Joe Biden em Angola: Visita histórica com foco nas infra-estruturas e parcerias estratégicas

O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, realizará na próxima semana uma visita oficial a Angola, consolidando um momento marcante nas relações bilaterais entre os dois países. Esta viagem, inicialmente agendada para Outubro e adiada devido à necessidade de Biden supervisionar a resposta ao furacão Milton nos EUA, reforça uma parceria estratégica…
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Entre 2 e 4 de Dezembro, Presidente dos EUA visita Angola numa ocasião histórica para os dois países. Adiada em Outubro, a viagem reforça uma parceria estratégica focada nas infra-estruturas.
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O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, realizará na próxima semana uma visita oficial a Angola, consolidando um momento marcante nas relações bilaterais entre os dois países.

Esta viagem, inicialmente agendada para Outubro e adiada devido à necessidade de Biden supervisionar a resposta ao furacão Milton nos EUA, reforça uma parceria estratégica em rápida evolução, centrada no investimento em infra-estruturas, conectividade regional e desenvolvimento económico sustentável.

No entanto, a visita ocorre também num contexto particular, com Biden em final de mandato, após a sua Vice-Presidente, Kamala Harris, ter perdido as eleições presidenciais de 2024 para Donald Trump, num momento que marca a transição de liderança nos EUA.

Objectivos Definidos

A visita de Biden a Angola é um reflexo da estratégia da administração Biden-Harris para África, lançada em 2021, que reconhece a importância da liderança africana para enfrentar os desafios globais do século XXI. A viagem surge no seguimento de encontros bilaterais prévios, incluindo uma reunião entre Biden e o Presidente angolano, João Lourenço, em Novembro de 2023, na Cimeira EUA-África e a visita de Lourenço aos Estados Unidos em 2021.

O adiamento da visita, inicialmente planeada para Outubro, deu-se num momento de emergência interna nos EUA, quando o furacão Milton causou danos significativos em várias regiões do país, obrigando Biden a concentrar-se na coordenação da resposta federal. Apesar do atraso, a realização da visita sublinha o compromisso dos EUA com Angola e África como um todo.

O objectivo principal da visita é reforçar os laços bilaterais, com foco no desenvolvimento de infra-estruturas e na promoção de conectividade económica e social em África, tendo Angola como parceiro estratégico.

Entre os temas centrais, Biden abordará comércio, segurança regional, cooperação científica e tecnológica, democracia e mudanças climáticas.

“Vemos Angola como um parceiro estratégico e um líder regional. O nosso relacionamento transformou-se completamente ao longo dos últimos 30 anos, e essa transformação acelerou significativamente nos últimos três anos”, destacou Frances Brown, directora sénior para Assuntos Africanos no Conselho de Segurança Nacional norte-americano, durante um briefing, realizado em Washington, sobre as prioridades da visita de Biden a Angola.

Corredor do Lobito: Uma Iniciativa Transformadora

Um dos principais focos será o investimento no Corredor do Lobito, um projecto de infra-estruturas de alcance continental que visa conectar Angola, República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia. Este corredor inclui a modernização de linhas ferroviárias, o desenvolvimento de novas conexões logísticas e investimentos em energia limpa, agricultura e digitalização.

Desde 2021, os EUA têm desempenhado um papel crucial no apoio a este projecto, mobilizando quase 5 mil milhões de dólares em investimentos através da Parceria para Infra-estruturas Globais e Investimento (PGI). Esta iniciativa do G7 visa reduzir o défice de infra-estruturas em mercados emergentes e reforçar a conectividade global de forma sustentável.

“O Corredor do Lobito não se trata apenas de uma ferrovia ou de minerais críticos. Trata-se também das comunidades que são fortalecidas ao longo do percurso, do maior acesso à educação, dos produtos agrícolas que chegam ao mercado e do aumento da conectividade digital”, explicou Brown.

Expectativas para a visita

Durante a visita, Joe Biden reunirá com João Lourenço para aprofundar discussões sobre democracia, paz e segurança regional, e metas económicas partilhadas. O Presidente dos EUA fará também um discurso público, onde irá sublinhar o impacto da sua administração em África e os avanços na relação bilateral EUA-Angola.

Espera-se que Biden anuncie avanços concretos em projectos de infra-estruturas, incluindo novos desenvolvimentos no Corredor do Lobito, bem como iniciativas em saúde global, segurança alimentar, agronegócio e preservação do património cultural angolano. Um dos marcos será o progresso na construção de 800 quilómetros de nova ferrovia, conectando Angola e Zâmbia, reduzindo tempos de transporte e promovendo a competitividade regional.

“O que torna este projeto especial é que ele foi projectado como uma verdadeira parceria público-privada. Estamos a trabalhar directamente com Angola e a Zâmbia para desenvolver um mecanismo que permita avanços rápidos e eficazes”, afirmou Helaina Matza, Coordenadora Especial Interina da PGI no Departamento de Estado norte-americano.

Além disso, Biden deverá destacar os resultados da assinatura de um acordo recente da Millennium Challenge Corporation com a Zâmbia, que complementa os investimentos agrícolas e logísticos no corredor.

“Desde o início, sabíamos que o Corredor do Lobito deveria beneficiar mais do que os três países directamente conectados. O impacto das infra-estruturas e da conectividade regional terá efeitos em cadeia, reduzindo custos comerciais, fortalecendo cadeias de abastecimento e criando oportunidades económicas em toda a região”, acrescentou Matza.

Impacto regional e global

A visita de Biden não só reforça a posição de Angola como líder regional, mas também reflecte uma abordagem competitiva dos EUA em relação a outras potências globais, como a China e a Rússia, que têm expandido a sua influência em África.

“Esta abordagem não se trata de forçar escolhas, mas de oferecer aos países africanos opções e a capacidade de tomar decisões soberanas. Acreditamos que a nossa proposta de valor, baseada em comércio, investimento e parcerias, demonstra o impacto positivo da colaboração com os EUA”, afirmou Brown.

Matza reforçou que este modelo de investimento oferece uma “corrida para o topo”, permitindo que parceiros africanos exijam melhores investimentos e opções mais competitivas, promovendo uma economia regional mais resiliente.

Momento decisivo

Esta visita também marca o fim de um capítulo na administração Biden. Após a sua derrota para Donald Trump nas eleições do passado mês de Novembro, Biden aproveita este momento para reforçar o legado da sua política externa em África, num esforço para garantir que as parcerias estratégicas criadas durante o seu mandato tenham continuidade.

Para Angola, esta é uma oportunidade única de reafirmar o seu papel como um actor regional central, beneficiando de investimentos significativos que poderão transformar a sua economia e conectividade.

“Estamos a fazer história. Esta visita não é apenas sobre o presente, mas sobre criar uma fundação duradoura para o futuro das relações entre os EUA e Angola, e para África como um todo”, concluiu Matza.

Embora o contexto político nos EUA seja de transição, a visita sublinha o compromisso de longo prazo do país com Angola e África, deixando um marco no desenvolvimento de relações bilaterais e no panorama de investimentos estratégicos no continente.

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