A instabilidade macroeconómica em Angola continua a representar um obstáculo relevante para a sustentabilidade do sector de seguros e fundos de pensões, ao impactar directamente a rentabilidade, a gestão de activos e a confiança dos consumidores. A avaliação foi feita pelo secretário de Estado para as Finanças e Tesouro, Ottoniel dos Santos, durante a conferência “50 Anos de Seguros em Angola – Retratos, Impactos e Desafios”, organizada pela Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG).
De acordo com o governante, a inflação elevada registada nos últimos anos superou o crescimento do mercado segurador, erodindo o poder de compra das famílias e diminuindo o valor real das poupanças. “O aumento do custo de vida pressiona as seguradoras, já que os sinistros tornam-se mais caros, forçando as empresas a rever em alta o preço das apólices – uma solução que, por sua vez, pode afastar clientes”, explicou.
A depreciação do kwanza agrava o cenário. A moeda nacional, ao perder valor face ao dólar e outras divisas, reduz a capacidade de pagamento de prémios de longo prazo e aumenta a incerteza sobre activos financeiros que sustentam as carteiras de investimento. Companhias que operam com apólices em moeda estrangeira ou passivos noutras divisas enfrentam perdas significativas em contexto de desvalorização cambial.
Nos fundos de pensões, a erosão é igualmente visível. A inflação e a desvalorização corroem o valor real das poupanças, diminuindo a rentabilidade para os participantes. Segundo Santos, esta realidade coloca os gestores de fundos perante o dilema de encontrar activos que ofereçam retornos reais positivos, o que é cada vez mais difícil num mercado dominado por volatilidade e escassez de alternativas. Em resposta, os participantes pressionam por melhores resultados, aumentando a exposição das carteiras ao risco.
Apesar do quadro desafiante, Ottoniel dos Santos salientou sinais de resiliência e crescimento no sector, destacando que a transformação futura dependerá de inovação, digitalização e maior literacia financeira. “Ao abraçarmos a tecnologia e ampliarmos a cobertura, o sector poderá tornar-se não apenas um escudo contra riscos, mas um motor de estabilidade e desenvolvimento económico”, afirmou.
O secretário de Estado defendeu ainda que o fortalecimento do mercado exige colaboração activa entre regulador, seguradoras, fundos de pensões, mediadores e cidadãos. Apenas com confiança, transparência e visão de futuro, considera, será possível consolidar um sector robusto, capaz de actuar como catalisador estratégico para o desenvolvimento económico de Angola.