Soud Ba’alawi é o executive chairman da empresa global de investimentos Enspire Group, tendo conduzido durante mais de 30 anos investimentos estratégicos sobretudo nos Emirados Árabes Unidos e Dubai. Sendo dele a máxima de que “tendemos a pensar nos desafios como riscos, mas não correr riscos é o maior dos riscos”, Soud Ba’alawi veio falar no Forbes África Lusófona Annual Summit Angola 2024 de como pode tornar-se Angola um grande destino de turismo mundial, a partir da sua experiência no Dubai.
“Será um trabalho difícil que vos espera, já disse isso ao ministro do turismo de Angola”, afirmou no início de um discurso disruptor que acabou por suscitar forte entusiasmo da parte dos presentes pelas mensagens veiculada.

Soud Ba’alawi entende que Angola tem um grande potencial, graças aos seus recursos e belezas naturais. “Mas o que é mais importante e o que é mais crítico é desenvolver uma estratégia de desenvolvimento. Percebendo que num resultado que se quer alcançar, 95% diz respeito a planear e 5% diz respeito à execução”.
Este analista diz que “nada acontece se não existir uma estratégia definida que seja mobilizadora”.
Se Angola quer apostar no turismo, “precisa de definir uma estratégia que possa ser partilhada por todos os ministérios. Partilhar objetivos, trabalhar em conjunto, segundo uma visão holística. E é com isto que podem alcançar algo no turismo”, insiste.

Nesse contexto, em matéria de turismo, este especialista falou na realidade do Dubai, onde “não há um ministério do turismo, pois o turismo é encarado como um esforço coletivo por parte do governo no seu todo, que abrange todos os ministérios”. Em Angola, apesar da organização do governo ser diferente, havendo um ministro de turismo “a quem eu já disse que terá uma tarefa muito difícil e não queria estar no seu lugar”, Soud Ba’alawi transmitiu algumas linhas mestras de orientação, de acordo com o seu know-how.
“Uma das coisas que fizemos no Dubai foi criarmos um cluster em torno da estratégia que definimos. Criámos economias dentro da lógica de uma economia maior que idealizamos. Criamos setores estratégicos para atrair trabalhadores qualificados. E com trabalhadores qualificados atraímos pessoas e capital”, diz Ba’alawi que refere ainda terem sido criadas “free zones” para os empresários poderem montar negócios de forma mais responsiva: “É algo que Angola poderia desenvolver, pois as ‘free zones’ que têm ainda estão longe das que há no Dubai e nos UAE”.

“Há 40 anos, o Dubai era apenas um deserto. Tínhamos algum petróleo e pouco nada. Nem sequer sabíamos falar inglês. Hoje, é completamente diferente”, em virtude da estratégia adotada, sublinha este perito que destaca o facto de os angolanos terem um potencial de riquezas naturais único: “Têm pessoas, recursos naturais, têm tudo o que Deus deu a Angola. O que se faz à terra e às pessoas assim determinará o que vai acontecer. Se se desenvolver talento e se se criarem oportunidades, as coisas vão acontecer”.
Soud Ba’alawi lembrou na conferência organizada pela Forbes África lusófona “que o turismo é uma grande indústria a nível mundial e Angola tem de perceber que não está sozinha neste mercado concorrencial do turismo, enfrentando grandes países e destinos. Competem com países com uma grande força turística. Logo, como vão fazer?”, perguntou para, de seguida, responder: “Têm de encontrar algo que vocês têm que os outros não têm”.
Ba’alawi deu mesmo uma sugestão: a partir dos recursos de Angola “que outros não têm, podiam criar algo à volta da indústria da energia, para, a partir daí, tudo começar a acontecer. Criar um marketplace em trono de energia, por exemplo, pois não há nenhum pais africano a fazer isso”.
“Têm de encontrar algo que vocês têm que os outros não têm”
Ba’alawi repetiu várias vezes a ideia de que os angolanos “têm de definir aquilo pelo qual pretendem que Angola seja conhecida no mundo. Têm todos os ingredientes. Precisam é de implementar uma estratégia única e diferente que pode posicionar Angola de forma competitiva”.

Para este investidor, o branding também é essencial, pelo que na estratégia a criar tem, igualmente, de estar contemplada uma identidade de marca para o país: “Encontrem qual é a vossa brand identidade, aquilo pelo qual querem que Angola seja conhecida, aquilo que você tem que mais ninguém tem”.
“É preciso que venham pessoas e injetem propósitos”
Outro aspeto sublinhado por Ba’alawi que está por trás do êxito do Dubai é a comunidade estrangeira: “No UAE nunca tivemos medo de estrangeiros, no Dubai, nem os vimos como colonizadores. Se vierem para cá a terra é nossa. Os edifícios estão aqui. No UAE passamos a ter 10 milhões de pessoas no espaço de uma década, um milhão dos quais apenas locais. Angola tem 22 milhões de habitantes. Vocês não têm todo o talento, nem vocês nem nenhum país do mundo. A minha sugestão é encontrarem forma de terem pelo menos um milhão de pessoas estrangeiras nos próximos 3 a 4 anos. É preciso que venham pessoas e injetem propósitos. Precisam de talento, não é de dinheiro. O dinheiro vem depois por consequência. E isso vai mudar Angola. Com os recursos que têm, podem ser uma referência em África”.