Foi no Dia das Mães do ano passado, sentado numa praça da Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, na África, que Lázaro Ramos colocou o ponto final em “Na nossa pele” (Editora Objetiva, 128 páginas, R$ 69,90).
No novo livro, Lázaro dá continuidade ao diálogo iniciado com o leitor em “Na minha pele”, lançado em 2017. Fala sobre o ofício de artista, de questões raciais, de afecto e de transformações sociais no tocante à representatividade negra, entrelaçando com reflexões pessoais.
Desta vez, porém, uma personagem especial se faz mais presente: Célia Maria do Sacramento, falecida quando ele tinha 19 anos. Tanto que, a princípio, as peles do título seriam de mãe e filho.
Ao examinar a personalidade e a história de sua mãe, Lázaro identificou semelhanças suas com ela.
— Por exemplo, o gosto pela conversa. O meu tipo de humor é muito parecido com o dela também, assim como a minha vulnerabilidade. Eu era muito jovem quando ela faleceu, foi pouco tempo de convivência. Ela foi uma ausência presente o tempo todo. A até três anos atrás, eu entrava no supermercado, via o biscoito de que ela mais gostava e meus olhos lacrimejavam. Poder me enxergar nela e ao mesmo tempo me ver como uma extensão dela é bonito.
O carinho e o estímulo que ela e meu pai me deram me fez ter coragem para desbravar caminhos, tendo oportunidades que ela não teve — afirma ele, aos 46 anos, corrigindo uma informação muitas vezes repetida em entrevistas: — Durante anos, me perguntavam se eu sou o primeiro artista da minha família e eu dizia que sim. Mas minha mãe fazia teatro! Estudava à noite, depois do trabalho, e me levava para ver… E eu virei actor profissional. Sou uma extensão do sonho dela.
Novo morador do Flamengo, na Zona Sul do Rio, o comunicador (é assim que ele prefere ser chamado, em resumo às várias funções que exerce nas artes, como ator, escritor, diretor, produtor…) conta que está adorando a vida no bairro, embora ainda não tenha conhecido a praia dali (Taís foi flagrada nas areias banhadas pela Baía de Guanabara, com os filhos, no fim de fevereiro).
— Tenho até vergonha de falar, mas moro no Rio há 25 anos e entrei no mar daqui sete vezes. É por causa da água fria — confidencia o baiano: — Sou desapegado a lugares e apegado a pessoas. Fico bem onde estão meus filhos e minha mulher. Já falei para as crianças que quando elas entrarem para a universidade, se forem para outra cidade, vou atrás. E digo a Taís que ainda vou morar em Cabo Verde… Fiz até chamada de vídeo com ela em apartamentos de lá, na companhia de um corretor de imóveis. Ela diz que eu sou doido. Eu me permito sonhar.