A literatura angolana acaba de dar um passo simbólico na aproximação cultural entre a China e os países de língua portuguesa. A primeira edição em mandarim de uma obra de João Melo, intitulada “Será Este Livro Um Romance?”, foi lançada recentemente em Macau, com publicação simultânea na China continental.
A tradução, assinada por Chen Qian, contou com o patrocínio do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau).
O secretário-geral do Fórum Macau, Ji Xianzheng, afirmou que a iniciativa visa “edificar uma ponte espiritual entre as culturas sino-lusófonas e promover o intercâmbio entre diferentes civilizações”, sublinhando o papel da literatura como veículo de diálogo e entendimento cultural.
O lançamento integrou a 17.ª Semana Cultural China–Países de Língua Portuguesa, decorrida desde 26 de Setembro, e contou com duas edições distintas: uma em caracteres tradicionais, publicada em Macau pela Os Macaenses Publicações, e outra em caracteres simplificados, destinada ao público da China continental.
A fundadora da editora macaense, Cyan Cheong In Cheng, lamentou que a literatura angolana permaneça “um território ainda inexplorado” pelos leitores chineses, expressando esperança de que o lançamento da obra de João Melo assinale o início de um diálogo cultural mais profundo entre a China e os países lusófonos.
Já a editora-chefe da Lijiang Publishing, Zhang Qian, destacou que o livro poderá “injectar novo dinamismo no estudo da literatura lusófona africana” na China, abrindo caminho para maior visibilidade das vozes literárias de África.
Em mensagem de vídeo, João Melo felicitou o Fórum de Macau pela iniciativa de difundir escritores de língua portuguesa no espaço chinês, mas lamentou que as literaturas africanas lusófonas permaneçam pouco divulgadas internacionalmente, sobretudo fora dos circuitos académicos.
Apesar do entusiasmo em torno do lançamento, Ji Xianzheng admitiu à Lusa que, por agora, “Será Este Livro Um Romance?” deverá ser o único título traduzido sob os auspícios directos do Fórum de Macau, um facto que, segundo observadores culturais, reforça o desafio de consolidar uma política contínua de intercâmbio literário sino-lusófono.





