O crédito continua a ser o principal motor das instituições de microfinanças em Cabo Verde, com destaque para o financiamento de mulheres empreendedoras e pequenos negócios nas áreas do comércio e dos serviços. De acordo com o relatório anual do Banco de Cabo Verde (BCV), referente ao ano de 2023, as mulheres representam 62% dos beneficiários de microcrédito, reforçando o impacto do setor na promoção do empreendedorismo feminino e na redução das desigualdades sociais.
No final do ano passado, estavam registadas no BCV sete instituições de microfinanças, o mesmo número de 2022, incluindo cinco cooperativas e duas mutualidades. Estas entidades contavam com mais de 10 mil clientes ativos e cerca de 4 mil membros depositantes, evidenciando um crescimento de 8,5% face ao ano anterior.
O microcrédito domina amplamente a oferta financeira do setor, com foco no apoio a pequenos empreendimentos, contribuindo diretamente para a dinamização da economia local. Três instituições a Morabi, a Citicoop e a Fami-Picos concentram cerca de 84% da carteira de crédito concedido, o que evidencia uma elevada concentração de mercado.
A maior fatia do crédito destina-se ao comércio e aos serviços (41%), seguida da reabilitação habitacional (24%), do consumo (14%) e da agricultura (11%). No que respeita à poupança, o setor disponibiliza três modalidades principais: poupança a prazo, obrigatória e voluntária.
Os ativos das instituições de microfinanças corresponderam, em 2023, a 0,54% do PIB cabo-verdiano e a 0,38% do total de ativos do sistema financeiro. Embora represente uma parcela reduzida, o setor mantém relevância estratégica, com um aumento de 6% nos resultados líquidos, que ascenderam a 92 milhões de escudos.
O relatório destaca, contudo, várias fragilidades estruturais, entre as quais se incluem deficiências de governança, fraco controlo interno, baixa literacia financeira e qualidade insuficiente nos reportes. As alterações climáticas também surgem como uma ameaça ao equilíbrio do setor, com impactos já visíveis nos rendimentos de clientes agrícolas e rurais.
Para mitigar esses riscos e fortalecer o sistema, foram implementadas medidas como a integração na Central de Registo de Crédito, inspeções regulares e programas de capacitação técnica. O documento sublinha ainda o potencial das soluções digitais para expandir a inclusão financeira no arquipélago.
O Relatório de Atividades e Resultados do Setor de Microfinanças é uma publicação anual do Banco de Cabo Verde, enquadrada nas suas funções de supervisão e regulação.