À FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, o gestor falou de temas que vão desde os problemas estruturais do sector do café em Angola ao trabalho para que a ambição de crescimento de 20% em 2024 seja uma realidade.
Como olha para a situação do café em Angola?
Angola já foi um dos maiores produtores mundiais de café, com mais de 200 mil toneladas anuais, antes de 1975. Essa produção está hoje reduzida a menos de 5%.
Como foi a entrada da Angonabeiro no mercado nacional?
Quando, em 1998, a Angonabeiro entrou no mercado angolano, verificava-se uma significativa falta de matéria-prima. Para contrariar esta conjuntura, a empresa apostou na recuperação de infra-estruturas, na formação de recursos humanos e na oferta de meios técnicos para recuperar a cafeicultura em Angola.
São mais de 20 anos. Que balanço faz?
Os esforços concretizados ao longo destes 25 anos têm dado frutos. Sabemos que a fileira do café em Angola é cada vez mais atraente. Há ainda um longo caminho a percorrer para aumentar de forma significativa a produção de café verde.
O que há de melhor no café em Angola?
O café angolano é muito apreciado pela sua alta qualidade histórica e tem muito boa cotação internacional. As variedades de robusta existentes em Angola são muito apreciadas.
Podemos dizer que este é o diferencial da vossa marca?
O nosso café Ginga, que tem como grande inspiração a Rainha Ginga, uma das figuras mais emblemáticas da história de Angola, tem um sabor intenso e encorpado, que resume bem os principais atributos do melhor café angolano.
Qual o verdadeiro diferencial do café/marca Ginga?
As vantagens competitivas da marca Ginga são muitas e diversas, mas a mais importante é o facto de o seu café ser produzido em Angola e só utilizar café 100% angolano. A marca está presente no mercado através de uma alargada gama de café torrado em grão e moído, e, mais recentemente, em cápsulas para utilização no sistema Delta Q.
Podemos dizer que é, neste momento, a estrela da companhia?
O café Ginga é, sem dúvida, o produto ‘estrela’ da Angonabeiro, tendo conquistado a preferência dos consumidores nacionais que, hoje, associam Ginga ao melhor café de Angola. Graças a este trabalho, surgiu também o reconhecimento internacional da qualidade do nosso café.
O café angolano é muito apreciado pela sua alta qualidade histórica e tem muito boa cotação internacional
O que definitivamente tem de melhorar na questão do café em Angola?
A principal dificuldade neste momento é a escassez de café. Existem muitos pequenos produtores, mas é necessário que se crie escala. No nosso entender, há questões estruturais que deverão ser analisadas mais em detalhe. A criação de um tecido empresarial forte, de indústria transformadora, que potencie a agricultura em Angola é essencial para diminuir a dependência do petróleo e potenciar a muito falada diversificação da economia.
Em Angola não há exactamente uma cultura de consumo de café. Como lida com isso?
Temos noção da necessidade de continuar a trabalhar no hábito de consumo de café do consumidor angolano. Por isso, mantém-se o trabalho de desmistificação do consumo de café, em que temos vindo a desenvolver uma série de iniciativas para explicar os benefícios da bebida aos consumidores e para dar a conhecer a verdade sobre os mitos urbanos à volta do café, promovendo assim o consumo por parte dos angolanos. Aproveito já para dizer que beber café em quantidades moderadas não é prejudicial para a saúde, antes pelo contrário, já que pode trazer muitos benefícios, e ainda melhora o estado de alerta e concentração.
Sabemos que a estratégia da Angonabeiro passa por comprar todo o café que conseguir. Qual o ponto de Angola que mais fornece café para a empresa?
Neste momento, é do Uíge que vem a maior quantidade seguido do Kwanza Sul. Mas, como disse, compramos todo o café que conseguimos ‘encontrar’ em Angola, nomeadamente nas províncias do Kwanza Sul, Kwanza Norte, Uíge, Bié e Cabinda.
Para este ano de 2024, qual a perspectiva de produção?
Estamos a investir no aumento da capacidade de produção, em novos produtos e na notoriedade internacional da marca Ginga. Para 2024 temos ainda previsto um importante crescimento na compra de café e um aumento também na exportação. Estimamos ser possível um crescimento de 20% caso este esteja disponível na produção.
Tem várias marcas de café no seu portefólio. Qual o peso de cada uma?
Temos no mercado os lotes Muxima, Bwe, Lobito e Muata, em formatos que variam entre as 125g e os 1Kg, e as cápsulas Delta Q Ginga com café 100% angolano. A marca Ginga representa 30% do volume de Café em Grão e 70% do volume de café moído.
Quais os principais mercados de venda dos produtos da Angonabeiro?
A empresa garante o abastecimento contínuo de todas as províncias a partir das instalações de Luanda, onde tem um armazém com quatro mil metros quadrados e mais de oito mil posições, e a fábrica do Café Ginga. A empresa exporta café verde para a casa mãe em Campo Maior, o Grupo Nabeiro/Delta Cafés. Este café é depois incorporado em vários blends e exportado de Portugal para cerca de 50 países, onde a Delta Cafés tem presença directa ou via parceiros. A Angonabeiro faz também a exportação de produto acabado sob a marca Ginga para Portugal.
Qual o peso de cada mercado?
Para a torrefação a empresa actua em dois mercados: mercado interno, que é Luanda e províncias, e mercado externo, com o objectivo de levar o melhor café de Angola a todo o mundo. Digo-lhe que o mercado interno continua a ter o maior peso, com cerca de 90% do nosso negócio.