O Governo moçambicano anunciou que vai transformar em museu-hotel o abandonado edifício Vila Algarve, imóvel classificado no centro de Maputo e que serviu como prisão da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) no período colonial.
A obra no edifício, em avançado estado de degradação, no número 10 do cruzamento das avenidas dos Mártires de Machava e Ahmed Sekou Touré, centro de Maputo, está prevista num concurso em duas etapas, segundo o anúncio de adjudicação.
O projecto de “elaboração, requalificação do edifício e exploração de actividade museu-hotel do edifício denominado por Vila Algarve foi entregue pelo Ministério dos Combatentes à empresa Giluba-Lin, refere o documento.
Actualmente, todas as entradas da vivenda construída em 1934 no coração de Maputo, ampliada em 1950 e hoje classificada como Imóvel de Interesse Arquitetónico, estão entaipadas e protegem o interior da ocupação por pessoas em situação de sem-abrigo, como já aconteceu em anos anteriores.
O património do Estado, já foi equacionado em 2011 ali instalar o futuro Museu da Luta de Libertação, mas como todos os outros projectos, não avançou.
Da imponente vivenda no centro de Maputo, decorada por extensos mosaicos com motivos naturalistas, sobram hoje pouco mais do que paredes, tetos e telhados, mas também histórias sombrias do período colonial, quando a PIDE a confiscou, passando a usá-la como local de tortura de então combatentes pela independência moçambicana.
Histórias como as que o poeta moçambicano José Craveirinha (1922-2003) retrata nos seus poemas “Não sei se é uma medalha” de 1967, e nas duas versões de “Vila Algarve”, de 1988 e de 1998, sobre o período em que ali esteve detido, com passagem pelo interrogatório da PIDE.
Em 25 de Junho de 1975, diz a Lusa, Moçambique proclamou a sua independência, mas nos anos seguintes o abandono, a degradação e os ‘fantasmas’ em torno do que ali se passou tomaram conta da Vila Algarve e até a Ordem dos Advogados de Moçambique tentou, sem sucesso, em 2008, fazer do espaço a sua sede.





