O novo mapa do poder: quem são as mulheres que moldam a próxima década

O poder concentra-se hoje nos espaços onde o mundo está a ser reconstruído. A lista das “100 Mulheres Mais Poderosas do Mundo”, divulgada este ano pela Forbes, revela mulheres posicionadas no epicentro das decisões que moldam o futuro: orientam os fluxos de capital que definem a trajectória da inteligência artificial, gerem cadeias globais de abastecimento…
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Da inteligência artificial à geopolítica, a lista da Forbes mostra como as mulheres comandam os sistemas críticos do mundo, mesmo quando o topo do poder permanece fechado. Eis o retrato do poder feminino mundial.
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O poder concentra-se hoje nos espaços onde o mundo está a ser reconstruído. A lista das “100 Mulheres Mais Poderosas do Mundo”, divulgada este ano pela Forbes, revela mulheres posicionadas no epicentro das decisões que moldam o futuro: orientam os fluxos de capital que definem a trajectória da inteligência artificial, gerem cadeias globais de abastecimento disputadas por governos e estabilizam instituições submetidas a pressões históricas sem precedentes.

Num sistema global cada vez mais interligado, as suas decisões determinam quais países e corporações mantêm vantagem estratégica e quais ficam para trás. Ainda assim, apesar de exercerem influência numa escala inédita, o acesso aos níveis mais elevados do poder permanece limitado. A lista expõe, com clareza, não apenas onde as mulheres detêm poder, mas também onde esse poder encontra os seus limites.

TECNOLOGIA

No sector tecnológico, a influência feminina concentra-se nos pontos mais críticos da cadeia de valor. A inteligência artificial desencadeou a maior expansão de infra-estrutura da história corporativa moderna, com gastos anuais superiores a 400 mil milhões de dólares por parte das empresas tecnológicas do S&P 500. O poder, neste contexto, deslocou-se para quem controla essa capacidade.

Lisa Su, CEO da AMD (10.º lugar), gere um dos principais estrangulamentos da indústria global de semicondutores, determinando o ritmo de expansão do ecossistema de IA. As suas decisões influenciam directamente a capacidade das empresas mais avançadas do sector cumprirem as expectativas criadas junto de investidores e governos.

Uma concentração semelhante de autoridade surge em quatro das chamadas Magnificent Seven, cujas dimensões já influenciam os mercados financeiros globais e orientam o progresso tecnológico. Ruth Porat (12.º), na Alphabet; Colette Kress (37.º), na Nvidia; Susan Li (41.º), na Meta; e Amy Hood (16.º), na Microsoft, supervisionam em conjunto mais de oito biliões de dólares em capitalização bolsista. A partir dessas posições, definem o ritmo, a direcção e a estabilidade da expansão da inteligência artificial na próxima década.

À medida que a corrida pela liderança em IA se intensifica, Daniela Amodei (73.º), co-fundadora e presidente da Anthropic, tornou-se uma das poucas mulheres a reunir participação accionista de fundadora e autoridade executiva numa empresa de ponta, avaliada em 183 mil milhões de dólares. Sarah Friar (50.º), CFO da OpenAI, gere o capital da empresa que deu origem a esta nova corrida tecnológica. Embora estas posições estejam a gerar riqueza significativa, o acesso feminino aos cargos de fundação e controlo estratégico continua a ser excepção.

POLÍTICA

Na esfera política, o poder feminino evidencia como a infra-estrutura tecnológica se tornou uma questão de sobrevivência nacional. Sanae Takaichi (3.º) assumiu o cargo de primeira-ministra do Japão num momento em que segurança dos semicondutores, realinhamento da defesa e envelhecimento demográfico convergem para redefinir o equilíbrio de poder no leste asiático.

Na Europa, Ursula von der Leyen (1.º), presidente da Comissão Europeia, e Christine Lagarde (2.º), presidente do Banco Central Europeu, gerem crises simultâneas em energia, defesa e política monetária, determinantes para a coesão do continente.

Na América do Norte, o nearshoring coloca Claudia Sheinbaum (5.º), presidente do México, no centro da reconfiguração industrial regional. Em África, a corrida aos minerais críticos destaca lideranças como a de Netumbo Nandi-Ndaitwah (79.º), primeira-ministra da Namíbia. Apesar de as mulheres governarem apenas três das 25 maiores economias do mundo, lideram em pontos de inflexão decisivos para a ordem geopolítica global.

FINANÇAS

No sector financeiro, o poder manifesta-se como alavanca estrutural. Jane Fraser (8.º), CEO do Citi, consolidou a sua autoridade num período de profunda reestruturação e volatilidade. Tan Su Shan (29.º), CEO do DBS, maior banco do sudeste asiático em activos, molda o acesso ao crédito numa das regiões de crescimento mais acelerado do mundo. No Brasil, Tarciana Medeiros (18.º), presidente do Banco do Brasil, supervisiona uma instituição-chave para o financiamento do agronegócio e das exportações da América Latina. As suas decisões determinam o fluxo — ou a estagnação — do capital e, por extensão, o ritmo de crescimento económico.

OUTRAS INDÚSTRIAS

Noutros sectores estratégicos, as mulheres gerem infra-estruturas das quais os governos dependem, mas que não conseguem operar sozinhos. Gwynne Shotwell (20.º), da SpaceX, assegura a operacionalidade de sistemas críticos para a defesa e a conectividade global.

A lista também evidencia uma transformação menos reconhecida: a consolidação da autoridade cultural como motor económico. Kim Kardashian (71.º) captou 225 milhões de dólares para a Skims, avaliada em cinco mil milhões, e lançou a NikeSKIMS, demonstrando como a influência cultural pode escalar para marcas globais. As “Guerreiras do K-Pop”, animação da Netflix que ocupa o 100.º lugar, ilustram a mesma lógica: o controlo directo sobre audiências globais.

A lista deste ano revela uma verdade essencial: as mulheres operam os sistemas que definirão a próxima década. A sua influência é profunda, estrutural e global, embora a arquitectura do poder continue a limitar o acesso pleno aos níveis de decisão final.

O futuro será moldado por uma escolha decisiva: avançar para uma liderança verdadeiramente partilhada ou continuar a depender das mulheres para estabilizar sistemas que ainda não comandam por inteiro.

Conheça, a seguir, as 10 Mulheres Mais Poderosas do Mundo, segundo a Forbes. Confira a lista completa aqui.

  1. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia

Política e políticas públicas | Bélgica

  1. Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu

Política e políticas públicas | Alemanha

  1. Sanae Takaichi, primeira-ministra do Japão

Política e políticas públicas | Japão

  1. Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália

Política e políticas públicas | Itália

  1. Claudia Sheinbaum, presidente do México

Política e políticas públicas | México

  1. Julie Sweet, presidente do conselho de administração e CEO da Accenture

Negócios | Estados Unidos

  1. Mary Barra, CEO da General Motors

Negócios | Estados Unidos

  1. Jane Fraser, CEO do Citi

Finanças | Estados Unidos

  1. Abigail Johnson, presidente do conselho de administração e CEO da Fidelity Investments Finanças | Estados Unidos
  2. Lisa Su, CEO da AMD

Tecnologia | Estados Unidos

 

 

 

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