Promover oportunidades de carreira e de desenvolvimento da liderança feminina no sector petrolífero em Angola levou à criação há dois anos da plataforma Muhatu Energy Angola (MEA). Os projetos que estão no terreno foram o mote para a primeira conversa One-to-One do “Forbes África Lusófona Annual Summit 2024” que decorreu entre a presidente da Comissão de Gestão da MEA e também administradora executiva da ANPG, Nicola Mvuayi, e a directora da Forbes África Lusófona, Nilza Rodrigues.
O ponto de partida da conversa foi com base na verdade dos números: apenas 22% da força laboral do setor petrolífero angolano são mulheres e só 5% estão em cargos de liderança. E o propósito da Muhatu é contrariar estes números. E como?
Nicola Mvuayi detalhou que, nos últimos dois anos, a Muhatu tem estado “vocacionada para a troca de experiências de mulheres a nível do setor, para questões de capacitação, mas também na promoção de oportunidades de liderança”. E lembrou que a MEA tem vários projetos e programas estão a ser desenvolvidos pelas operadoras no mercado e também pela associação de prestadoras que fazem parte da rede.
A presidente da Comissão de Gestão da MEA realçou que “um dos grandes objetivos nos últimos dois anos tem sido não só trazer o awareness de termos apenas 22% de mulheres no setor e 5% em cargos de liderança, mas também do muito talento que não está a ser utilizado para contribuir para este setor que é ainda predominante na nossa economia”.
No terreno estão programas “muito voltados para a questão da capacitação também, para permitir trazer mais mulheres para o setor, aumentando assim a pool de talentos que vamos tendo”. E para o conseguir a plataforma tem feito palestras em universidades, levando experiências e exemplos positivos de profissionais do setor em que muitas já “são bastante seniores, de reformadas”, disse a também administradora executiva da ANPG. Recentemente, por exemplo, estiveram na Universidade Jean Piaget, levando mulheres “que são quadros e que estão há mais de 30 anos no setor petrolífero e foi uma troca de experiência muito positiva”, salientou Nicola Mvuayi.
A mesma responsável admitiu que ainda há algum desconhecimento por parte de algumas estudantes do que significa trabalhar no setor petrolífero e o que esta carreira implica. Por isso, sublinhou que “ter o contacto com pessoas que já estão no setor faz toda a diferença e também ajuda a aumentar o leque de talentos para aumentar o número de mulheres para o setor”.
E destacou programas como a ASSEA Ubuntu, que “foi desenvolvida e liderada pela ASSEA [Associação das Empresas de Serviços e Equipamentos de Angola], que tem sido um programa bastante positivo, bastante impactante. É um programa de mentoria e de estágios dirigidos a jovens que estão no ensino médio, técnico-profissional. A capacidade de absorção de jovens que têm feito parte desse programa tem sido de 70%, a nível dos órgãos ou a nível das empresas, nas quais, estão a fazer estágio”. Face a este cenário, Nicola Mvuayi não tem dúvidas em concluir que “o balanço é positivo. Pela frente ainda há alguns desafios, mas para estes dois anos dizemos que o balanço é bastante positivo”.
As oportunidades da transição energética
Numa altura em que a transição energética está na ordem do dia, surgiu a questão se será uma oportunidade para novos talentos no femininos? A presidente da Comissão de Gestão da MEA acredita “que sim. Mas a nível do setor acreditamos que essa transição deve ser equilibrada e deve ser bem programada, particularmente no contexto de um país em desenvolvimento como o nosso e a exploração de hidrocarbonetos ainda representa uma fonte principal de receitas do Estado, tanto para financiar a economia e financiar o desenvolvimento socioeconómico dos países”. Isto para, nas suas palavras, “não haver impactos negativos naquele que é o desenvolvimento socioeconómico dos países. Mas a nossa visão também é que esse processo, enquanto os países estão a diversificar as suas matrizes energéticas, possam continuar a explorar os seus hidrocarbonetos, mas respeitando o ambiente, utilizando tecnologias para a promoção de energia cada vez mais limpas e isso, por si só, esta diversificação, esta integração, ampliação da matriz energética vai trazer oportunidades”. E alertou que “aqui as empresas têm de se reinventar no concerne, por exemplo, ao financiamento. Cada vez mais, principalmente nos mercados europeus, já tem sido uma questão a transição energética para financiamento de projetos. Obviamente com o desenvolvimento deste segmento, cada vez mais oportunidades vão surgir”.
Face ao repto de identificar o momento mais desafiante de estar no segmento petrolífero, Nicola Mvuayi admitiu que foi precisamente “a minha vinda para o setor. Eu sou economista, nos últimos 10 anos estive no Ministério das Finanças, onde desempenhei várias funções, portanto ali, estava na minha praia, sou financeira, sou economista”.

Ao vir para o setor petrolífero, que também é uma componente predominante das finanças públicas, admite que “tem sido desafiante. Mas o mais desafiante ainda tem sido ter de liderar a Muhatu, uma instituição de mulheres para que tenham as suas aspirações, os seus desejos e que olham para a plataforma com muita expectativa, tem sido muito desafiante”.
Para as novas gerações deixou a garantia de que “a Muhatu está aqui e vai continuar a trabalhar para cada vez mais impulsionar a equidade e a inclusão de mais mulheres a nível do setor”. E reiterou a importância da aposta na meritocracia e na capacitação. “É importante que continuemos a nos capacitar, a reforçar as nossas competências, que é para quando as oportunidades cheguem, estejamos à altura de responder, à altura de dar resposta àqueles desafios que forem sendo colocados”. E sublinhou que “a mensagem é de continuar a reforçar as nossas competências e sim, vamos trabalhar para que o setor seja cada vez mais inclusivo, tenha mais mulheres. Mas é importante que nós mulheres estejamos capacitadas, preparadas para competir de igual forma, que é um setor muito competitivo”.
Quanto ao que significa energia para si, Nicola Mvuayi foi perentória: “Energia para mim é o que me move, é o que me impulsiona, é o que me motiva, isto para mim é energia”.