Nos últimos dez meses, o Porto do Lobito registou um crescimento de 30% nas operações, resultado da modernização dos terminais e do novo modelo de gestão. O seu presidente, Celso Rodrigues de Lemos Rosas, destaca o impacto dos investimentos em tecnologia, capital humano e eficiência operacional, e analisa o papel do porto no corredor que promete transformar o comércio regional. À FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, o gestor destaca também o papel estratégico da infra-estrutura para o futuro económico da região.
Que balanço faz destes dez meses de actividade do Porto do Lobito em 2025?
Ao longo destes dez meses, o Porto tem funcionado normalmente, assegurando todas as operações num ambiente de plena segurança operacional. É importante lembrar que estamos diante de uma infra-estrutura com 97 anos de existência, um porto que, pela sua história e dimensão, tem hoje a obrigação de ser totalmente seguro. O Porto do Lobito é hoje um porto aberto ao mundo, um porto do mundo e para o mundo. Neste período, atendemos mais de 300 navios, com destaque para embarcações que transportaram cargas diversas, incluindo contentores. Estes números confirmam a nossa satisfação, pois registámos um crescimento de cerca de 30% nas operações em relação a 2024.
E quanto ao volume de carga movimentada?
Entre Janeiro e Outubro movimentámos mais de 850 mil toneladas de carga, o que nos permite estimar um resultado final superior ao do ano passado, quando atingimos cerca de 1,6 milhões de toneladas. Estes números são encorajadores e refletem o crescimento sustentado do Porto, que tem vindo a elevar a sua eficiência – um dos objectivos centrais de qualquer gestor portuário. Queremos que os navios fiquem o menor tempo possível atracados, e isso só se consegue com eficiência operacional.
Essa melhoria está relacionada com as concessões feitas há um ano?
Sem dúvida. Antes do processo de concessões, o Porto do Lobito geria directamente os seus terminais. Há cerca de um ano, concessionámos o Terminal Polivalente, à Africa Global Logistics (AGL), responsável pelas cargas gerais e contentorizadas, e o Terminal Mineiro, entregue à LAR – Lobito Atlantic Railway. A nossa grande satisfação é ver que esses concessionários imprimiram uma nova dinâmica às operações. Os resultados são visíveis: aumento da produção, maior produtividade e um desempenho global mais competitivo. Estes indicadores demonstram que valeu a pena a assinatura dos contratos.
Que tipo de investimentos estão a ser feitos pelos concessionários?
Temos assistido a investimentos significativos em equipamentos e tecnologia. Foram adquiridas novas gruas, empilhadeiras e outros meios logísticos que optimizam o desempenho das operações. Além disso, há uma forte aposta na automação dos processos através de tecnologias de informação, o que eleva a produtividade e reduz o erro humano. Outro aspecto essencial é o investimento no capital humano. Os concessionários têm promovido formações técnicas e operacionais em todos os níveis, garantindo equipas mais capacitadas e alinhadas com as exigências de um porto moderno. Tudo isto contribui para a melhoria contínua dos processos e para uma cultura de desempenho.
“Concessionar foi a decisão certa (…). o Porto do Lobito está mais produtivo e competitivo.”
O Porto também tem dado ênfase à transparência e sustentabilidade. Em que ponto está essa agenda?
Esse é um pilar fundamental. O Porto do Lobito é hoje membro do Pacto Global das Nações Unidas, o que reflecte o nosso compromisso com práticas de gestão transparentes, participativas e responsáveis. Promovemos um ambiente de trabalho em que os colaboradores se sentem parte activa da organização, com liberdade para opinar, sugerir e participar. Isso aumenta o sentido de pertença e traduz-se em melhores resultados. Além disso, o Porto é certificado pelas normas ISO 9001, 14001 e 45001, que atestam o nosso compromisso com a qualidade, o meio ambiente e a segurança no trabalho. É um sinal claro de que estamos focados na melhoria contínua.
E quanto ao desempenho financeiro? O Porto está a crescer também em lucros?
Naturalmente. Se a produção e a produtividade aumentam, o lucro acompanha essa tendência. Nenhuma organização é criada para não gerar resultados positivos. No ano passado facturamos cerca de 13 mil milhões de kwanzas e, este ano, queremos superar esse valor entre 15% e 20%, numa trajectória de crescimento gradual, mas sustentada. Trabalhamos para garantir que cada ciclo operacional seja mais rentável que o anterior.
Qual é o papel estratégico do Porto no Corredor do Lobito?
O Porto do Lobito é o principal elo intermodal entre a ferrovia e o transporte marítimo no Corredor do Lobito. Somos a porta de entrada e saída de mercadorias que circulam nesta vasta região centro-sul de Angola e nos países vizinhos. A funcionalidade do corredor é hoje uma realidade. Durante anos houve cepticismo quanto à sua operacionalidade, mas o Porto do Lobito é a garantia fiel do seu funcionamento. O corredor liga o Atlântico à República Democrática do Congo, numa extensão ferroviária de 1.289 quilómetros, e serve também a Zâmbia.
O que torna o Corredor do Lobito competitivo no contexto africano?
A combinação entre a ferrovia e o porto é o que garante a viabilidade e a eficiência deste corredor. Para os operadores da Europa, dos Estados Unidos ou da Ásia que pretendem transportar minérios e outras mercadorias, o Corredor do Lobito é a opção mais rápida, mais segura e menos custosa. É isso que nos posiciona como uma plataforma logística de referência regional, capaz de impulsionar o comércio intra-africano e o investimento internacional.





