Ministro admite dificuldades de financiamento para refinaria do Soyo e do Lobito

O Consórcio Quantem, promotor da construção e operacionalização da refinaria do Soyo, na província angolana do Zaire, estará a enfrentar dificuldades para encontrar financiamento para desenvolver o projecto, segundo revelou, recentemente, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo. “Temos aqui os nossos parceiros das empresas internacionais que sabem qual é a dificuldade…
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Segundo Diamantino Azevedo, apesar de terem sido feitas algumas acções, não há dinheiro para avançar com as obras. Sorte diferente teve a refinaria de Cabinda, com 60% da primeira fase já concluídos.
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O Consórcio Quantem, promotor da construção e operacionalização da refinaria do Soyo, na província angolana do Zaire, estará a enfrentar dificuldades para encontrar financiamento para desenvolver o projecto, segundo revelou, recentemente, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo.

“Temos aqui os nossos parceiros das empresas internacionais que sabem qual é a dificuldade hoje de conseguir financiamento para o upstream. Então para o downstream é ainda muito mais. Hoje é muito difícil financiamento para fazer-se refinaria. Então, a refinaria do Soyo está com essa dificuldade”, admitiu o governante, durante a sua intervenção na última reunião alargada do Conselho Consultivo do seu Ministério, realizada na cidade do Cuito (Bié).

Segundo garantiu Diamantino Azevedo, “o projecto está todo feito, algumas acções realizadas”, estando, no entanto, “com esta dificuldade” para qual “se está a trabalhar com o promotor para encontrar solução”.

O Quanten ganhou, em 2021, o concurso público internacional de investimento privado para construir e operacionalizar a refinaria do Soyo, sendo integrado por quatro empresas, sendo três norte-americanas (Quanten LLC, TGT INC e Aurum & Sharp LLC) e uma angolana (ATIS Nebest).

A refinaria do Soyo é um investimento essencialmente privado calculado em 3,5 mil milhões de dólares, devendo processar, na sua fase final, 100 mil barris de petróleo por dia. Entre os outputs constam 40% gasolina e 30% gasóleo. O projecto prevê criar, na sua na fase de construção, 3 mil empregos directos e, durante as operações, empregar de forma directa 1 000 colaboradores.

Outro projcto que se encontra condicionado pela falta de financiamento é a refinaria do Lobito, na província de Benguela. “[A refinaria do] Lobito é um projecto que já tinha iniciado e depois parou. Nós, quando recebemos essa responsabilidade, dissemos que primeiro iriamos olhar para o projecto e, meus senhores, tinha um CAPEX absurdo”, contou.

Segundo explicou, foi de seguida contratada uma empresa para fazer uma Due Diligence ao projecto e viu-se que “com aquele CAPEX [ sigla da expressão inglesa Capital Expenditure, que pode ser definida como Despesas de Capital ou Investimentos em Bens de Capitais] era impossível construir a refinaria”. Como resultado, prosseguiu, ordenou-se uma revisão do projecto, “tanto em termos de custos, mas também do próprio aspecto tecnológico para aumentarmos a qualidade”, tendo em conta o momento actual. “Meus senhores, reduzimos o CAPEX para quase metade”, assegurou.

“Nós, quando recebemos essa responsabilidade, dissemos que primeiro iriamos olhar para o projecto e, meus senhores, tinha um CAPEX absurdo.”

Como parceiro para a Sonangol foi encontrada a China National Chemical Engineering (CNCEC), com a qual foi assinado, em Outubro de 2023, um contrato para a construção da refinaria do Lobito, com um prazo de conclusão previsto de quatro anos, o que ‘com o andar da carroagem’ tudo indica que não venha a ser cumprido.

“Identificamos um a empresa chinesa, fomos ver refinarias que eles construíram, vimos que era o parceiro ideal para construir connosco e decidimos avançar com um esforço da Sonangol. Portanto, recomeçou a construção da refinaria do Lobito, mas estamos com dificuldade de financiamento, estamos à procura de financiamento”, disse.

O contrato da refinaria do Lobito prevê que a Sonangol assuma, pelo menos na fase inicial, todo o investimento necessário para o arranque dos trabalhos de construção da infra-estrutura, com recurso a financiamento da China, proveniente de instituições financeiras bancárias e outras do ‘gigante asiático’, sem o petróleo como garantia.

Num investimento estimado de 6 mil milhões de dólares, a refinaria do Lobito, projectada para uma capacidade de processamento de até 200 mil barris/dia, prevê a criação de 8 mil postos de trabalho directos e indirectos, na fase de construção, e de 4 mil outros na fase de operação.

Sorte melhor teve a refinaria de Cabinda

Obras da primeira fase de instalação da refinaria de Cabinda concluídas em 60%. (Foto: DR)

Entretanto, contrariamente ao que se debatem as refinarias do Soyo e do Lobito, o responsável angolano pela pasta dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, garantiu para breve o arranque da refinaria de Cabinda, que em Julho do ano passado assegurou o financiamento para a primeira fase do projecto. Trata-se de um pacote financeiro de 473 milhões de dólares, financiado em 138 milhões de dólares com recursos já disponibilizados pelos sócios e em 335 milhões de dólares no formato de project financing, emprestados por um sindicato bancário liderado pela AFC, Afreximbank e um conjunto de instituições financeiras internacionais e locais, entre eles o Banco de Fomento Angola (BFA).

A previsão é que numa primeira fase, segundo avançara na altura à FORBES o CEO da Gemcorp Holdings Limited (GHL), Atanas Bostandjiev, a referida infra-estrutura venha a produzir e entregar ao mercado angolano gasóleo, Nafta, HFO – Heavy Fuel Oil, e jet fuel, sendo que serão processados 30.000 barris de petróleo bruto por dia, passando a atender 10% das necessidades dos derivados de petróleo refinado do mercado, quota que passará para 20% depois de terminada a segunda fase, serão também produzidos a gasolina e o LPG – Liquefied Petroleum Gas.

Entretanto, no início do mês em curso, altos responsáveis da GHL anunciaram em entrevista à African Energy que as obras de construção da refinaria de Cabinda estão concluídas a 60%, antevendo que a primeira fase do projecto seja comissionada em Novembro próximo, estando o início do processamento de petróleo bruto programado para Fevereiro de 2025.

De acordo com o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, o Executivo angolano liderado pelo Presidente João Lourenço, vem desenvolvendo um programa de maximização do petróleo produzido no país, tendo para o efeito definido uma estratégia de refinação.

“Hoje, fruto deste investimento, a refinaria de Luanda produz três vezes mais gasolina, sem se ter aumentado a capacidade.”

O primeiro passo da mencionada estratégia foi olhar para a ‘velha’ refinaria de Luanda, construída nos anos 50 e que cobre mais ou menos 20% das necessidades em derivados de petróleo do país. Foi feito um investimento de 235 milhões de dólares na infra-estrutura, com o suporte técnico da petrolífera italiana ENI, que aumentou a capacidade de produção de gasolina de 72 mil toneladas para 450 mil toneladas por ano.

“Hoje, fruto deste investimento, a refinaria de Luanda produz três vezes mais gasolina, sem se ter aumentado a capacidade. O que reduzimos foi a produção dos subprodutos como Nafta e óleos pesados”, explicou Diamantino Azevedo.

O passo seguinte da estratégia, acrescentou o governante, foi traçar a construção de três refinarias, nomeadamente a de Cabinda, Soyo e reactivar a construção da refinaria do Lobito.

“Se nós conseguirmos construir as refinarias, isso não significa que o preço de derivados tem que continuar a ser subsidiado. Para as refinarias serem rentáveis, elas terão que vender os seus produto ao preço do mercado. A vantagem é que nós passamos a deixar de importar esses produtos e o Estado terá dinheiro para fazer outras coisas. Mas essas refinarias para serem rentáveis têm que ser competitivas a nível internacional”, asseverou o ministro angolano.

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