O Governo angolano vai avançar, em Novembro, com o concurso público internacional para a concessão da Linha Ferroviária de Moçâmedes, uma das mais importantes infra-estruturas de transporte do sul de Angola. O objectivo é criar uma parceria público-privada (PPP) que reforce a competitividade logística nacional e consolide o papel do país como hub regional na África Austral.
O anúncio foi feito esta Sexta-feira, 17, em Luanda, pelo ministro dos Transportes, Ricardo Viegas D’Abreu, durante a inauguração da primeira edição do Angola Hub Transportes & Logística Summit, evento que decorre até Domingo, 19, sob o lema “Conectando Oportunidades, Gerando Valor Global”.
“Temos as melhores expectativas quanto ao interesse que o concurso vai despertar entre importantes playeres internacionais”, afirmou o governante, destacando que o Porto do Namibe, com terminais modernizados e equipamentos de última geração, já reforça a capacidade logística nacional.
Segundo o ministro, a concessão permitirá integrar o interior do país e as fronteiras com a Namíbia e a Zâmbia, transformando Angola e o Porto do Namibe numa alternativa estratégica e competitiva na África Austral, particularmente face ao porto de Walvis Bay, da vizinha República da Namíbia.
O projecto dará também origem ao Corredor Sul, iniciativa que visa dinamizar a exploração e o comércio de minérios provenientes das províncias da Huíla, do Cubango, do Cuando Cubango e do Namibe. A visão inclui igualmente o desenvolvimento de uma siderurgia nacional que permita acrescentar valor ao minério de ferro extraído das minas de Cassinga, reduzindo a dependência das exportações em bruto.
Entre outras iniciativas estruturantes, D’Abreu destacou o Terminal de Águas Profundas do Caio, em Cabinda, os novos aeroportos de Cabinda e Mbanza Congo, a Zona Franca da Barra do Dande, o terminal portuário associado e a Cidade Aeroportuária que se erguerá em torno do Aeroporto António Agostinho Neto. Estes projectos, referiu, estão “a traduzir-se em resultados concretos para a nação angolana”, gerando emprego, formação de quadros, crescimento do comércio regional e internacional, integração das cadeias de valor e reforço da posição geoestratégica do país.
“O caminho está definido: queremos fortalecer a intermodalidade entre ferrovia, rodovia e portos; reduzir custos logísticos; atrair operadores privados; dinamizar parcerias público-privadas e garantir uma mobilidade sustentável e inclusiva para todos”, sintetizou o ministro.
Um novo passo na modernização de infra-estrutura

O lançamento do concurso para a Linha Ferroviária de Moçâmedes representa um novo passo na estratégia angolana de modernização das infra-estruturas e diversificação económica. Um especialista ouvido pela FORBES ÁFRICA LUSÓFONA considera que, ao apostar em parcerias público-privadas e na integração multimodal, Angola procura transformar os seus corredores logísticos em plataformas de valor regional, capazes de potenciar a exploração mineira, o comércio transfronteiriço e a industrialização.
“Se bem executada, a concessão poderá reposicionar o sul do país como eixo estratégico entre o Atlântico e os mercados da SADC, reforçando a autonomia económica e a conectividade continental”, prespectiva.
A aposta de Angola em modelos de concessão e parcerias público-privadas (PPP) no sector ferroviário reflecte uma viragem estrutural na forma como o país encara o investimento em infra-estruturas. Ao transferir parte da operação para operadores privados, mantendo a tutela pública da regulação e da soberania estratégica, no entender do especialista, o Executivo angolano estará a querer melhorar a eficiência operacional, atrair capital estrangeiro e acelerar a integração logística regional.
No médio prazo, iniciativas como a da Linha de Moçâmedes poderão reduzir custos de transporte, impulsionar a indústria transformadora e gerar novas cadeias de valor, posicionando Angola como um centro de confluência económica entre o Atlântico e o interior da SADC.