentadas no chão (…), as escolas continuam imundas, com capim”, disse à Lusa Francisco Teixeira.
O líder do MEA frisou também as dificuldades de matrícula este ano, relatando que “as pessoas dormiam no quintal das escolas, na rua, para matricular uma criança”, porque havia escolas com apenas 30 vagas.
De acordo com Francisco Teixeira, o número de crianças fora do sistema de ensino é superior a nove milhões.
Além das más condições das infraestruturas, Francisco Teixeira apontou igualmente a falta de materiais didáticos e da merenda escolar, lamentando que, perante este quadro, a prioridade seja o ensino de língua nacional, quando existe também um défice de 78 mil novos professores para as disciplinas antigas.
“Estamos a brincar com coisas sérias”, lamentou, desafiando a ministra da Educação “a dizer qual a escola que tem um professor de língua nacional”.
“Nós temos estudantes a chegar ao ensino médio sem nunca ter tido um professor de língua portuguesa, estudantes a chegarem à nona classe sem nunca pegarem num livro de matemática, de português, nunca tiveram livros, os professores têm de transcrever todo o texto no quadro para os miúdos copiarem, porque não têm livros”, realçou.
Para Francisco Teixeira, a aposta nas línguas nacionais “é brincadeira do ministério, do Governo, e só vão continuar a distrair os distraídos”.
De acordo com o presidente do MEA, permanece também o problema da venda de material didático, que por lei é gratuito até à sexta classe.
“É com tristeza que nós temos de aceitar o arranque do ano lectivo nessas condições. Todos aqueles que hoje estão a fazer o arranque do ano lectivo, a falar, não têm filhos nas escolas públicas, não têm noção do que é que está a acontecer nas escolas públicas”, referiu.
“Pergunta a eles se repararam os quartos de banho? Numa escola com três mil estudantes, das quais a maioria são meninas, como é que as casas de banho estão fechadas, como é que as casas de banho não têm água corrente, se as meninas carecem de algum cuidado especial?”, questionou.
Segundo o dirigente do movimento estudantil, apenas 12% das escolas têm água corrente e 80% delas têm as casas de banho fechadas, pelo que o estado da educação em Angola não é “a que os angolanos sonharam”.
“É a educação possível, não é a que queremos, não é a que sonhamos, estamos longe”, observou.